Isnary Aparecida Araujo da Silva - Secretaria
Municipal de Educação- CAMPINAS ( S.E.C.)
“...Essas crianças não aprendem...”
– “Não sei o que fazer com elas...” Atualmente
essas falas tem sido muito empregadas pelos professores , por não
conseguirem fazer com que todos alunos aprendam.Com isso os alunos por
vezes ficam sendo rotulados e estigmatizados perante o grupo.
O não – aprender, ao longo da história de escolarização
do Brasil sempre buscou “criar” culpados para este fato. E
na maioria das vezes, o culpado, o incapaz, é o aluno.
Este sempre é visto como o que tem:
- déficit cultural
- déficit nutricional
- falta de maturação biológica, entre outros.
Mas estes fatores não podem ser vistos isoladamente, determinantes
no processo ensino-aprendizagem de nossas crianças. Como se fosse
uma relação de causa-conseqüência: “ falta
isto, logo não aprende”.
Devemos sim pensar o que podemos fazer para garantir que todos aprendam.
E foi com o intuito de desmistificar o não aprender que surgiu
a proposta do grupo “sujeitos organizando saberes” Este grupo
crianças de 3ª e 4ª séries de uma escola municipal
da periferia de Campinas e que são tidas como “portadoras
de dificuldades” em aprender “ ler e escrever”, vem
demonstrando todo o seu potencial perante ao universo da escrita.
Crianças estas que revelam uma gama de conhecimentos sobre a língua
e que por vezes são ignorados pelo atual forma que a escola esta
organizada.
A TEORIA:
Parceiras de projeto e acreditando no que as crianças podem nos
revelar sobre a escrita, eu e a minha orientadora, resolvemos discutir
as bases teóricas que perpassam nosso trabalho para que nossa proposta
junto as crianças tomassem alguns “nortes” :. Foram
eles:
Alfabetização como:
Enfatizando o caráter simbólico da escrita, sistema de signos
cuja essência reside no significado subjacente a ela, o qual é
determinado histórica e culturalmente, desse modo...uma palavra
escrita é relevante pelo seu significado compartilhado pelos membros
da comunidade.
Enfatizando os usos sociais da escrita, ou seja, as diversas formas pelas
quais uma determinada sociedade utiliza-se efetivamente dela;
Escrita verdadeira em contraponto a escrita escolar, que não corresponde
aos usos sociais;
Desafio de habilitar o aluno aos diversos usos da linguagem escrita e
oral, numa perspectiva crítica, formar o leitor e o produtor de
textos tendo em vista o aprimoramento da cidadania.
“ ... A escrita, sem função explícita na escola,
perde o sentido; não suscita e até faz desaparecer o desejo
de ler e escrever. A escrita, na escola, não serve para coisa alguma
a não ser ela mesma. Evidencia-se uma redundância: alfabetizar
para ensinar a ler e a escrever.” (SMOLKA, 1991, p.38)
Escola:
Como sendo capaz de fazer aguçar “A capacidade de utilizar
a linguagem escrita para informar-se, expressar-se, documentar, planejar
e continuar legados da escola”.
Após chegar as definições acima
citadas é que passamos a envolver o aluno no projeto.
A PRÁTICA DO GRUPO:
As professoras da 3ª e 4ª séries da escola onde vem sendo
realizado o projeto na periferia de Campinas, foram convidadas pela orientadora
pedagógica a selecionar os alunos que elas julgavam que não
estavam alfabetizados para fazerem parte de um grupo de estudos que visava
colaborar na desconstrução e reconstrução
do processo de alfabetização Isto porque, a escola demonstrava
um grande índice de retenção e evasão nas
séries iniciais.
Com o intuito de não “deixar” participar crianças
que tinham somente erros ortográficos , foi aplicado uma prova
que envolvia , leitura, compreensão da mesma e escrita. Alunos
que liam, compreendiam e só possuíam erros na construção
ortográfica foram deixados de lado pois o trabalho não tinha
como enfoque este tipo de trabalho.
Assim ficaram no grupo os alunos tidos pela escola como “nós”
na escola. Pois estes eram rotulados como “bagunceiros” “que
não aprendiam”.
METODOLOGIA:
Por limitações de espaço/ carga horária dos
profissionais envolvidos o trabalho ficou restrito a um encontro semanal
com aproximadamente 2 horas. Neste encontro discutimos um tema escolhido
ou não pelo grupo, escrevemos o que sabemos sobre o assunto; em
seguida pesquisamos mais sobre o assunto em questão e os novos
conhecimentos são transcritos e para finalizar após a intervenção
mais especifica eles colocam o texto no computador.
CONSIDERAÇÕES:
É um trabalho que demanda tempo para se ter um resultado mais “palpável”,
mas o até o momento o que tem ficado de mais marcante para mim
é o fato de que alunos que não produziam nenhum registro
escrito em sala , estão cada vez mais se arriscando em escrever
mesmo que tenha muitos erros ortográficos e o texto não
fique totalmente legível
BIBLIOGRAFIA:
FREIRE, Paulo Pedagogia da autonomia Paz e Terra,São
Paulo,1998
____________ A importância do ato de ler, Cortez, São Paulo,1997
PATTO, Maria H.S. A produção do fracasso escolar Casa do
Psicólogo São Paulo, 2000
SMOLKA Ana L. B. A criança na fase inicial da escrita, Cortez Campinas,
1991