Silvana Varanese Tadei (UNISAL/SP)
A vida começa apenas no momento em que uma enunciação
encontra
outra, isto é, quando começa a interação verbal,
mesmo que não seja
direta, “de pessoa a pessoa”, mas mediatizada pela literatura.
(Bakhtn)
Esse relato divulga experiência vivenciada no curso
de Pedagogia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo,
Unisal, Campus Santa Teresinha, nas disciplinas de Metodologia do Ensino
de Português e Matemática, a partir da leitura e elaboração
de atividades interdisciplinares com o uso de livro paradidáticos
destinados a séries iniciais. A narrativa constitui-se num elo
entre as diferentes áreas do conhecimento, caracterizando-se como
um recurso de grande potencial no processo de ensino aprendizagem.
Através de uma imensa preocupação no tocante a leitura
e produção de texto, no segundo ano do curso de Pedagogia,
após pesquisa realizada entre os alunos, onde os mesmo afirmam
que sabem o que querem escrever e como querem escrever, mas não
conseguem escrever, interdisciplinarmente aplicamos uma atividade que
envolve Português e Matemática, através da leitura
e posteriormente proposta de atividades com livros paradidáticos.
O livro paradidático utilizado para essa atividade “As Três
Partes” com texto e ilustrações de Edson Luiz Kozminski,
editora Ática, foi lido aos alunos que acompanharam a leitura com
interesse e se mostraram envolvidos a cada informação visual
da imagem das páginas do livro que a medida em que era lido, sempre
era mostrado, página a página para a sala de aula. Abaixo,
cópia do citado livro paradidático:
Era uma vez uma casa
Que estava com vontade de ser outras coisas além de ser uma casa.
Por causa disso ela se desmontou em três partes.
As Três Partes ficaram pensando juntas o que elas poderiam formar.
Enquanto isso, alguns pássaro passaram voando e As Três Partes
gostaram muito da idéia... e foram ser pássaros também.
Os pássaros voaram para o mar... No mar navegam muitos barcos...
as Três Partes gostaram do que viram e foram pra água ser
barco também.
Enquanto o barco navegava, As Três Partes viram muitos peixes que
nadavam na água... elas, então, pularam para dentro da água
e foram ser peixe também.
Os pássaros comem peixes! Aconteceu, então, que As Três
Partes, que formavam um peixe, foram parar na barriga de um pássaro...
e justamente na barriga de um pássaro formado por outras três
partes!
E assim As Três Partes voltaram a fazer parte de um pássaro
que... voou... voou... e passou perto de uma janela do último andar
de um prédio bem alto. Lá, uma vovó regava suas plantas.
As Três Partes ficaram com vontade de ser regadas também.
E formaram uma planta e um vaso.
As Três Partes gostaram de ser planta e ficar crescendo... crescendo...
aos pouquinhos...
Então, num dia em que os netos da vovó vieram visitá-la
e brincavam de adivinhações, As Três Partes pularam
da janela pra dentro da brincadeira e desafiaram os netos a descobrir
qual era o bicho que elas estavam formando, dizendo ainda que esse bicho
gostava de visitar galinheiros...
Os netos da vovó logo reconheceram que era uma raposa de focinho
pontudo.
Depois, As Três Partes inventaram outras brincadeiras... elas formaram
uma ponte. E as crianças andaram em cima dessa ponte...
As Três partes formaram também... um escorregador. As crianças
escorregaram nele.
Depois, As Três Partes formaram... uma gangorra.
E, por fim, brincaram de esconde-esconde com as crianças...
Que de tanto procurar encontraram As Três Partes!
Quando anoiteceu, as crianças voltaram para casa, e As Três
Partes e a vovó ficaram conversando... a conversa foi ficando animada,
divertida... As Três Partes estavam gostando tanto da vovó,
que disseram que, se ela quisesse, ficariam morando ali, e assim poderiam
se divertir bastante e contar muitas histórias juntas.
A vovó gostou muito da idéia! E, para comemorarem, As Três
Partes e a vovó colocaram um disco na vitrola e dançaram
cada uma a seu jeito.
Conforme o combinado, As Três Partes ficaram morando com a vovó
e assim puderam conhecê-la melhor, em detalhe, e cada vez mais gostavam
dela. Por isso resolveram fazer uma surpresa... um presente... algo que
a vovó volta e meia falava...
Uma casa...
Numa cidadezinha!...
Uma casa com um grande terreno em volta para ela plantar e cuidar de um
jardim. E para ela receber a visita dos seus netos, onde eles poderiam
continuar a se divertir bastante com a vovó e As Três Partes.
Após a leitura, foram propostas as seguintes atividades:
1. Após a leitura do livro, houve a distribuição
do molde do quebra cabeças tangram sendo solicitado para que cada
aluno localizasse as três partes. Através dessa proposta
os alunos perceberam a importância da leitura visual.
2. Observação e manipulação
do molde do quebra cabeças tangram, para reconhecimento e montagem
do material. Após a montagem com EVA, foi trabalhada a relação
Português/Matemática na grafia dos nomes da peças
do tangram – quadrados, paralelogramos e triângulos pequenos,
médios e grandes, associando sempre as peças do quebra cabeças
com o livro lido.
3. Com o tangram montado, os alunos tiveram alguns minutos
para montar o que a quisessem com o tangram... tartaruga, coelho, peixe,
pássaro, barco, etc.
4. Na quarta atividade, a sala recontou a história,
através das figuras que cada um conseguiu formar com o tangram.
5. Cada aluno escreveu uma nova história.
Desenvolver a habilidade de escrever e resolver problemas
pode criar conexões entre o entendimento informal que o aluno traz
para a sala de aula e o conhecimento formal esboçado pelo currículo
Português/Matemática.
Essa atividade interdisciplinar pôde propiciar um momento para aprender
novos conceitos ou utilizar os já aprendido.
Os paradidáticos, poesias, histórias, fábulas, contos,
enfim... Proporcionam contextos que trazem múltiplas possibilidades
de exploração e formulação de questões,
até desenvolvimento de múltiplas estratégias de resoluções
das questões colocadas.