Benedita Lourdes Motta Silva
Com o crescente interesse das crianças por histórias
infantis, nos fez pensar que ao proporcionar contato com as diversas histórias,
“abre-se espaço para alimentar o mundo imaginário
da criança, e que esse contato com as histórias infantis
na sua diversidade, pode estimular o musicar, o desenhar, o sair, o ficar,
o pensar, o teatrar, o imaginar,o brincar, o ver o livro, o escrever,
o querer ouvir de novo – o mesmo ou outra história (ABRAMOVICH,
1991:23)”.E, pensando que a criança vive em um mundo todo
seu, povoado de sonhos e fantasias, que iniciamos o projeto de atividades
com o tema “Criando com as Histórias”.
Com as contações de histórias, as crianças
passaram a vivenciar e incorporar os personagens. O imaginário
e a fantasia passaram a fazer parte do cotidiano. Com isso, passaram a
sugerir que contássemos histórias e que permitíssemos
o manuseio dos livros.
Decidimos então montar uma Biblioteca, onde os livros ficassem
expostos para que pudessem pegá-los quando desejassem.
Ao perceber que as crianças conheciam os clássicos, procuramos
oferecer outras literaturas, abrangendo mais o contato e o conhecimento
sobre os livros de Literatura Infantil. E, para que tivessem esse contato,
foram oportunizadas atividades que envolviam dramatizações,
manuseio de fantoches e dos livros.
Dentre as histórias oferecidas, a história que mais se identificaram
foi “Os Três Lobinhos e o Porco Mau”, por ser como uma
continuação diferenciada da história dos Três
Porquinhos. Inicia-se com a construção da casa de tijolos,
passando pela casa de concreto, depois pela casa de aço e ferro,
e por último, uma casa feita das mais belas flores. O porco mau
é persistente e criativo nas destruições das casas,
e sempre os Lobinhos fogem carregando o “Chá da China”;
e foi a casa de flores, sendo tão bela e frágil, que conseguiu
mudar a personalidade do Porco Mau, que se tornou bom e amigo de todos.
A curiosidade de saber o que seria o Chá da china, contamos a história
de como surgiu o chá...
A história do chá está assentada nos costumes da
velha China onde conta-se ter sido criado por volta de 2.800 anos A.C.
por um Imperador chamado Shen Nung, considerado o Pai do Chá, uma
vez que, conforme a lenda, o tal Imperador ferveu água para beber
(o que é equivalente a destila-la para evitar doenças) e
não observou algumas folhas caídas dentro do recipiente
de água e, sentindo um aroma delicioso, arriscou a beber o conteúdo,
que achou bastante saboroso e assim, passou a fazer experiências
com várias folhas e desta forma o chá foi descoberto, passando
a ser uma bebida que está presente em quase todas as sociedades
do mundo.
Fizemos um convite para as outras turmas de crianças, para tomar
Chá com bolacha. Nesse dia a professora Dan., como uma verdadeira
contadora de histórias, contou encenando a história Os Três
Lobinhos e o Porco Mau, no centro de uma grande roda formada pelas turmas,
para que todos entendessem e se integrassem no projeto.
Como as crianças se interessaram pelas estruturas das casas construídas,
pedimos que pesquisassem sobre construções de tijolos, concreto
e de ferro/aço. Além da pesquisa, decidiram construir uma
casa para a turma. Então construímos com diversos materiais
(sucata), a casa da turma (em tamanho grande), e casinhas para cada criança,
representando assim as construções existentes na história.
Como a história dos Três Lobinhos e o Porco Mau era muito
envolvente, todas ac crianças queriam compartilhar com seus familiares,
decidimos fazer uma “Sacolinha” para que as crianças
pudessem levar o livro para casa. Todos ajudaram a confeccionar. O livro
foi levado, mediante sorteios (sugestão das crianças), juntamente
com um caderno, contendo a explicação de todo o projeto,
para que os pais pudessem relatar as impressões das crianças
com relação ao livro. Após o término do “ciclo
do livro”, houve grande interesse com relação a outras
literatura, e as crianças mostraram interesse em leva-las para
casa, então sugeriram que cada uma tivesse uma sacolinha para levar
os livros para casa, para que pudessem compartilhar com seus familiares.
Então confeccionamos a sacolinha para cada criança, e estipulamos
um dia da semana para que levassem a sacolinha com o livro de sua escolha,
e com isso, as crianças puderam voltar ao livro tantas vezes quanto
queriam, e ao manusearem, viviam página por página, buscando
e encontrando o momento especial, em que o seu ideal coincidia com o real,
fazendo emergir as diversas emoções ao viverem profundamente
as narrativas.
Fomos à passeios como na biblioteca do EMEI Maria Célia/Unicamp,
onde manusearam livros e conheceram a Gibioteca, e também fomos
ao cinema da casa do Lago (Campus Unicamp)
A construção da casa foi muito prazerosa em todos os momentos
de sua confecção. Durante essa etapa, em um de nosso passeio,
encontramos um pedreiro, Senhor N., que nos contou quais os materiais
usados para se obter o concreto, uma curiosidade das crianças que
foi saciada.
Ao chegarmos, logo as crianças queriam falar sobre o que ouviram
então;
Profª.: O que o pedreiro usa para fazer massa de concreto?
Isa.: 3 carrinhos de areia, 1 carrinho de pedra e 1 saco de cimento
Profª.: E depois?
Bru.: Coloca água para virar a massa, e fica misturada...
CONFECÇÃO DA CASA COLORIDA E DOS TRÊS
LOBINHO
E DO PORCO MAU
É muito interessante a forma como acontece o processo
de aprendizagem das crianças, e essa “aprendizagem é
um fator fundamental sobre o qual um novo modo de ensino deve ser baseado,
tornando-se um recurso complementar para a criança e oferecendo
múltiplas opções, sugestões e fontes de apoio”.
(Edwuards, 1999:94).
Com a inauguração da “Casinha Colorida”, resolvemos
transpor a história Os Três Lobinhos e o Porco Mau, para
uma maquete. Fizemos os personagens e as ferramentas que o Porco usou
nas suas destruições, a saber: marreta, britadeira e dinamite,
todos com massa de biscuit.
As casinhas foram confeccionadas com sucata e cada criança escolheu
um tipo de construção; umas escolheram a casa de ferro,
usando tampinhas de garrafas como revestimento, outras usaram pedaços
de madeira, simbolizando os tijolos, outras somente pintaram para que
ficassem parecidas com a casa de concreto, mas a maioria preferiu fazer
a casa de flores.
Na rodinha de conversa, perguntamos como e com qual material poderíamos
construir as casas que queriam, responderam da seguinte maneira:
B.: a casa da ferro pode ser com tampinha de cerveja!
Ca.: Com flores!
As crianças a todo momento relembravam a história, e o que
mais os impressionou foi o “Chá da China” e a casinha
de flores, que com sei cheiro envolvente, mudou a personalidade do Porco:
Profª.: O que lembram da história?
V.: O Porco ficou bom...
La.: Ele cheirou a flor e ficou bonzinho!
Le.: O Porco destruiu a casa dos três lobinhos. Aí ele cheirou
a casa de flor e ficou bom...
Profª.: O que mais aconteceu?
Y.: O Porco pegou o martelo (marreta) e destruiu a casa forte, e os Lobinhos
correram para a outra casa!
T.: Não, os Lobinhos foi correndo pela janela e levou o Chá.
Aí o Porco Mau pegou o martelo (marreta), e destruiu a casa de
tijolo. Aí o Porco cheirou a florzinha e ficou bonzinho, e entrou
na casa dos três Lobinhos.
Fizemos uma exposição de todas as construções
e confecções feitas pelas crianças, e todos puderam
experimentar o famoso “Chá da China”.
E, para encerrar o projeto, fizemos o teatro da história “Os
Três Lobinhos e o Porco Mau”, em que as crianças puderam
expressar toda a sua criatividade, imaginário, nas diversas encenações.
Foram ricos e muito importante os momentos para apreciação
das histórias, da comunicação entre as crianças,
da troca de idéias, do compartilhamento de experiências,
relatando sua realidade. Com um senso crítico e a imaginação
aflorando o vocabulário e melhorando as estruturações
das frases, ajudando na articulação e boa dicção.Enfim,
trabalhando, aprendendo e transmitindo os diversos valores e conceitos
adquiridos através dessa fascinante história.
“ O livro é uma visita agradável que
chega em casa. Muitas vezes, não queremos que a leitura termine
hoje e acabamos deixando- a para amanhã, a fim de que não
acabe. Os livros conversam diante de mim na biblioteca. Com eles, dialogo
relembrando sobre o que cada um trata”, relata Bartolomeu., em sua
palestra no Cole 2005.
BIBLIOGRAFIA
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices.
SP: Scipione, 1991.
DAHLBERG, G.; MOSS, P.; PENCE, A. Qualidade em educação
da primeira infância. Porto Alegre: Artmed, 2003.
EDWARDS, C. ; GARDINI, L.; FORMAN, G. As cem linguagens da criança:
uma abordagem de Reggio Emilia na educação de primeira infância.
Porto Alegre: Artmed, 1999.
http://www.chaesimpatia.com.br/historia1_cen1.htm