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COMPARTILHANDO
LEITURAS: DIVINAS AVENTURAS
Alda
Regina Tognini Romaguera - Unip/Campinas
HISTÓRICO – Ou: pra começo
de conversa
Este trabalho nasce da reunião entre uma necessidade
e um encontro. A necessidade, sozinha, poderia gerar propostas outras,
pois freqüentemente acompanhamos múltiplas tentativas isoladas
na área educacional. O encontro, desvinculado da urgência,
também semearia boas idéias, talvez para futuras concretizações
de muitos sonhares. Foi preciso reunir desejo e ocasião, faca e
queijo, fome com vontade de comer, trabalho com vontade de fazer, e...
Três professoras num mesmo lugar. Estavam criadas as condições
para dar forma e conteúdo a um percurso, antes apenas sonhado em
muitos e solitários vôos.
Esta proposta de trabalho foi realizada com alunos cursando a 3ª
série do Ensino Fundamental I, em escola da rede particular de
ensino, na cidade de Campinas. Faz parte de um trabalho mais amplo de
reformulação curricular proposto para as quatro séries
iniciais do Ensino Fundamental.
Foi concebida para atender a reflexões de um grupo de professoras,
que tinham por desafio pensar em composições curriculares
diferenciadas, para atender tanto aos apelos institucionais – conteúdos
que promovessem aprendizagens significativas – quanto às
questões recorrentes entre alunos desta faixa etária, entre
nove e dez anos de idade.
Por volta dos dez anos, a criança passa a perceber o mundo ao seu
redor de uma forma mais ampla, num processo em que o egocentrismo está
sendo superado, dando espaço à vontade de saber. Começam
a surgir questões que a levarão a elaborar conceitos sobre
a realidade em que está inserida. Uma das indagações
recorrentes é: “Como será que os diferentes povos
explicaram essa realidade, antes de terem acesso ao conhecimento científico?”
Nesta etapa, as crianças mostram-se interessadas por temas mais
abrangentes e começam a questionar-se a respeito dos surgimentos
ou origens: da vida, do universo, dos objetos, e seus significados. Esta
abordagem evidencia ideologias arcaicas, multisseculares, que trabalham
com entidades como o Mal, o Bem, o Homem. Ao oferecer estas leituras,
pode-se proporcionar às crianças a explicação
mítica e a explicação científica a respeito
dos temas.
A observação dessa curiosidade infantil, que alguns autores
atribuem ao fato de que o pensamento mitológico encontra-se mais
próximo à criança que as explicações
científicas; a paixão pela leitura que caracteriza este
grupo de professoras e a urgência de uma reorganização
curricular, traçaram em conjunto os contornos desta proposta temática.
A ESCUTA DE LEITURA: FRUIÇÃO DO OUVIR
Para inaugurar esta unidade de trabalho, propôs-se
a leitura de “Divinas Aventuras”, levando o grupo a entrelaçar
descobertas e perceber esse jeito especial de explicar fenômenos,
através da linguagem, da história imaginada e contada. A
narrativa de mitos vêm de encontro a um desejo interno das crianças
que nesta fase começam a indagar-se a respeito das questões
mais amplas, tais como: Quem sou? Como vim parar aqui? Como esse mundo
se formou? Onde tudo começou? Como? Quando?
A estratégia inicial consistia em compor uma atmosfera de novidade,
mantendo o grupo suspenso pelo interesse e envolvimento. O livro era oferecido
como um evento, um acontecimento. Poderia ser recebido pelo grupo como
uma surpresa, resultante de uma festa, um momento especial. Poderia vir
embalado para presente, ou após um desafio/jogo, como prêmio.
Apresentava-se ao grupo pela voz da professora, num momento de escuta
de leitura, para ser degustado, aos poucos, às vezes um pouquinho
por dia, freqüentemente na roda.
As leituras de roda se constituem como um privilegiado espaço de
leitura, na medida em que proporcionam a interação participativa
dos membros que a compõem. Qual a relação que se
estabelece entre professora/leitora e alunos/ouvintes, nestes momentos?
Estamos isolados pela narrativa, ou realmente vivenciamos uma leitura
compartilhada?
Esta prática revela que a experiência da troca se dá
após a leitura, nos debates que ela suscita. Tão importante
quanto ler para as crianças, é dar voz a elas, após
esta escuta de leitura. É neste espaço que se coloca sua
compreensão subjetiva, e o conseqüente compartilhamento de
nossas experiências.
Durante as discussões, o trabalho foi crescendo e tomando corpo.
As crianças demonstravam interesse cada vez maior pelas aventuras
narradas, que foram gerando outros questionamentos e ampliando leituras.
Junto a esse interesse, encaminhou-se a pesquisa sobre a cidade, oferecendo-se
leituras e trabalhos de grupo para reunir dados, organizar descobertas,
apropriando-se do conhecimento. Valeu tudo: revistas informativas, Internet,
jornais, enciclopédias, registros antigos, material oferecido pelos
pais, enfim, quanto maior a exploração de material, mais
eficiente o processo de troca.
Outras atividades estavam permeando este assunto, em outras áreas:
os livros que se acoplaram a esta proposta contribuíram para a
busca de relações, como a comparação dos costumes
da antiguidade e da atualidade.
Como o assunto estava fazendo parte do cotidiano, foram daí encaminhadas
produções escritas e todos fizeram registros de mitos, desenharam
sua percepção dos personagens, trabalharam com elementos
de compreensão dos textos e também fizeram estudos sobre
alguns aspectos da linguagem.
O DEBATE: ORQUESTRAÇÃO DE VOZES
O que considero fundamental neste trabalho é revelar
o quanto a ensinagem se processa em todos os seres envolvidos, independentemente
de sua idade ou função. Quando acontece na instituição
escolar, está vinculada a uma série de regras e padrões
que a legitimam enquanto "lugar de saber", encarregada de divulgar
o conhecimento sistematizado. Para além desta constatação,
está o fato de que a ensinagem acontece entre pessoas envolvidas
em uma dada realidade, reunidas em torno de um objetivo comum. Sendo assim,
torna-se fundamental dedicar uma parte de sentido organizacional desta
função - a escolar - para captar o movimento subjetivo que
ocorre durante o contato com alunos.
Fazer leituras, assim, assume um caráter ampliado: das páginas
de um livro, à interpretação de um filme, à
decodificação de fórmulas, à sensibilidade
musical e às manifestações artísticas, dos
sentimentos, dos significados ocultos de determinados comportamentos.
Como propor aos alunos "realizar leituras significativas", se
não nos damos conta do seu verdadeiro significado?
Ao planejar esta unidade para organizar outros anos letivos, optou-se
por tematizar dois grandes blocos de investigação: “Cotidiano
e História” e “A cultura grega”. O objetivo foi
proporcionar dois enfoques de investigação, centrando as
aulas, num primeiro momento, na construção do conceito de
cidade, estabelecendo comparações entre a cidade antiga
e a atual. Para o segundo bloco, a relação com o cotidiano
se tornou mais relevante. Os dados deste planejamento podem ser observados
nas tabelas abaixo.
COTIDIANO
E HISTÓRIA
OBJETIVOS
|
ATIVIDADES
|
AVALIAÇÃO
|
RECURSOS
|
Investigar a formação da
cidade de Campinas: aspectos históricos e culturais.
Visualizar a história de
Campinas a partir de uma linha do tempo.
Entender como era a vida
na Grécia Antiga.
Comparar a vida de hoje à
vida na Grécia Antiga.
Refletir, discutir e reconhecer
a influência da Mitologia Grega na nossa cultura e na nossa vida
diária.
Conhecer a história da tabuada:
Pitágoras.
Aplicar a tabuada em diferentes
situações-problema.
Recorrer à tabuada para solucionar
situações da vida diária.
Produzir textos a partir
das propostas dadas.
Apropriar-se da linguagem
culta.
Diferenciar linguagem culta
e coloquial.
Usar corretamente os pronomes
pessoais do caso reto e oblíquo.
Relacionar mais/mas à língua
inglesa, usando-os corretamente nas frases. |
Elaborar linha do tempo da cidade de Campinas
a partir de informações coletadas.
Leituras de livros relacionados ao tema e de
outras obras retiradas na Biblioteca da escola e de classe.
Leituras da professora nas aulas de Biblioteca.
Leituras individuais das obras ligadas ao projeto.
Compreensão, interpretação e produção de texto.
Comparações de diversos aspectos da vida diária:
atualmente X Grécia Antiga.
Multiplicações da tabuada formal e por 10,
100 e 1000.
Problemas envolvendo multiplicações: montagem
do algoritmo e resposta completa.
Relatos de fatos da vida diária, comparando-os
com os vividos por uma pessoa na Grécia Antiga.
Transcrição de frases da linguagem coloquial
para a culta.
Reescrever frases substituindo os substantivos
pelos pronomes mais adequados.
Ler e interpretar texto relacionado à Proclamação
da República.
Reescrever frases substituindo os substantivos
pelos pronomes mais adequados.
|
Análise
do texto escrito: paragrafação, pontuação de diálogo, uso de pronomes,
linguagem culta, organização gráfica e ortografia das palavras
trabalhadas durante o ano.
Reescrita
de frases adequando corretamente os pronomes.
Escolher
corretamente entre mas/mais na frase dada.
Apresentar
as etapas de solução de um problema envolvendo a multiplicação
(algoritmo e resposta).
Entregas
de tarefas completas nas datas previstas.
Participação
em discussões com argumentação baseada nos textos lidos de temas
propostos envolvendo questões sobre Mitologia Grega e a relação
com a nossa cultura e vida em Campinas.
Reescrita
de texto com as correções apontadas pelo professor.
Leitura
em voz alta do texto produzido respeitando a proposta dada.
|
Atividades xerocadas da pasta de projetos.
“Odisséia” – adaptação de Ruth Rocha – Cia.
das Letrinhas
“Como seria sua vida na Grécia Antiga?” – Fiona
Macdonald – Scipione
“Divinas Aventuras” – Heloisa Prieto – Cia.
das Letrinhas
“Dicionário de Mitologia Grega” – Juanito de
Souza
“Revista Ciência Hoje das Crianças” – SBPC
“Dicionário e Mini-dicionário” – vários autores
Visita ao Museu Dinâmico de Ciências – Planetário
– Lagoa do Taquaral
|
A
CULTURA GREGA
OBJETIVOS
|
ATIVIDADES
|
AVALIAÇÃO
|
RECURSOS
|
Trabalhar
com a definição de Mitologia.
Envolver-se
com histórias da Mitologia Grega
inclusive representadas no Planetário do
Museu Dinâmico de Ciências.
Ler
livros referentes ao tema envolvendo na
mesma
obra toda a classe.
Reconhecer
diferentes deuses da Mitologia.
Refletir,
discutir e reconhecer a
influência
da Mitologia Grega na nossa
cultura e na Astronomia.
Realizar
leituras semanais (classe e biblioteca).
Recorrer
à tabuada para solucionar situações
da
vida diária.
Produzir
textos a partir das propostas dadas.
Comemorar
a data: Carnaval no Brasil.
Apropriar-se
da linguagem culta.
Diferenciar
linguagem culta e coloquial.
Usar
corretamente os pronomes pessoais
do
caso reto e oblíquo.
Relacionar
mais/mas à língua inglesa, usando-os corretamente nas frases.
|
Leituras de livros relacionados ao tema e de
outras obras retiradas na Biblioteca da escola e de classe.
Leituras da professora nas aulas de Biblioteca.
Leituras individuais das obras ligadas ao projeto.
Compreensão, interpretação e produção de texto.
Problemas envolvendo multiplicações: montagem
do algoritmo e resposta completa.
Assistir e debater as apresentações:
“Mitologia e Astronomia” – Planetário
“Os nomes dos Planetas” – Power Point
Montagem de cartazes a partir dos temas: “Definição
de Mitologia” e “Deuses da Mitologia Grega”.
Reescrever frases substituindo os substantivos
pelos pronomes mais adequados.
Representação através de desenhos das mutações
da medusa e de deuses da Mitologia Grega.
Pesquisa sobre a vida no mar especificando
curiosidades sobre os cavalos-marinhos.
Participação nas Assembléias referentes às
datas comemorativas.
Representação através de desenhos das mutações
da medusa e de deuses da Mitologia Grega.
|
Análise
do texto escrito: paragrafação, pontuação de diálogo, uso de pronomes,
linguagem culta, organização gráfica e ortografia das palavras
trabalhadas durante o ano.
Reescrita
de frases adequando corretamente os pronomes.
Escolher
corretamente entre mas/mais na frase dada.
Apresentar
as etapas de solução de um problema envolvendo a multiplicação
(algoritmo e resposta).
Entregas
de tarefas completas nas datas previstas.
Reescrita
de texto com as correções apontadas pelo professor.
Leitura
em voz alta do texto produzido respeitando a proposta dada.
|
Atividades xerocadas da pasta de projetos.
“Odisséia” – adaptação de Ruth Rocha – Cia.
das Letrinhas
“Como seria sua vida na Grécia Antiga?” – Fiona
Macdonald – Scipione
“Divinas Aventuras” – Heloisa Prieto – Cia.
das Letrinhas
“Dicionário de Mitologia Grega” – Juanito de
Souza Brandão
“Revista Ciência Hoje das Crianças” – SBPC
“Dicionário e Mini-dicionário” – vários autores
Visita ao Museu Dinâmico de Ciências – Planetário
– Lagoa do Taquaral
Apresentação em Power Point: “Mitologia e Astronomia”
Disquetes individuais dos alunos com cópias
das apresentações
Vídeo: “Fúria de Titãs”
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A ESCRITA:
SIGNIFICAÇÃO TEXTUAL
Benjamin,
no texto O narrador, nos diz que "Narrar é a faculdade de
intercambiar experiências". Busco em Larrosa a dimensão
da palavra experiência e a encontro ligada à idéia
daquilo "que nos acontece, que nos toca, que nos passa". Vai
buscar em Benjamin e em Heidegger esta definição para
alargar o conceito de experiência, servindo-se da metáfora
da palavra "pirata". Escreve-nos Larrosa, a respeito do sujeito
da experiência: "...tem algo desse ser fascinante que se
expõe atravessando um espaço indeterminado e perigoso,
pondo-se nele a prova e buscando nele sua oportunidade, sua ocasião".
Reparo aqui que, para Benjamin, "Os camponeses e os marujos foram
os primeiros mestres na arte de narrar e os artífices a aperfeiçoaram.
(...) A coordenação da alma, do olhar e da mão,
constituem afinidades singulares do artesão e do narrador. (...)
O narrador é a figura na qual o justo se encontra consigo mesmo."
Para Benjamin, "a natureza da verdadeira narrativa é sua
dimensão utilitária: ensinamento moral, sugestão
prática, provérbio, norma de vida. O narrador é
um homem que sabe dar conselhos. Aconselhar é fazer uma sugestão
sobre a continuação de uma história: sabedoria”.
Justifica-se assim a pulsão humana de narrar e reunir ouvintes,
em torno de uma história. Para ele, o tédio representa
a distensão psíquica que permite o dom de ouvir e forma
a comunidade dos ouvintes. A epopéia, a poesia épica,
é a narrativa oral por excelência.
Continua Benjamin:
O conto de fadas é ainda hoje o primeiro conselheiro das crianças,
porque foi o primeiro da humanidade, e sobrevive, secretamente, na narrativa.
O primeiro narrador verdadeiro é e continua sendo o narrador
de contos de fadas. Esse conto sabia dar um bom conselho, quando ele
era difícil de obter, e oferecer sua ajuda, em caso de emergência.
Era a emergência provocada pelo mito. O conto de fadas nos revela
as primeiras medidas tomadas pela humanidade para libertar-se do pesadelo
mítico. O conto de fadas ensinou há muitos séculos
à humanidade, e continua ensinando hoje às crianças,
que o mais aconselhável é enfrentar as forças do
mundo mítico com astúcia e arrogância, dialetizando
a coragem.
Retomo
o fio de Larrosa para tecer considerações a respeito da
experiência possível no ambiente escolar. A experiência,
quase ausente de nosso cotidiano, pode nos acontecer quando podemos
parar. Parar o tempo, o trabalho, a atenção, colocar-nos
em "posição de tédio" para nos deixar
afetar pelas leituras e olhares em torno do mundo.
Com este propósito, ou seja, com a intenção de
oferecer espaços de experiências para crianças,
é que dedico à leitura compartilhada - aquela que provoca
mudanças - um tempo de minhas aulas. Tempo roubado do currículo
para provocar e fazer diferença na vida, nas nossas vidas.
Para que, daqui a um tempo, não sei quanto, em algum lugar, não
sei onde, alguém retome este fio e continue a contar uma história,
porque:
A narrativa é uma forma artesanal de comunicação;
arte artesanal - ofício manual; ela mergulha a coisa na vida
do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime
na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila
do vaso.
BIBLIOGRAFIA
BARTHES,
R. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 1996.
BENJAMIN, W. O narrador. In Magia e técnica, arte e política.
São Paulo: Brasiliense, 1985.
FONTES, J.B. O livro dos simulacros. Florianópolis: Clavicórdio,
2000.
FONTES, J.B. As obrigatórias metáforas – Apontamentos
sobre literatura e ensino. São Paulo: Iluminuras, 1999.
HESÍODO. Teogonia - A origem dos deuses. Tradução
Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995.
________ Os trabalhos e os dias. Tradução Mary C. N. Lafer.
São Paulo: Iluminuras, 1996.
HOMERO. Odisséia. Tradução Jaime Bruna. São
Paulo: Cultrix, 1997.
LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo:
Ática, 1997.
LARROSA, J. Pedagogia Profana - Danças, piruetas e mascaradas.
Tradução Alfredo V. Neto. Belo Horizonte: Autêntica,
1999.
___________. Nota sobre a experiência e o saber da experiência.
In Leituras SME no 04, Campinas: julho / 2001.
LOBATO, M. História do mundo para crianças. São
Paulo: Brasiliense, 1972.
MACDONALD, F. Como seria sua vida na Grécia antiga? São
Paulo, Scipione, 2001.
MACHADO, A.M.(tradução) A Criação do Mundo
- Mitos e Lendas. São Paulo, Ática, 1996.
PHILIP, N. Livro Ilustrado de Mitos. Contos e Lendas do mundo. São
Paulo, Civilização, 1996.
PRIETO, H. Divinas Aventuras – histórias da mitologia grega.
São Paulo, Cia das Letrinhas, 1997.
ROCHA, R. Odisséia. São Paulo, Cia das Letrinhas, 2000.
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