Elizabete Maria Reginato Sana - UNESP
Gilza Maria Zauhy Garms - UNESP
Introdução.
Investigar a construção da identidade das
educadoras de creche e a profissionalização do cuidar e
do educar no âmbito da Universidade Pública, constitui o
propósito desta pesquisa, que visa analisar opções,
motivações, expectativas e a satisfação daqueles
que trabalham com crianças pequenas, em especial das professoras
da Educação Infantil dos Centros de Convivência Infantil
da Unesp – CCI’s/Unesp, diante do atual processo de transição
e definição da identidade profissional destas educadoras,
que pode oscilar entre os papéis ainda não muito bem definidos
de mãe (relacionado à família) ou de professora (relacionado
à prática exercida no ensino fundamental).
A pesquisa insere-se em um contexto que busca caracterizar a profissionalidade
das educadoras dos CCI’s/Unesp, redefinindo seu papel diante da
própria Universidade e da sociedade em geral, assim sendo, é
indispensável que se considere o fator referente à formação
inicial e continuada adequada aos profissionais da educação
infantil, e portanto às educadoras dos CCI´s/Unesp, contemplando
cuidado e educação na mesma instituição, através
de um trabalho que vise o bem-estar infantil, familiar e social. Um trabalho
pedagógico que integre cuidar e educar, é essencial para
que a criança sinta-se segura, possa trabalhar suas emoções,
construir e reformular suas hipóteses sobre o mundo e sobretudo,
elaborar sua própria identidade.
Contextualizando os CCI’s/ Unesp e a Nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96).
A implantação dos Centros de Convivência
Infantil da UNESP ocorreu gradativamente, sendo instituída através
da Portaria UNESP no 70, de 19/01/82, devido à pressão de
servidores (técnico-administrativos e docentes), buscando atender
as reivindicações apresentadas pelos funcionários
quanto a um local adequado e seguro em que pudessem deixar os filhos durante
seu período de trabalho. As Unidades encontram-se distribuídas
em quase todos os campi da UNESP, perfazendo o total de 14 Centros de
Convivência Infantil.
Cada Unidade foi criada de forma individual, atendendo e adequando-se
às características de cada campus. A história de
cada CCI constituiu-se particularmente naquilo que se refere a espaço
físico, clientela, recursos financeiros e contratação
de funcionários.
A implantação das Unidades obedecia alguns critérios
estabelecidos pela Reitoria da Universidade, dentre os quais encontram-se:
espaço físico suficiente, renda familiar dos interessados,
demanda de, no mínimo, 30 crianças com idade adequada para
freqüentar o CCI (que atende crianças de 4 meses a 6 anos
e 11 meses) e quadro de profissionais a ser contratado.
O CCI deveria ser coordenado por um pedagogo, assistente social ou psicólogo,
com nível superior completo. No que se refere à formação
dos demais profissionais e o atendimento das crianças, o Regimento
dos CCI’s/UNESP, aprovado pela Portaria UNESP no 49 de 07/03/96,
dispõe dos seguintes princípios:
? Os CCI’s “têm por objetivo proporcionar a prestação
de serviços necessários ao acolhimento, ao atendimento e
à socialização de crianças de até 07
(sete) anos de idade, filhos ou dependentes legais de servidora (técnico-administrativa
e docente) da Unesp, que esteja no exercício de suas funções”.
(art. 1º)
? Os CCI’s dispõem para realização de suas
atividades, do coordenador de creche; auxiliar de enfermagem; recreacionista;
auxiliar de recreacionista; cozinheiro; auxiliar de cozinha; auxiliar
de serviços gerais; auxiliar administrativo. (art. 7º) Entre
as funções presentes não se incluem as de professor
ou educador. Também não foram específicos dessas
funções, os requisitos prévios exigidos em termos
de formação.
? De conformidade com o Título VII do Regimento dos CCI’s
– “Do Atendimento e Assistência” – evidencia-se
que os CCI’s são limitados, em seus objetivos, fundamentalmente
a “alimentar”, “higienizar” e “cuidar”.
Ou seja, não prevê o educar como atividade presente nas Unidades.
Em âmbito nacional, a Constituição de 05 de Outubro
de 1988, põe fim à discussão sob o caráter
opcional da educação infantil, por parte do Estado, garantindo,
assim o atendimento em creches e pré-escolas às crianças
de 0 a 6 anos de idade. A Nova Lei de Diretrizes e Bases, fixada em decorrência
da Constituição de 1988 (Lei 9394/96), reconheceu a educação
infantil como primeira etapa da educação básica,
destinando-lhe vários artigos, entre eles, aqueles referentes à
formação dos docentes e ao oferecimento de creches e pré-escolas
destinadas ao atendimento das crianças de 0 a 6 anos de idade tais
como:
Art. 29 – A educação infantil, primeira etapa da educação
básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança
até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social, complementando a ação da família
e da comunidade.
Art. 30 – A educação infantil será oferecida
em:
I. creches ou entidades equivalentes, para crianças até
3 anos de idade;
II. pré-escolas para as crianças de quatro a seis anos de
idade.
Art. 62 - A formação de docentes para atuar na educação
básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura,
de graduação plena, em universidades e institutos superiores
de educação, admitida, como formação mínima
para o exercício do magistério na educação
infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a
oferecida em nível médio na modalidade Normal.
Com isso, se fixa, também como profissional responsável
pelo atendimento às crianças de zero a seis anos, em creches
e pré-escolas, o professor, estabelecendo o sentido de profissionalidade
à educação infantil, até então indefinida
pela possibilidade de vincular-se apenas ao cuidar, e não ao educar.
Consolidam-se também as creches e pré-escolas, mesmo que
distintas, como instituições educativas, caminhando para
a superação da dicotomia existente entre cuidado e educação.
Atualmente, o que se busca é a articulação entre
cuidado e educação, redefinindo estes dois termos e integrando-os
na principal meta da Educação Infantil, que constitui em
mediar o desenvolvimento sóciocultural das crianças.
Assim sendo, as Diretrizes Curriculares Nacionais (Parecer 22/98) estabelece
que:
Uma política nacional para a infância é um investimento
social que considera as crianças como sujeitos de direitos, cidadãos
em processo e alvo preferencial de políticas públicas. A
partir desta definição, além das próprias
crianças de 0 a 6 anos e suas famílias, são também
alvo de uma política para a infância, os cuidados e a educação
pré-natal voltados aos futuros pais.
A razão das unidades de educação infantil existirem
é oferecer respostas a demandas e desafios colocados para a educação
infantil pública, caracterizando-se, além de campo para
educação de crianças, um espaço de formação
acadêmica e profissional que produza e socialize conhecimentos,
considerando-se que a universidade tem como objetivo formar pesquisadores
e profissionais para o mercado de trabalho que sirvam à sociedade,
ela tem nas unidades de educação infantil mais um lugar
a oferecer subsídios teóricos e práticos, um lugar
que possibilite uma articulação teórica e prática
do que seria o trabalho de educação em um determinado nível.
Tendo por princípio uma política nacional voltada à
infância, pressupõe-se a necessidade de estabelecerem-se
critérios que priorizem aspectos físicos, emocionais, afetivos,
cognitivos e sociais, levando ao desenvolvimento das crianças de
0 a 6 anos de idade e não apenas a uma preparação
para a vida escolar, como prevêem as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil:
As próprias crianças pequenas apontam ao estado, à
sociedade civil e às famílias a importância de um
investimento integrado entre as áreas de educação,
saúde, serviço social, cultura, habitação,
lazer e esportes no sentido de atendimento a suas necessidades e potencialidades,
enquanto seres humanos. (p.7)
Quando a referência é a respeito das crianças menores
de 4 anos de idade, deve-se ter em mente quais concepções
norteiam o trabalho realizado nas instituições de Educação
Infantil pelas profissionais que lá atuam. Por um lado, essa fase
do desenvolvimento infantil está sendo reconhecida socialmente
e vêm repercutindo na legislação atual, mas por outro
levanta-se o questionamento a respeito da formação que estas
profissionais estão recebendo: torna-se questionável se
essa formação será realmente capaz de formar uma
educadora - professora de crianças de 0 a 4 anos de idade (segmento
creche). Acredita-se que o momento exige a re(significação)
do papel destas profissionais e a re(construção) de suas
identidades, tomando como princípio à profissionalização
do cuidar e do educar diante da ambigüidade que acaba prevalecendo
nas instituições de Educação Infantil.
Considerando que a universidade tem como objetivo formar pesquisadores
e profissionais para o mercado de trabalho que sirvam à sociedade,
ela tem nas unidades de educação infantil mais um lugar
a oferecer subsídios teóricos e práticos, um lugar
que possibilite uma articulação teórica e prática
do que seria o trabalho de educação em um determinado nível.
Logo, a razão de as unidades de Educação Infantil
existirem é oferecer respostas a demandas e desafios colocados
para a educação infantil pública, caracterizando-se,
além de campo para educação de crianças, um
espaço de formação acadêmica e profissional
que produza e socialize conhecimentos.
Contudo, se concebermos o contexto do conjunto das unidades de Educação
Infantil na UNESP, os desafios para que elas contribuam para a excelência
acadêmica das universidades, integrando os princípios norteadores
de uma política de educação superior desejada para
nosso país, são inúmeros.
Desafios encontrados Pós - LDB 9394/96.
Partindo da premissa que os CCI’s da Unesp terão
que sofrer ajustes, por encontrarem-se em confronto com a Nova LDB, no
que diz respeito aos objetivos, organização, conteúdo
curricular e requisitos de formação de seus profissionais,
buscamos identificar o sentido de profissionalidade dos seus educadores,
tomando como referencial principalmente a formação continuada
destes profissionais. Trata-se de conhecer quais os fatores que influenciam
na formação de professores, quais as dificuldades de seu
fazer pedagógico e o seu conhecimento em relação
aos fundamentos básicos de sua atuação, que deve
ser baseada em uma formação que articule a diversidade de
conceitos trabalhados nos programas de capacitação inicial
e continuada e sua prática profissional cotidiana. Para Kramer
(2003):
Nesse contexto, precisamos de professores dispostos a repensar a sua identidade
e a história coletiva que vai sendo constituída. Refiro-me
àqueles que, atuando na educação infantil, percebem-se
como profissionais, entendendo ao mesmo tempo que, se somos professores,
as pessoas de pouca idade com as quais atuamos, muitos mais que alunos,
são crianças. (p.11)
Partindo do princípio de que o professor é o responsável
pela educação das crianças de 0 a 6 anos de idade,
pode-se afirmar a essencialidade de uma formação continuada
que contemple a prática vivida cotidianamente pelas educadoras
nas Unidades, e não apenas uma teoria distante do que realmente
ocorre. Contudo, diante dessa necessidade de formação contínua,
é necessário que se avalie sua contribuição
no que se refere a favorecer um trabalho de qualidade, visando sempre
o desenvolvimento integral das crianças, principais agentes dos
CCI´s.
Atualmente, através das novas diretrizes que regem a Educação
Infantil, esta vem sendo vista como intimamente relacionada à função
educativa, e portanto, leva em consideração a formação
da criança, daí a necessidade de que se repense também
a formação do profissional responsável pelo cuidado
e educação destas crianças.
A Educação Infantil, com a concepção de articular
educação e cuidado, necessita de profissionais com formação
inicial adequada e que tenham acesso a programas de formação
em serviço, com a necessária valorização do
seu trabalho, pois não é possível que se exijam profissionais
qualificados e atualizados se estes não sentirem que seu trabalho
é importante e que são valorizados socialmente, como explicita
Freire (1999):
Acredito que a formação do educador, em geral, esteja intrinsecamente
relacionada com a formação do cidadão, seja ele criança,
adulto ou jovem. Portanto, almejar uma educação de qualidade
para as crianças, que contribua para a formação de
sua cidadania (sujeitos críticos, criativos, autônomos, responsáveis,
cooperativos, participantes) é estar permanentemente voltado para
a formação das educadoras que com elas interagem. (p.79)
De modo geral, a formação das profissionais da Educação
Infantil não é vista e analisada como uma prioridade, pois
existe a idéia inculcada de que qualquer pessoa é capaz
de educar e cuidar de uma criança pequena, que isso não
exige qualquer tipo de profissionalização por ser uma característica
natural da mulher (ligada à questão do “ser mãe”).
A formação das profissionais da Educação Infantil
têm, sim, por base a identidade pessoal dessas mulheres; identidade
esta que vêm sendo construída historicamente dentro de uma
ocupação desvalorizada socialmente – ser educadora
de crianças pequenas e ser mulher.
Mesmo diante de tal desvalorização, o trabalho como professora
conduziu historicamente a mulher a um avanço em suas perspectivas,
pois muitas delas saíram de sua condição de “donas
de casa” ou “domésticas” para dedicarem-se ao
trabalho de educar e cuidar de crianças pequenas. Nas instituições
de Educação Infantil, essas mulheres sentem-se mais livres
para expressar o que pensam, trocar idéias e informações,
participando ativamente de tudo que permeia o trabalho realizado nas instituições.
Diante de toda a história das profissionais de Educação
Infantil, percebe-se que o que consistia em um avanço histórico
para as mulheres, atualmente é motivo de desvalorização
e desqualificação profissional, ligando intrinsecamente
o trabalho de professora/educadora da Educação Infantil
a aspectos familiares que conduzem ao não-profissionalismo ou até
mesmo a uma crescente confusão de identidades entre o ser mãe
e o ser profissional, como aborda Cerisara (2002):
... se em casa há mães que exercem a maternidade junto aos
filhos, e se na escola de ensino fundamental há professoras que
exercem o magistério com seus alunos, nas creches e pré-escolas
deve haver professoras de educação infantil que atuem junto
a crianças de 0 a 6 anos. ( p.68)
No que diz respeito á formação inicial específica
voltada aos profissionais da Educação Infantil, pode-se
observar que esta não ocupou seu merecido espaço dentro
dos cursos regulares de formação de professores, inviabilizando
qualquer espécie de educação que não fosse
aquela voltada às crianças maiores de 7 anos de idade.
A formação continuada ocorre em muitas ocasiões devido
à necessidade de adequar os profissionais e atualizá-los
diante do novo contexto educacional, mas essa espécie de formação
nem sempre garante o vínculo com a prática docente estabelecida
pelos professores da educação infantil nas creches e pré-escolas.
Sacristán (1995) estabelece a necessidade de três níveis
ou contextos em que deve ocorrer uma interação para que
a prática pedagógica seja passível de alterações:
? Contexto propriamente pedagógico, conhecido como “prática”,
constituído pelas práticas cotidianas em sala de aula. Este
contexto define as funções que de forma mais imediata, refere-se
aos professores.
? Contexto profissional dos professores, que elaboram um grupo como modelo
de comportamento profissional (rotinas, ideologias, crenças), assim,
produzem o saber técnico que legitima suas práticas.
? Contexto sóciocultural que proporciona valores e conteúdos
considerados importantes.
Portanto, para que se entenda o sentido da profissionalidade, é
necessário que os três níveis explicitados por Sacristán
(1995) sejam assimilados, tendo claro que o ensino é uma prática
social em que condições psicológicas e culturais
estão presentes. Trata-se de um processo em que a experiência
cultural do professor é determinante e neste sentido faz-se necessário
repensar os programas de formação de professores, por deterem-se
aos aspectos técnicos em detrimento das dimensões pessoais
e humanas, primordialmente quando o foco são as profissionais da
Educação Infantil.
Mesmo o que se encontra estabelecido na Nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei 9394/96), constitui uma concepção
fragmentada de identidade profissional, causando retrocesso e perplexidade,
tal como a insistência da referida lei em admitir como formação
mínima para o magistério na Educação Infantil
e primeiras séries do ensino fundamental o nível médio
na modalidade Normal (art. 62), quando o que se observa é a necessidade
de profissionais melhor preparados.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
afirmam que a LDB 9394/96 trata a Educação Infantil de forma
sucinta e genérica, como se pode constatar diante da seguinte afirmação:
Só muito recentemente, a legislação vem se referindo
a este segmento da educação, e na própria Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), o
tratamento dedicado à Educação Infantil é
bastante sucinto e genérico.
Desta forma, confere-se a estas Diretrizes Curriculares Nacionais para
os programas que cuidem de crianças, educando-as de 0 a 6 anos,
em esforço conjunto com suas famílias, especial importância,
pelo ineditismo de seus propósitos e pela relevância de suas
conseqüências para a Educação Infantil no âmbito
Público e privado. (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil,1998, p.2)
As Universidades, como locais de formação acadêmica,
dissociam teoria e prática, acarretando na exclusão dos
saberes advindos da experiência em detrimento dos conhecimentos
científicos; o que leva a uma destruição em massa
da identidade dos professores, pois ocorre uma espécie de uniformização
de profissionais, que não considera as diferenças e dificulta
o exercício da autonomia.
A inclusão da educação infantil - os Centros de Convivência
Infantil - no contexto das atividades-fim da Universidade: ensino, pesquisa
e extensão, possibilitariam uma melhor articulação
da teoria com a prática, através de contribuições
no s campos de estágio, observação, pesquisa, produção
e socialização do conhecimento na área da educação
de crianças desta faixa etária.
Concebendo que a Universidade tem como objetivo formar pesquisadores e
profissionais para o mercado de trabalho que sirvam à sociedade,
ela tem nas Unidades de educação infantil mais um lugar
onde se possa dar subsídios teóricos e práticos,
um lugar que possibilite uma articulação teórica
e prática do que seria o trabalho de educação em
um determinado nível.
O processo de formação dos professores da educação
infantil é visto como algo indissociável da profissionalização,
abrangendo o avanço escolar e a progressão na carreira por
parte dos professores e a melhoria na qualidade educacional oferecida,
em benefício das crianças de 0 a 6 anos de idade.
Diante desse contexto, faz-se necessário uma reformulação
dos atuais currículos responsáveis pela formação
das profissionais, especificando o trabalho desenvolvido nas Unidades
de Educação Infantil, e não mais baseando a formação
nos princípios para docência nas séries iniciais do
ensino fundamental. Essa dissociação na formação
das educadoras só será possível quando o trabalho
para crianças de 0 a 6 anos for tomado realmente como “a
primeira etapa da educação básica”, e portanto
de essencial importância.
O que pode conferir o significado de profissionalidade á educação
infantil são as reflexões a respeito dos conceitos de infância
e educação, numa perspectiva de que a criança é
ser ativo, e, portanto os professores devem exercer uma prática
inovadora, que só é possível quando os mesmos definirem
a identidade de sua profissão, articulando prática e teoria,
enfocando sempre a Pedagogia da Infância.
Para Cerisara (2002):
A defesa da profissionalização das professoras de educação
infantil é tão urgente quanto à redefinição
da função das instituições de educação
infantil e está relacionada à concepção de
que todas as crianças de 0 a 6 anos sejam elas pobres ou ricas,
brancas, negras ou indígenas, estrangeiras ou brasileiras, entre
outras, tem o direito a uma educação infantil que garanta
uma infância digna e boas condições de vida. (Cerisara,
2002, p.108)
De acordo com a autora, a necessidade de definir a profissionalização
das educadoras de Educação Infantil é latente e tão
necessária quanto redefinir o papel das instituições,
que ainda vivem a dicotomia entre cuidado e educação que
acompanha o desenvolvimento da educação infantil desde seu
surgimento, por vezes dificultando a caracterização da importância
do trabalho docente em instituições de educação
infantil uma vez que requerer qualidade neste nível de ensino significa
considerar as contradições entre o feminino e o profissional
que tem permeado a profissionalização destas educadoras:
Princípios como a maternagem, que acompanhou a história
da educação infantil desde seus primórdios, segundo
a qual bastava ser mulher para assumir a educação da criança
pequena, e a socialização, apenas no âmbito doméstico,
impediram a profissionalização da área. (Kishimoto
apud Cerisara, 2002, p.7)
Para que a qualidade educativa se estabeleça, é imprescindível
desvendar o cotidiano das profissionais de Educação Infantil,
refletindo sobre o fazer pedagógico na caminhada destes profissionais.
A pesquisa:
Procedimentos metodológicos.
A interpretação dos resultados se dará
através dos posicionamentos teóricos de Imbernón
(2001), Nóvoa (1995), Sacristán (1995), Schön (1992),
Freire (1999), Ongari & Molina (2003), autores que investigam a formação
e profissionalização dos professores; bem como Cerisara
(2002) e Kramer (2003), que investigam especificamente a profissionalização
das educadoras das instituições infantis. Referenciais como
a Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional (Lei 9394/96)
e as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (1998),
são considerados essenciais para analisar o cotidiano das Unidades
e principalmente tecer uma análise a respeito da formação
dos educadores e do trabalho realizado por eles. Os referenciais teóricos
citados permitirão definir o sentido de profissionalidade dos educadores
que atuam nos CCI’s investigados, bem como entender o processo de
formação inicial e continuada como um dos fatores significativamente
responsáveis pelos programas de cuidado e educação
presentes nas unidades observadas.
Como objetivo geral, apresenta-se a necessidade de re(definir) a identidade
profissional das educadoras da educação infantil dos CCI´s/Unesp,
diante da necessidade de articular educação e cuidado na
mesma instituição, tomando como referência à
formação inicial e continuada destas profissionais e os
aspectos que permeiam o trabalho desenvolvido por elas como professoras
de crianças pequenas. Os objetivos específicos deste trabalho,
intrinsecamente relacionados ao objetivo geral, visam:
? Analisar a adequação das educadoras dos CCI´s á
Nova LDB 9394/96 no aspecto referente à formação
de profissionais para atuar na educação básica;
? Problematizar o processo de formação continuada para os
educadores dos CCI´s, verificando quais as estratégias utilizadas
pelas Unidades para que todas as educadoras possam ter acesso à
formação em serviço;
? Estabelecer a importância da profissionalização
das educadoras dos CCI´s, diante da dicotomia existente entre cuidado
e educação, presente nas atuais discussões a respeito
da redefinição da atuação dos profissionais
da educação infantil.
A metodologia fundamenta-se na abordagem qualitativa, constituindo uma
pesquisa exploratória, através da qual têm-se a possibilidade
de aprimorar idéias, e por apresentar certa flexibilidade em seu
planejamento, oferece a oportunidade de levantamento de tipos variados
de dados, assumindo a forma de um estudo de caso, que visa descobrir,
interpretar e retratar a realidade de forma completa e profunda.
Das técnicas de pesquisa oferecidas pela metodologia científica,
conforme Lakatos, recorremos à pesquisa realizada através
de documentação indireta: questionários provenientes
dos quatorze CCI’s/Unesp, referentes a aspectos como: formação
inicial e em serviço, características do trabalho como professoras,
relacionamento com colegas de trabalho, coordenação da instituição,
pais, crianças atendidas e as perspectivas das professoras diante
do trabalho que vêm realizando. Estes questionários foram
respondidos pelas educadoras de uma das unidades de Educação
Infantil até o presente momento, e posteriormente serão
respondidos por todas os participantes da pesquisa, no caso, todas as
educadoras de crianças de 0 a 3 anos e 11 meses das Unidades de
Educação Infantil da Unesp, visando traçar um perfil
profissional aproximado das educadoras, para que se possa classificar,
organizar e analisar as informações obtidas, processando
os dados.
Resultados Preliminares: alguns apontamentos.
Através de alguns resultados preliminares da pesquisa
obtidos através da análise dos questionários, podem
ser tecidas algumas considerações: as educadoras dos CCI’s/Unesp
estão adequando-se às novas exigências da LDB 9394/96,
no que se refere à formação inicial para o trabalho
com crianças pequenas, demonstrando que em sua maioria, elas reconhecem
a necessidade da formação inicial e confirmam seu interesse
por ela. Pode-se ainda afirmar, devido ao interesse das educadoras pela
formação inicial, que elas tem consciência que seu
papel não é “apenas cuidar” ou “apenas
educar”, pois ambos aspectos fazem parte de seu trabalho como profissional
da Educação Infantil. Assim sendo, integrar cuidado e educação
é essencial para que as educadoras possam desenvolver um trabalho
de qualidade, além de avaliar sua própria prática
cotidiana.
A formação em serviço constitui um interesse da maioria
das educadoras, que alegam ter freqüentado todas as possibilidades
de formação continuada a que tiveram acesso, além
de participarem efetivamente da formação em serviço
oferecida na unidade em que trabalham.
Quanto à formação oferecida na unidade, as educadoras
afirmam que é realizada através da verificação
das necessidades das demonstradas, mas algumas delas dizem que apesar
disso, não estão obtendo resultados que auxiliem na prática
cotidiana com as crianças.
Em geral, as educadoras possuem mais de 10 anos de serviço e exerceram
outras atividades antes de iniciarem o trabalho com crianças pequenas,
notando-se que em sua maioria trabalhos relacionados ao âmbito doméstico,
e por isso não tiveram maiores dificuldades para adaptarem-se ao
ambiente de trabalho.
Quanto á questão se o trabalho realizado correspondia às
expectativas que as educadoras tinham quando começaram, grande
parte delas afirma que está suficientemente satisfeita, por realizar
um trabalho que visa contribuir com o desenvolvimento das crianças,
mas elas têm consciência de que ainda há muito a ser
feito. Como contribuição para exercer seu trabalho, atribuem
maior importância à experiência e prática profissional,
à formação inicial e aos cursos de atualização.
Sentem-se satisfeitas no que refere-se ao reconhecimento de seu trabalho
pela coordenação da unidade e nada satisfeitas quanto à
carga horária de trabalho, espaço físico e o reconhecimento
dos pais e admitem que se pudessem voltar atrás, não sabem
se ainda escolheriam este tipo de trabalho.
Em termos exigência para o trabalho, atribuem a atenção
contínua como a mais relevante delas, ficando em seguida a comunicação
com os pais.
O trabalho diário realizado pelas educadoras baseia-se na programação
didática realizada por elas em conjunto com a coordenadora da unidade.
Para as educadoras, saber fazer uma boa programação didática
e propor às crianças experiências ricas e diversificadas
são características essenciais de uma profissional que busca
realizar um bom trabalho.
Quanto à unidade, as educadoras acreditam que os pais preferem
deixar seus filhos no CCI para não serem obrigados a deixa-los
com as avós e porque a unidade é um ambiente seguro para
as crianças, ou seja, os pais não reconhecem o valor educativo
da unidade, o que também pode ser observado pelo fato de que os
pais não fazem questões referentes ao desenvolvimento ou
brincadeiras realizadas durante o período em que a criança
encontra-se na instituição; o que geralmente questionam
é se a criança comeu e dormiu: aspectos relacionados ao
cuidado são vistos como mais importantes quando a educação
é voltada às crianças de 0 a 4 anos de idade.
Na análise dos questionários, nota-se que as educadoras
estão preocupadas em redefinir seu papel diante da sociedade, porque
reconhecem que já não são mais pessoas que cuidam
de crianças somente. Elas têm consciência de que o
trabalho que realizam é essencial, mas que não possui o
reconhecimento que deveria ter (termos salariais, reconhecimento dos pais,
social, entre outros aspectos). Diante disso, acredita-se na necessidade
de uma revisão dos currículos dos cursos de formação
inicial de professores para a Educação Infantil e o aprimoramento
da qualidade da formação específica em serviço,
formando cada vez mais profissionais que busquem desenvolver um trabalho
de qualidade no interior das instituições de Educação
Infantil e que tenham sua própria identidade, construída
histórica e socialmente, para que não oscile mais entre
o ser mãe, o ser mulher e o ser profissional.
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