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CRIANDO
ESPAÇOS DE INFORMAÇÃO E LEITURA: IMPLANTAÇÃO
DE BIBLIOTECA COMUNITÁRIA E PROGRAMAS DE LEITURA JUNTO À COMUNIDADE
DE VILA ALIANÇA (RIO DE JANEIRO, RJ)
1. Justificativa Vivemos num país com desigualdades extremas, não só no campo econômico, dimensão primeira e multiplicadora de desigualdades, como também no campo social e cultural. Reconhecer na dimensão cultural a saída para a reversão desse quadro é o desafio posto pelo Projeto Virando o Jogo. Projeto estratégico idealizado pela equipe de técnicos do SESC Tijuca e implantado na comunidade do Morro dos Macacos, localizada na Grande Tijuca, desde novembro de 2003. Definido como projeto de ação comunitária, Virando o Jogo tem como eixo de suas ações a inclusão social a partir da cultura. A intenção é ir além da ampliação das oportunidades de acesso ao patrimônio cultural e informacional (escola, teatro, cinema, bibliotecas, museus), historicamente negado aos setores mais empobrecidos de nossa população, buscando criar condições reais e efetivas de inclusão, de modo que uma vez inclusos nesse universo dele não sejam mais apartados. Que nele permaneçam, tendo domínio e conhecimento de suas ações, discursos e expressões, sendo inclusive capazes de produzir e gerir, de forma autônoma, todo o patrimônio cultural e informacional que lhes forem legados, assim como capazes de requerê-los e defendê-los quando lhes forem negados. Significa dizer que mais do que ter acesso aos bens culturais e informacionais os sujeitos devem ser capazes de conhecê-los em todas as suas dimensões (educacional, social, estética, lúdica etc.) para deles fazerem uso da melhor forma possível. Sob esse aspecto, o direito à informação e à leitura se coloca como fundamentais para a democratização das oportunidades educativas e culturais, especialmente quando nos deparamos com uma região servida apenas por duas bibliotecas públicas (Biblioteca Popular da Tijuca e do Grajaú), e nenhuma biblioteca comunitária. O que se encontra nas Associações Comunitárias são livros diversos armazenados em salas, o que não significa que constituam bibliotecas, seja por questões técnicas (documentos não tratados de modo que possam ser localizados) seja por questões teóricas (organização da coleção). Trata-se de acervos doados, fruto de campanhas, e que não revelam uma identidade com a comunidade, com seus desejos de leitura e com suas necessidades informacionais, e que por isso permanecem sem uso. O projeto Virando o Jogo trouxe para dentro da Unidade do SESC Tijuca crianças e jovens da comunidade do Morro dos Macacos, comunidade onde encontramos carências diversas, principalmente de espaços de informação e leitura. O que ocorre com nessa comunidade ocorre em outras. Há uma sala com livros, mas sem nenhuma seleção e organização de modo que possam ser amplamente usados por todos. Inclusive em perguntas às crianças do projeto sobre a existência desses livros todas afirmaram que desconheciam. A ausência do poder público no que diz respeito às políticas de democratização do acesso à informação e à leitura se revela quando observamos que há no complexo dos macacos quatro escolas, mas não há nenhuma biblioteca, nem mesmo escolar. Acreditamos que a criação de uma biblioteca comunitária no Morro dos Macacos vai ao encontro da proposta do projeto à medida que traz para os sujeitos envolvidos a possibilidade real de terem dentro de seu território um espaço que contemple suas necessidades culturais e informacionais. Espaço este que guardará a matéria primordial para a formação do gosto pela leitura: os livros, os textos, as histórias: impressas, contadas, cantadas, enfim, os leitores novos e velhos. 2. Objetivos: Criar na
Comunidade dos Macacos um espaço de leitura e de informação
a partir da criação de uma biblioteca comunitária. 3. Fundamentação Teórica: O projeto que ora se desenha tem como aporte teórico o pensamento de Luiz Milanesi em especial suas reflexões sobre a função social da biblioteca e sua dimensão informacional e cultural. Trás também as discussões de Paulo Freire, cuja pedagogia prima pela respeito aos itinerários culturais e formativos dos grupos a que se destina. Tomando como base o pensamento de Freire e Milanesi, podemos definir a biblioteca como espaço múltiplo e antagônico, pois guarda a diversidade do conhecimento humano. Espaço este que por ser interdisciplinar, abriga o conflito salutar das intervenções múltiplas, fundamentais para a produção do conhecimento, para a realização de novas sínteses, rechaçando velhas teses, tradicionalmente usadas em abordagens conservadoras, de que o conhecimento se dá de forma acumulativa, como se os sujeitos fossem tábuas rasas onde o pudéssemos inscrever os conteúdos que desejássemos, desrespeitando sua individualidade, seus conhecimentos, sua história, seu itinerário cultural e educativo. As bibliotecas são também centros de educação permanente no sentido de terem sob sua guarda (em acervos) segmentos do pensamento humano acumulados em milênios, num universo múltiplo, onde além do texto impresso encontramos outras linguagens e formas de expressão (música, a fotografias, vídeos, etc.); são também espaços propícios às trocas entre aqueles que já detêm algum tipo de conhecimento e querem apenas continuar aprendendo e aqueles que estão apenas começando a entender o significado das primeiras palavras. Suas atividades se estendem à promoção da cultura e do lazer e ao acesso e compreensão dos chamados direitos de cidadania, estando entre eles o direito à informação e à cultura. De acordo com sua função social o papel da biblioteca vai tomando cores distintas. As bibliotecas comunitárias só têm crédito diante da comunidade quando levam em conta seus anseios e aspirações. Ou seja, as demandas de informação, conhecimento, lazer e cultura de seus usuários. Demandas estas que podem estar relacionadas às necessidades estéticas como à própria realidade objetiva, como, por exemplo, dominar técnicas de um determinado ofício para poder produzir e sobreviver. Falar de
implantação de bibliotecas comunitárias significa
falar de democratização da informação, por
isso precisamos rever o conceito de acesso para não confundi-lo
com o de manuseio. Ou seja, o simples fato de a biblioteca estar de portas
abertas, permitindo que quaisquer pessoas possam manusear os materiais,
não significa acesso à informação. Acesso
à informação só ocorre quando o usuário
consegue entender e aproximar-se do conteúdo da informação
acrescentando novos dados ao conhecimento anteriormente apreendido. Tal
aproximação se dá a partir do seu enfoque, a partir
do seu ponto de vista, do seu interesse. Tal como nas escolas o ato de
conhecer está intrinsecamente relacionado com a visão de
mundo do sujeito, com sua experiência de vida. O acesso, portanto,
caracteriza-se quando o conteúdo da informação torna-se
inteligível, levando o usuário a relacioná-la com
seu conhecimento e permitindo-lhe um e entendimento do mundo, da sociedade
e das relações sociais. Tais questões são
básicas e não poderemos perdê-la de vista quando o
assunto é a implantação de bibliotecas. 4.1 Recursos
humanos: OBS: O controle do acervo de forma automatizada através do Microisis (banco de dados bibliográfico desenvolvido pela UNESCO e distribuído gratuitamente) requer a aquisição de 1 computador e impressora. 5. Metodologia: etapas e procedimentos ? Organização do acervo de livros disponíveis na Associação Comunitária de modo que possa vir a constituir uma Biblioteca. ? Recuperação dos equipamentos existentes na sala que abriga o acervo e aquisição de outros necessários à implantação de bibliotecas: mesas, estantes, cadeiras, etc. ? Estudo de comunidade de modo a conhecer as necessidades informacionais e culturais da comunidade tendo em vista a organização do acervo e implantação dos serviços e atividades. ? Definição do perfil da biblioteca junto com os representantes da comunidade. ? Campanha de doação e seleção das doações de acordo com o perfil da biblioteca. ? Parceria com editoras tendo em vista a ampliação e diversificação do acervo. ? Organização do acervo básico oriundo das doações recebidas pela Associação. ? Descrição do acervo e implantação de rotinas de trabalho (empréstimo e consultas ao acervo). ? Formar auxiliares de biblioteca de modo que a assessoria possa implantar as rotinas básicas de atendimento e manutenção de acervo. ? Criar um roteiro de atividades culturais: cursos, oficinas, rodas de leitura, contação de histórias, concurso literários, etc. ? Desenvolver uma rede de solidariedade cultural que capacite talentos da comunidade no campo das expressões artísticas. 6. Avaliação O projeto será avaliado no início de sua implantação, durante o processo e quando estiver em funcionamento a partir do contato direto com a comunidade e através de entrevistas junto aos usuários da biblioteca. Referências Bibliográficas: ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Bibliotecas públicas e bibliotecas alternativas. Londrina: UEL, 1997.
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