Camila Videira Silva - Bolsa Pibic –Reitoria
- UNESP- Campus de Presidente Prudente- SP
Gilza Maria Zauhy Garms – Orientadora - Co-autora.
Introdução e justificativa
A tendência mundial é exigir dos novos profissionais
que saibam aplicar seus conhecimentos no dia-a-dia, com aprimoramentos,
cursos e especializações constantes. Segundo documento do
Departamento de Trabalho norte-americano exige-se hoje que os profissionais
tenham suas habilidades de raciocínio desenvolvidas, o que pressupõe
criatividade e capacidade de tomar decisões e de solucionar problemas.
A questão é: como atender às novas exigências
do mercado mundial, com uma educação que reproduz metodologias,
comportamentos passivos e conteúdos repetitivos à décadas?
Se por um lado, o nosso planeta está em constante transformação,
por outro lado, a nossa instituição escolar, por ironia
é uma das que mais resiste aos avanços do mundo globalizado,
quando deveria estimular a liberdade de expressão dos futuros cidadãos.
Não há fórmulas mágicas que nos ensine como
mudar. A palavra mais apropriada é sem dúvida, conscientização,
a qual só será verdadeira se vier “de dentro para
fora”: a consciência não pode ser imposta.
Nóvoa (1995), afirma que a mudança educacional depende dos
professores e da sua formação. Depende também da
transformação das práticas pedagógicas na
sala de aula. Mas, sabe-se hoje que não basta mudar o profissional,
é preciso mudar os contextos em que ele intervém. As escolas
não podem mudar sem o comprometimento dos professores, e estes
não podem mudar sem uma transformação das instituições
em que trabalham. O desenvolvimento profissional dos professores tem que
estar articulado com as escolas e os seus projetos. A formação
de professores deve ser concebida como uma das componentes da mudança,
em conexão estreita com outros setores e áreas de intervenção,
e não como uma espécie de condição prévia
de mudança.
A formação não se faz antes da mudança, faz-se
durante, numa perspectiva interativa dos profissionais e dos contextos
que dá um novo sentido às práticas de formação
de professores centradas nas escolas.
Contudo, nossa pesquisa se deterá num dos componentes envolvidos
neste processo: as decisões no domínio educativo que ocorrem
no âmbito das salas de aula.
Estamos vivendo um momento em que o ensino e os professores em geral,
se acham sob a mira de diversas criticas – recuperar a qualidade
do ensino – constitui o desafio que nos impõe o momento atual.
Afirma Demo (1995) que, como o desafio da qualidade é sempre um
atributo humano, produzir qualidade educativa há de significar
preponderantemente trabalhar a qualidade dos profissionais. Essa qualidade
implicará, necessariamente, a ruptura do mundo conceitual do educador,
pois exigirá o rompimento com antigas e cristalizadas crenças
que tem tradicionalmente orientado a educação em geral –
desde a educação infantil até as universidades.
Como então enfrentar o desafio de trabalhar a qualidade dos profissionais
em educação para o (re)pensar e/ou (re)reconstruir a ação
docente?
Se “pensar é agir sobre o objeto e transformá-lo”(PIAGET,
1973, p.85) então, tem-se um caminho didático para enfrentar
tal desafio: refletir, primeiramente sobre a prática pedagógica
da qual o docente é sujeito. Apenas, então se apropriar
de teoria capaz de desmontar a prática conservadora e apontar para
as construções futuras. (BECKER, 1993a).
Nesse processo de rever a prática, poder-se-á progressivamente,
destacar quais concepções estariam prioritariamente respondendo
pela ação pedagógica e o que seria necessário
fazer, aceitando-se a perspectiva construtivista de que a ação
do sujeito é instrumento essencial para aprender. (GARMS,1998).
A rigor, qualquer teoria sobre o desenvolvimento cognitivo, ao configurar
nossa concepção do sujeito do conhecimento e da aprendizagem,
configura também, nossa concepção sobre o fazer pedagógico.
Eis aí sua relevância pedagógica. Assim, no caminho
didático proposto para a formação de professores,
têm-se um ponto significativo a considerar: a concepção
epistemológica é, primordialmente, efeito e não causa,
mas uma vez constituída, adquire um poder de determinação.
A grande questão da epistemologia é: qual a origem do conhecimento?
Como ele ocorre, isto é, como se explica a presença, na
mente humana, de conceitos, idéias, julgamentos? Inúmeras
e, em alguns casos, bastante complexas são as teorias a esse respeito,
fruto do esforço filosófico de adentrar nesse obscuro campo
da atividade do homem: o pensamento. Traduzidas para a linguagem psicológica,
tais questões interessam a educação à medida
que explicam como o sujeito aprende. (ROSA, 1994)
Uma vez que, o compromisso central da escola é com o conhecimento,
como este estaria sendo trabalhado e concebido em sala de aula? Quais
seriam as formas e condições que possibilitam ou não
o processo de transmissão e produção do conhecimento?
Enfim, como se tem configurado a relação teoria e prática
uma das questões essenciais da ação pedagógica?
Investigá-la significa começar pelo fim, pelo exercício
denominado filosófico.Em outras palavras, definir os fins últimos
da educação que por sua vez dependem basicamente das respostas
a duas questões fundamentais a serem enfatizadas pelo educador:
que tipo de homem - cidadão e de sociedade a prática pedagógica
deve ajudar a formar:
Subserviente, dócil, cumpridor de ordens sem perguntar pelo seu
significado - com comportamentos, idéias, expectativas padronizados,
todos iguais, nivelados, sem nada de novo – sujeitos simplesmente
reproduzindo ou um indivíduo pensante, critico, que pára,
reflete, perguntando-se pelo significado de suas ações futuras
e, progressivamente, das ações do coletivo onde se insere
- com liberdade de expressão, de comunicação, de
escolha, de aprendizado?(BECKER, 1994, p.96)
A busca de respostas nos leva à investigação da ação
pedagógica para desvelar as relações pedagógicas
que se constituem na prática de cada sala de aula no sentido de
viabilizar ou não o tipo de educador que se quer formar e porque
assim se faz.
Pode-se afirmar que aí, existe um movimento de polarização,
que tende a valorizar; o professor, ou o aluno, ou as relações
entre professor e aluno. Portanto, o nosso objetivo é buscar as
causas desta polarização, analisando as implicações
teóricas das relações epistemológicas que
ocorrem no cotidiano da sala de aula, pois tal fenômeno, denuncia
determinadas concepções pedagógicas que, traduzidas
didaticamente, fazem avançar, retardar ou até impedir o
processo da construção do conhecimento.
Assim sendo, a formação docente precisa incluir, cada vez
mais, a critica epistemológica para tomar consciência do
paradigma epistemológico que sustenta seu fazer pedagógico
e, sobretudo, que avanços pedagógicos implicam necessariamente
mudança de paradigma. Condição esta necessária,
embora não suficiente, para a superação da escola
atual, para a recuperação da qualidade do ensino, na direção
de uma escola verdadeiramente democrática, escola para todos e
competente na transmissão e produção do conhecimento.
Para enfrentar este desafio, o professor precisa responder, primeiro a
seguinte questão: que educador – cidadão ele quer
que seu aluno seja?
O modelo epistemológico do professor traduzido no seu cotidiano
escolar, responderá a pergunta feita. Em outras palavras, a sua
ação pedagógica (prática), definirá
através de sua concepção epistemológica (teoria)
– se escolherá por promover:
“Liberdade” de expressar o mundo” ou se irá “limitar”,
podar e/ou “castrar” a “liberdade” de expressar
o mundo!
Em síntese, a critica epistemológica é um dos caminhos
possíveis para a tomada de consciência de um dentre os vários
fatores que respondem pelo estado atual do ensino, pois a epistemologia
do professor traduz o cotidiano da escola. É neste contexto que
se insere esta pesquisa.
Breve descrição dos modelos teóricos
e práticas pedagógicas subjacentes
Com o intuito de investigar as concepções
teóricas que subsidiam o trabalho do professor de educação
Infantil, com crianças de 4 a 6 anos, e se há relação
entre essas concepções epistemológicas e sua prática
pedagógica, é que buscamos analisar as idéias referentes
a natureza humana, origem e natureza do conhecimento, subjacentes ao cotidiano
observado.
Para tanto,contamos com os seguintes referenciais teóricos , Becker
(1993, 1994) “A epistemologia do professor: o cotidiano da escola”
e “Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos;
e Parra (1980) “As estratégias de ensino-aprendizagem”.
São reflexões em que os autores revelam que a relação
ensino-aprendizagem pode ser representada , segundo Becker (1994) por
três modelos pedagógicos : Pedagogia Diretiva, Pedagogia
Não-Diretiva e Pedagogia Relacional, extraídos respectivamente
dos seguintes modelos epistemológicos: Empirismo, Apriorismo e
Interacionismo- Construtivista. Enquanto que Parra (1980) as classifica
como correntes ideológicas denominadas de : Romanticismo, da Transmissão
Cultural e do Progressivismo; que são epistemologicamente sustentados
de maneira consciente ou inconsciente pelos professores no seu cotidiano
em sala de aula.
Segundo Becker (1993), o processo escolar mais especificamente, as relações
pedagógicas que permeiam o cotidiano da sala de aula, é
conseqüência do movimento de polarização “espontânea”
(inconsciente ou não) que tende a valorizar o professor, ou o aluno
ou as relações pedagógicas desencadeadas entre eles.
Será então, investigando qual dos pólos: professor
ou aluno, é privilegiado no âmago das relações
pedagógicas, que possivelmente encontraremos algumas causas dos
problemas presentes no processo de ensino-aprendizagem, bem como as concepções
epistemológicas que podem influenciar positiva ou negativamente
durante o processo de construção do conhecimento.
A configuração da relação teoria e prática
na sala de aula têm sido representadas por três diferentes
formas de “pedagogias”. A primeira delas é a pedagogia
centrada no professor ou Pedagogia Diretiva, a qual enfatiza as relações
hierárquicas. Quem está no topo da relação
é o professor, é ele quem dita as regras e transmite o conhecimento.
Num nível hierárquico inferior à posição
do professor está o aluno “domesticado”, ao cumprir
as ordens e regras, permanecendo calado e proibido de expressar suas idéias
e sua criatividade, enfim ``O professor fala e o aluno escuta.O professor
dita e o aluno copia`` (Becker, 1994, p.89).
Em cada novo nível que passa o aluno é tido como uma “tabula
rasa”, ou seja, o indivíduo é moldado pelo ambiente,
pela cultura absorvida por ele. O meio é quem determina suas ações,
pensamentos e sentimentos passando a ser sujeito passivo na relação,
governado de acordo com experiências que vivencia.
Esse modelo também chamado de Transmissão Cultural por Parra
(1980), busca respaldo na psicologia Comportamental, Behavorista de Watson
a Skinner. Conforme Skinner, apud Parra (1980) deve-se planejar, conduzir
e avaliar o processo total de ensino sistematicamente, buscando a definição
clara e objetiva das metas que se pretende atingir, à base de pesquisas
em termos específicos, combinando meios humanos e não humanos
que resultem numa instrução eficiente, com técnicas
de ensino individuais como a instrução programada e as máquinas
de ensinar.
Em outras palavras, o Empirismo fundamenta epistemologicamente este modelo
com a concepção de que são os fatores externos, inclusive
os professores ou os ambientes bem planejados, os responsáveis
pelo “sucesso” e/ou “fracasso” do aluno no processo
de ensino-aprendizagem.
O segundo modelo, é o Romanticismo ou a pedagogia centrada no aluno
(Pedagogia Não-Diretiva). Aqui há crença de que o
sujeito pode: dominar o conhecimento sistematizado em certa área;
ter capacidade absoluta de abstração, bem como possuir o
domínio das didáticas, sendo capaz de organizar devidamente
volume determinado de informações.
Este modelo é encontrado mais facilmente nas concepções
pedagógicas e epistemológicas do docente, que se coloca
no processo de ensino como mero auxiliador, ajudante do aluno, com funções
limitadas; procurando intervir o mínimo possível.
Esta pedagogia encontra apoio na psicologia de Carl Rogers, que considera
o conhecimento como auto conhecimento , ou seja, o saber já está
no indivíduo, basta-o deixar sua consciência “aflorar”
. Além disso, essa pedagogia centrada no aluno não atribui
importância ao processo de ensino, pressupondo que a aprendizagem
significativa não é fundada nas habilidades de um líder
(no caso o professor), e nem nas estratégias de ensino que o docente
utiliza em sala de aula.
O homem neste caso é fonte de toda sabedoria, que para “vir
à tona” necessita apenas de um “amadurecimento”
da consciência do sujeito. Temos então, o Apriorismo- Inatista
ou Maturacionista como fundamentador epistemológico deste modelo.
A terceira das “pedagogias”, é a que centra sua atenção
à relação entre os pólos: professor-aluno,
procurando dialetizar e valorizar tanto um quanto o outro. Professor e
aluno , ou seja, os pólos do processo de ensino-aprendizagem trazem
para a sala de aula bagagens distintas, que necessariamente se correlacionam
entre si.
Neste caso, há a oportunidade de negar e resgatar as qualidades
existentes na Pedagogia centrada no aluno (Pedagogia Não-Diretiva)
e na Pedagogia centrada no professor (Pedagogia Diretiva).
Do primeiro modelo (Empirismo), pode-se resgatar a importância destinada
ao conteúdo sistematizado por várias ciências, como
também a autoridade do saber do professor. Por outro lado, nega-se
o autoritarismo e saber absoluto atribuído ao professor; a pretensa
incapacidade do professor incutir no aluno, e a desconsideração
pelos conhecimentos deste.
As qualidades do segundo modelo (Apriorista) são: a experiência
de vida que deriva o saber até o momento construído, e a
capacidade de edificar conhecimentos que devem despontar na sala de aula.
No entanto, nega-se do apriorismo: - a ignorância atribuída
ao aluno; - a cobrança de sua total obediência e inanição;
- o autoritarismo do indivíduo, e a idéia de auto-suficiência
dos seus instrumentos de acesso ao conhecimento.
Enfim, a Pedagogia centrada na relação entre professor -
aluno ou Pedagogia Relacional, ou ainda Progressivismo, destaca a relevância
de ambos os pólos desta relação, ao mesmo tempo em
que procura anular ou amenizar fatores que prejudiquem professor e aluno,
além de resgatar a dinâmica própria do processo de
construção do conhecimento. Isso pode resultar num avanço
da capacidade de apropriação da realidade física
e/ou social, contribuindo para a construção contínua
de novos conhecimentos.
A psicologia genética de Piaget, a obra de Paulo Freire, as “Pedagogias”
com sustentação marxista como: na Psicologia do Desenvolvimento
de Vygotsky, de Gramsci, Wallon...., é que propiciam um aparato
psicológico para este modelo, que por sua vez, conta com o Interacionismo-
Construtivista para sua fundamentação epistemológica.
Portanto, é importante enfatizar que, seja qual for a concepção
epistemológica ( inconsciente ou não) é ela quem
determinará a prática pedagógica, lembrando ainda
que pode coexistir mais de uma concepção epistemológica
na prática do mesmo professor.
Metodologia
Para concretização dos objetivos descritos
acima, iniciamos a pesquisa seguindo alguns procedimentos metodológicos
de caráter qualitativo, incluindo pesquisa bibliográfica
com trabalho de campo. Para isso, selecionamos do total de treze salas
de pré-escolas distribuídas em quatro unidades escolares
da cidade de Pirapozinho-SP 20%, ou seja, duas escolas e uma sala de pré-escola
pertencente a cada uma delas. Nesse caso, os sujeitos da pesquisa foram
duas professoras , seus alunos e a própria pesquisadora.
Num período anterior às observações, realizamos
algumas leituras específicas acerca do tema , porém as leituras
ainda continuam a ser feitas para fundamentar a análise dos dados
coletados.
Depois de selecionar duas das escolas e dentro de cada uma delas, uma
sala de Educação Infantil (4 a 6 anos), colhemos dados,
através de observações as quais implicaram em descrições
do cotidiano nas salas de aula de pré-escola. O intuito de tais
descrições, é o de descobrir aspectos não
teorizados e/ou situações em que não há comunicação
direta dos dados, além da perspectiva dos sujeitos (professoras).
Outro instrumento utilizado em nossa pesquisa, para detectar as concepções
teóricas das docentes e confrontá-las com a prática
pedagógica, foi a aplicação de entrevista . As questões
apresentadas a seguir foram gravadas e posteriormente transcritas. Com
base em Becker (1993), elaboramos as seguintes questões:
1) Como se dá o conhecimento ? O que é para você o
conhecimento ?
2) Como se transmite o conhecimento?
3) O que teu aluno precisa saber para aprender o que você tem a
ensinar ? A explicação verbal é suficiente para que
ele aprenda os conteúdos e/ou atividades?
4) Você faz perguntas a seus alunos ? Promove debate ?
5) Quando o aluno tem dificuldades de aprender, qual (s) é (são)
geralmente a (s) causa(s) da dificuldade ? Como você age com esse
tipo de aluno ?
6) O que é indispensável numa sala de aula para que um aluno
aprenda ? Basta que você ensine bem para que ele aprenda ?
7) Qual o papel do professor e qual o do aluno no processo de ensino-aprendizagem
?
8) Você concorda com a afirmação: “A teoria
na prática é outra”. Comente.
9) Você segue algum tipo de metodologia, e/ou acredita em alguma
teoria educacional ?
Os instrumentos metodológicos utilizados, permitiram organizar
os dados coletados em categorias de análise, tais como:
? Origem do conhecimento.
? Condições necessárias ao processo de ensino-aprendizagem.
? Aprender e não aprender: prováveis causas
? O papel dos atores: professor e aluno no processo de ensino- aprendizagem.
? Teoria “versus” prática.
Resultados e discussões
Com base nas categorias de análise descritas acima, iniciaremos
o relato e discussão dos dados coletados até então.
1) Origem do Conhecimento
Questões tais como :- Como se dá o conhecimento ?; - O que
é para você o conhecimento ? e -Como se transmite o conhecimento
?, foram feitas às professoras, com o objetivo de perceber suas
concepções acerca da origem e natureza do conhecimento,
pois sabemos que tais questões refletem a condução
do processo de ensino-aprendizagem em sala de aula.
A professora X remete-se ao conhecimento como a experiência, e esta
como trocas entre aluno- aluno e aluno-professor, por meio de uma reciprocidade.
Já a docente Z define o conhecimento como toda cultura, percebemos
um certo empirismo devido ao fato de atribuir o conceito de conhecimento,
somente ao que a sociedade produziu e estabeleceu como conhecimento, além
de ser algo externo à criança.
Por outro lado os discursos revelam uma tentativa construtivista, no sentido
de valorizar as experiências, trocas de diferentes formas..., enfim,
a relação entre os alunos e destes com o professor. Este
último, é para a professora X o mediador, o qual deve planejar
situações que levem à aprendizagem. Podemos perceber
neste momento, a participação do empirismo. Concomitante
à este empirismo, encontramos também indícios do
apriorismo, no qual o aluno deve “aflorar” mediante situações
estratégicas que despertem seu interesse, e posteriormente seu
desenvolvimento.
Baseados nas observações, podemos deduzir que a origem e
a forma como se dá o conhecimento para a professora X têm
raízes profundas no empirismo, pois o conhecimento acaba se centrando
no texto e na professora, ou seja, no que é exterior aos sujeitos.
Por isso, a maneira como acontece o conhecimento, se resume em uma repetição
e reprodução, por meio da cópia que os alunos devem
executar. Além disso, as perguntas feitas aos discentes não
fazem com que haja uma discussão sobre a compreensão do
sentido dos textos, como também é negado o momento dos alunos
expressarem suas opiniões e dúvidas, talvez pela falta de
motivação possibilitada aos alunos durante a atividade relatada.
Já em relação ao que é conhecimento, a professora
X considera as experiências anteriores da criança, isto é,
seus conhecimentos prévios como também, o que o sujeito
aprenderá. Isto, nos dá indícios tanto da posição
construtivista, quanto dos aprioristas que acreditam no sujeito não
como uma tabula rasa, como os empiristas defendem, mas que o sujeito traz
conhecimentos prévios construídos na relação
com o meio físico e social, julgando–os imprescindíveis
as aprendizagens futuras.
Para a docente Z, cogita a hipótese de que o conhecimento é
o que o aluno aprenderá na escola e em outros locais e situações,
um conhecimento construído socialmente e sistematizado na escola,
ou seja, este também é um elemento pertinente a postura
empirista pelo fato de todo o conhecimento ser “passado” ou
transmitido diretamente aos alunos.
Sobre a transmissão do conhecimento, a docente X reconhece tanto
a importância do meio que deve estar devidamente preparado para
estimular os alunos, quanto a participação do professor,
o seu conhecimento acerca da clientela, o desenvolvimento de seu trabalho
pedagógico, influenciando na transmissão dos conteúdos.
Isto revela pressupostos do construtivismo, pois a concepção
da professora é de que suas práticas, podem auxiliar na
transmissão e produção do conhecimento. Porém,
a maneira como conduz e planeja as atividades durante as aulas observadas,
deixa claro que apesar do discurso ela ainda não conseguiu superar
certas práticas empiristas, pois são práticas que
diferenciam-se do seu desejo de provocar aprendizagem nos alunos, através
de situações que os levem a construir seus conhecimentos,
por meio da interação entre suas ações e o
meio em que está inserido.
A professora Z enfatiza a relevância das trocas entre alunos e professores
ao não acreditar numa pura e simples transmissão de conhecimento.
Além disso, a relação professor –aluno tem
de ser pautada e sustentada por fatores afetivos e sociais, imprescindíveis
ao avanço do processo ensino-aprendizagem. No entanto, há
em seu discurso também uma concepção empirista devido
o fato do conhecimento originar-se somente nas trocas e experiências,
e não no aluno. Pois este último, em nenhum momento é
colocado como co-construtor do seu próprio conhecimento.
Negar a possibilidade de haver transmissão do conhecimento, segundo
Becker (1993), pode demonstrar uma visão do mesmo como algo espontâneo,
às vezes provocado e dirigido.
2) Condições necessárias ao processo
de ensino-aprendizagem
Ao responder a seguinte questão: “O que teu aluno precisa
para aprender o que você precisa ensinar ?”; percebemos que
para a professora X a aprendizagem do conhecimento do corpo e da noção
de espaço é um dos primeiros pré-requisitos necessários,
para que a criança possa aprender noção de direita/
esquerda, noção temporal, noção de conservação,
bem como para desenvolvimento da coordenação motora.
Porém, ao oposto da concepção Piagetiana que considera
a noção de espaço como uma ação espontânea
do sujeito, o que significa que tal noção que será
desenvolvida em determinado nível de desenvolvimento cognitivo
pelo qual a criança passará; a docente acredita que esta
noção deve ser aprendida através da repetição
de atividades e ordens que destina aos alunos.
Pó outro lado, docente X reconhecer a importância de introduzir
em seu trabalho atividades que contribuam para o processo de alfabetização,
como também de práticas que visem o desenvolvimento de habilidades
de discriminação, percepção visual e etc.
Outros pré-requisitos, são enfatizados pela docente Z como
a conscientização dos alunos, sobre a relevância social
de estudar. Tal conscientização é fundamental, porém
pode estar ligada a uma ideologia bem disseminada na maioria da população
carente, de que o ensino pode fazer o indivíduo ascender socialmente,
alcançar status social. De acordo com Becker (1993), discursos
como este revelam características empiristas pela atribuição
ao mundo social, como fator determinante do processo de aprendizagem,
ou seja, é o modelo atual de sociedade que determina a necessidade
cognitiva do aluno.
A professora Z também deixa claro, sua preocupação
em o aluno saber que ela está disposta a ensinar, em “auxiliá-lo”
.Este termo pode apresentar indícios aprioristas, já que
o docente estaria apenas auxiliando o aluno a despertar o conhecimento
.
Não somente os pré-requisitos, bem como a explicação
verbal do professor(a), é necessária para que ocorra aprendizagem.
A respeito deste “item”, foi indagado às docentes se
consideram sua explicação suficiente para que os alunos
aprendam ? As professoras X e Z demonstra uma percepção
positiva ao reconhecer que sua explicação verbal é
necessária, mas não suficiente.
Já sabemos que a fala do professor (a) é muito importante,
porém a promoção da fala do aluno, dos seus questionamentos
também é indispensável durante o processo de construção
do conhecimento. A utilização deste componente sócio-afetivo
é uma forma de superação das concepções
empiristas, na medida em que o professor acredita na capacidade do aluno
elaborar algo próprio e expor aos outros. Além disso, segundo
Becker (1993), o aluno passa a ter “voz e vez” na sala de
aula e concomitantemente na sua comunidade/ sociedade em geral.
Ao perguntarmos as docentes : Você faz perguntas aos seus alunos
? Promove debate ?, a docente Z acredita ter explicitado que coloca questões
a sala e deixa-a expressar suas idéias. Porém, ao invés
de diálogo, de momento para o aluno expressar suas idéias,
o que de fato podemos inferir é a verificação de
reconhecimento das letras, isto é a preocupação da
docente Z esta em saber quais alunos já reconhece as letras.
A docente X além de afirmar que promove debate em sala de aula,
cita alguns benefícios desencadeados pelos questionamentos, como
o de perceber o grau de compreensão dos alunos e o nível
de desenvolvimento cognitivo deles, embora como já foi apontado
nas categorias anteriores, sua prática releve de forma marcante
a posição empirista, como por exemplo ao induzir os alunos
durante os questionamentos que faz a sala.
Apesar de fortemente empiristas, as docentes apresentam em seus discursos
nuances do interacionismo-construtivista, como ao dizerem valorizar a
expressão verbal de seus alunos. Pois, elas acreditam que o aprendizado
é concomitante ao desenvolvimento das estruturas próprias
do indivíduo, anteriormente construídas. É então
a partir daí, que a concepção empirista tem chance
de ser substituída pela “crescente complexificação
de uma interminável interação.” (Becker, 1993,
p.122). Isto é, conforme a criança vai interagindo com o
meio, haverá a possibilidade de uma melhor construção
das estruturas lógicas, e estas serem cada vez mais complexas.
A afetividade e a responsabilidade direcionada à criança
e à sua família no processo de ensino-aprendizagem, também
são entre outros, fatores visíveis nas respostas das professoras
às seguintes perguntas: “O que é indispensável
numa sala de aula para que um aluno aprenda ? Basta que você ensine
bem para que ele aprenda ?”. A professora X salienta fatores físicos
que constituem a sala de aula, e para que o aluno aprenda o que ela tem
a ensinar, julga necessário uma boa formação do professor,
que deve conhecer o desenvolvimento do sujeito; com a família e
suas concepções acerca da utilidade da escola, assim como
com crianças especiais, que tem dificuldades durante o processo
de ensino que necessitam de ajuda de outros profissionais.
O indispensável numa sala de aula para a professora Z são
dois elementos. O primeiro deles é o professor motivador, empenhado
em melhorar a qualidade do seu trabalho, e o segundo elemento é
o aluno. Este por sua vez, deve ter em si a vontade de aprender, ou então
o professor deve fazer “aflorar” essa vontade. Temos então,
uma tentativa de edificar uma fala com indícios do construtivismo,
no entanto quando a docente Z remete-se ao aluno fica evidente a forte
presença da postura apriorista, romântica , na qual o aluno
deve ter intrínseco o “desejo de aprender”, bastando
ao professor criar condições para que o conhecimento venha
à tona. Talvez, está tentativa fracassada de um discurso
com elementos do construtivismo, esteja ligada a ausência de embasamento
teórico, de leituras críticas acerca das teorias; o que
resulta num discurso influenciado apenas pelo senso comum, pois o professor
não consegue avançar, não tem argumentos teóricos
para justificar sua fala.
Para a docente Z não basta que ela ensine bem para que o aluno
aprenda, pois além de ser um professor motivador e ter alunos com
desejo de aprender é necessário uma equipe pedagógica,
que verdadeiramente prestasse apoio pedagógico direcionado ao nível
de ensino (no caso infantil).
Com base nas analises podemos inferir que o empirismo é a posição
epistemológica que marca a prática e algumas das falas das
docentes, pois elas destacam claramente a responsabilidade do meio social
pelo fracasso ou sucesso escolar do aluno. Contudo, podemos compreender
como esse “meio social” tanto a família, quanto à
escola e mais especificamente o (a) professor (a), pois estes são
considerados representantes do meio social na sala de aula , e por isso
devem se comprometer com o “caminhar” do aluno no processo
de ensino-aprendizagem.
3) Aprender e não aprender: prováveis causas.
Em toda sala de aula sempre há um ou mais alunos
que apresentam dificuldades de aprendizagem. Os motivos que levam à
essas dificuldades são explicados pelos professores, de várias
maneiras, com base em diferentes teorias.
Ao tomarmos consciência que este problema está cada vez mais
presente no processo de ensino-aprendizagem, era o momento de saber a
que causa (s) a docente atribui as dificuldades de aprender, e como ela
age com esse tipo de aluno.
Para a docente X as causas das dificuldades não diz respeito a
prática docente, mas sim a fatores internos, emocionais da criança,
ou a outras variáveis como a condição social, a família,
o ambiente físico da escola...,etc. É evidente a mistura
de argumentos aprioristas,- ao citar problemas emocionais, problemas de
memória e é claro o fator da maturação, porém
este é um fator necessário mas não suficiente ao
desenvolvimento cognitivo-; com argumentos empiristas, na qual o externo
a sala de aula, a família é colocada como a responsável
que possivelmente explicará as dificuldades do aluno; e a prática
pedagógica que também é externo ao aluno, mas não
é incluída pela docente como um fator determinante das dificuldades
, em meio ao processo de ensino-aprendizagem.
A influência familiar e os distúrbios de aprendizagem são
para a professora Z, os fatores de maior peso na ocorrência de dificuldades
de aprendizagem..
A forma como a docente X age com o aluno em dificuldade é preocupar-se
com esse tipo de aluno e não excluí-lo, procurando estar
atenta conta com o auxílio dos alunos que não apresentam
dificuldades para ajudar os demais. A professora Z também apresenta
um discurso muito semelhante ao de X, mas difere quanto a possibilidade
de rever sua prática, atividades, objetivos.., enfim Z permite
modificar seu trabalho em função do não alcance dos
resultados desejados.
Mesmo que o apriorismo e o empirismo estejam perceptíveis nos discursos
das docentes sobre as dificuldades de aprendizagem, e na prática
pedagógica; podemos dizer, principalmente a respeito da professora
Z, que o seu esforço direcionado a superar cada vez mais essas
duas concepções teóricas em seu cotidiano, possibilita-a
uma aproximação da teoria Construtivista, ou seja, da Pedagogia
relacional. Pois, segundo Becker (1994, p.95), “...a desmontagem
de um modelo pedagógico só pode ser realizada completamente
pela crítica epistemológica.”. Isto é, as tentativas
das docentes de minimizar práticas pedagógicas fixistas
e reprodutivas, baseadas no empirismo e no apriorismo, podem torná-las
conscientes das correntes que atam suas ações e seu pensar,
e nesse sentido acredito que essa crítica epistemológica
já despontou .
4) O papel dos atores: professor e aluno no processo de
ensino e aprendizagem.
Para descobrir qual a concepção acerca
do papel do professor e qual o do aluno, perguntamos a docente X e Z sobre:
Qual é o papel do professor e o do aluno no processo de ensino-aprendizagem
?. As docentes X e Z aproximam-se, a medida que procuram dialetizar a
relação entre o conhecimento e o aluno. À este último,
deve ser oferecida a oportunidade de experenciar situações
que o desequilibre, que o faça pensar e buscar respostas às
suas indagações, para então construir seu próprio
conhecimento. Para isso é necessário que a ação
discente seja valorizada e organizada pelo professor, de acordo com os
interesses, com as dificuldades e com o nível de desenvolvimento
do aluno.
Outra preocupação da docente X, é valorizar o aluno,
pois para ela a manutenção de uma auto-estima elevada com
elogios por exemplo, garante uma boa parte do aprendizado. Além
da auto-estima, a docente também direciona sua atenção
para despertar no aluno o incentivo para aprender. Isto é, a operação
mental do sujeito necessita de algum estímulo para poder acontecer.
Destaca também, o quanto é importante o aluno ter segurança
a expressar-se, pois provavelmente ele exporá aos outros o que
pensa, de forma mais clara e precisa.
Á respeito do papel do aluno, ambas as docentes consideram necessário
que o aluno ouça, mas não é o suficiente, pois a
criança tem que ter a possibilidade de compreender, agir e transformar
o conteúdo que lhe foi apresentado. Para que isso aconteça
a docente acredita ser necessário, um maior conhecimento do desenvolvimento
cognitivo, afetivo, moral e motor da criança, o que facilitaria
a definição de objetivos e propostas pedagógicas
a serem seguidas, e se necessário modificadas ao longo do ano,
como também auxiliaria na execução desses objetivos,
para que os mesmos sejam cumpridos com compromisso, responsabilidade e
sucesso, em cada etapa do processo de ensino- aprendizagem.
Fica nítido então, a posição construtivista-
interacionista pelo fato do professor necessitar o tempo todo inserindo
formas diferentes de trabalhar os conteúdos, partindo sempre de
situações que estimule os alunos, e principalmente não
deixando de pesquisar, de estudar. Pois o conhecimento não é
“pronto e acabado”, mas sim um processo contínuo, que
cada nova aprendizagem precisa ser reestruturado para se restabelecer
o equilíbrio e a compreensão. O papel do aluno, é
de como a docente mencionou várias vezes em seu discurso, o de
desejar aprender. Mas muitas vezes conforme Becker (1993), este “desejo”
é de origem empirista, pelo fato do indivíduo ser motivado
por reforços e estímulos externos, neste caso a motivação
implicará em uma certa imposição, e o conceito de
construção do conhecimento se resume em apenas “somas
sucessivas e cumulativas”, ou seja, a memória do indivíduo
assume um caráter estático, que acumula informações
e soma estímulos captados pelos sentidos.
Estas concepções epistemológicas sobre o papel do
professor e do aluno no processo de ensino-aprendizagem, denunciam em
certos momentos a precariedade teórica dos professores, pois não
há um aprofundamento teórico o que resulta num trabalho
sem consistência, em sua maioria “explicado” ao nível
do senso comum. Contudo, podemos encontrar nos discursos termos como professor
mediador, interação, construção do conhecimento......,
que podem revelar nuances da proposta construtivista interacionista.
5)Teoria “versus” prática.
Com a intenção de investigar qual a relação
entre teoria e prática pedagógica, foram feitas as seguintes
questões as docentes:
? Você concorda com a afirmação: “A teoria na
prática é outra”? Comente.
? Você segue algum tipo de metodologia, e/ou acredita em alguma
teoria educacional ?
Referente a primeira questão docente Z e X não concordam
com a afirmação, mas cada uma explicita o porque. A docente
X relativiza em seu discurso a teoria e a prática. Pois, conforme
seu discurso ela acredita que há uma ligação entre
a concepção teórica e às situações
da sala de aula.
Outro ponto que X destaca é o conhecimento da teoria, imprescindível
para que o professor possa “interferir na prática”
e, concomitantemente analisar o nível de desenvolvimento em que
os alunos se encontram, só assim o docente terá condições
de preparar um trabalho que realmente dê bons resultados. Uma outra
observação relevante, diz respeito à adequação
da teoria a situações, alunos, enfim à realidades
diferentes. Pois a teoria não pode ser considerada como um modelo
fixo, definitivo, acrítico, pronto para ser aplicada em qualquer
situação , mas sim um conhecimento que serve para embasar
o trabalho do professor, necessitando de ajustamentos segundo a realidade.
Já para a professora Z acredita que a prática (problematizada)
origina a teoria. Assim, a teoria serviria para buscar soluções,
nos momentos em que o trabalho docente apresentar alguma dificuldade.
Consideramos coerente o discurso de Z, no sentido de deixar explícito
que independente das ações e/ou atitudes que se pratica,
há sempre alguma (s) teoria (s) que sustenta(m) tal prática.
Mesmo que seja alheio ao conhecimento do educador, há uma teoria
subjacente ao seu trabalho em sala de aula.
Ao perguntarmos se as docentes seguiam ou acreditavam em alguma teoria
e/ou metodologia educacional, a docente X reconhece que seu trabalho contém
posturas tradicionais, e uma tentativa de aproximação da
postura construtivista, pois para ela as duas oferecem saberes essenciais,
que podem ser adequados as necessidades dos alunos. A professora Z também
reconhece em seu trabalho a presença de práticas tradicionais
e tentativas construtivistas. Ela atribui essa dualidade pela ausência
de apoio pedagógico às profissionais da Educação
Infantil da cidade. Além disso, menciona buscar o que é
válido em ambas posturas para elaborar junto com suas colegas,
suas aulas. Porém, assume que os conteúdos inseridos durante
as aulas não partem da curiosidade dos alunos, o que considera
lamentável.
Contudo, ficou nítido a partir dos discursos: “..o descompasso
entre o que fundamentaria a ação pedagógica, em termos
de preferência pelas teorias, e a forma como a prática docente
se manifesta em sala e aula.”( Mizukami, 1986, p.114) , ou seja,
que apesar de existir no trabalho de ambas indícios empiristas
e aprioristas difíceis de superar, as docentes tem consciência
da presença de práticas tradicionais em suas práticas.
E ao mesmo tempo, tentam elaborar os discursos descritos acima utilizando
alguns pressupostos do construtivismo piagetiano.
Algumas Considerações
Durante o desenrolar da pesquisa, até agora foi
possível verificar a partir dos referenciais teóricos, que
dentre as três concepções teóricas: o Romanticismo,
a Transmissão Cultural e o Progressivismo; a Transmissão
Cultural ou Empirismo é a concepção que de forma
mais marcante sustenta inconscientemente ou não, o cotidiano das
salas de aula observadas.
O Romanticismo, a Transmissão Cultural e o Progressivismo, também
podem ser compreendidos respectivamente como: o Apriorismo, o Empirismo
e o Construtivismo; ou ainda como os três modelos pedagógicos
que Becker (1994) cita como : Pedagogia Diretiva, Pedagogia Não-
Diretiva e a Pedagogia Relacional.
Porém, a cada etapa percorrida na execução da pesquisa,
e ao analisar os dados coletados, pude perceber que os três modelos
pedagógicos: Pedagogia Diretiva, Pedagogia Não- Diretiva
e Pedagogia Relacional-, aparecem misturados no discurso e na prática
pedagógica das professoras. Pois, durante alguns momentos nas aulas
e na maior parte dos discursos das docentes, ora elas apresentavam-se
mais próxima do empirismo (ou pedagogia diretiva), ora adeptas
da teoria apriorista (ou pedagogia não-diretiva). Apesar da constante
presença das epistemologias empirista e apriorista na prática
de ambas, era possível verificar tanto em suas falas, quanto em
suas ações em sala de aula, o interesse em superar o empirismo
e apriorismo para então tentar aproximar-se da teoria e prática
Construtivista (ou pedagogia relacional).
No entanto, a superação total de práticas que visam
a reprodução e conservação de modelos fixistas,
exige do professor que ele reveja sua prática, repense suas atitudes....,
pois somente a partir daí ele poderá tomar consciência
de qual (is) concepção (ões) sustenta (m) o seu trabalho,
e posteriormente adotar teoria e métodos que mais se adequem a
sua realidade e a dos seus alunos, propiciando então uma relação
de responsabilidade, cumplicidade e dinamicidade entre professor e aluno,
ambos avançando no processo de ensino-aprendizagem.
Não podemos nos esquecer que, a atitude do professor de se auto-avaliar,
e se necessário reconstruir suas concepções epistemológicas,
como também seu fazer pedagógico, com a participação
dos alunos, é de extrema importância para analisar/ refletir
criticamente qual concepção teórica alicerça
sua prática e se esta é de fato válida e útil
aos objetivos que se pretende alcançar, logo não é
uma tarefa fácil.
Assim, tenho a certeza que a elaboração e realização
desta pesquisa, ainda em andamento tem uma relevância muito significativa,
pelo fato de permitir não só a mim enquanto futura profissional
da educação, mas à outros profissionais ainda em
formação ou não, que cheguem a ter contato com a
presente pesquisa; uma reflexão mais crítica acerca das
teorias contidas na prática docente, e principalmente da importância
do papel indispensável do educador, na formação intelectual,
cultural e cidadã dos seus alunos.
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