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ARTICULAÇÕES
ENTRE AS CONCEPÇÕES TEÓRICAS SUBJACENTES AOS PLANOS
DE TRABALHO DOS DOCENTES E AO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
Sônia Regina Brum Pinheiro [soniarbp@yahoo.com.br]
Thaís Ribeiro Pagliarini [trp4951@yahoo.com.br]
Eduardo A. Terrazzan [eduterra@smail.com.br]
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
1. INTRODUÇÃO
Neste trabalho, apresentaremos os resultados da análise
do Projeto Educativo, Plano de Estudos e Planos de Trabalho do Centro
Educacional Nossa Senhora da Providência (CENSP), escola da rede
particular de ensino que atende a uma demanda de alunos da Educa-ção
Infantil à 8ª série do ensino fundamental, localizada
em Santa Maria, Rio Grande do Sul.
Na análise desses documentos, buscamos identificar as formas em
que neles se mani-festam as concepções teóricas referentes
aos princípios da educação definidos pela LDB nº
9394/96 e as diretrizes curriculares nacionais para o ensino fundamental
estabelecidas pelo Parecer CEB nº 04/98. Avaliamos o grau de coerência
que estes documentos guardam entre si, observando se os aportes teóricos
que sustentam o Projeto Político-pedagógico desta esco-la
também servem de referencial para a elaboração do
Plano de Estudos e para a construção dos Planos de Trabalho
pelos docentes.
A investigação restringiu-se ao Plano de Estudos e aos Planos
de Trabalho das discipli-nas de Língua Portuguesa e de Matemática
a serem implementados na Instituição, objeto de pesquisa,
em turmas de 5ª à 8ª séries, no segundo trimestre
de 2005.
2. O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO
Na reforma educacional expressa na Lei 9394/96, podemos
perceber que a visão educa-tiva é diferente da apresentada
até então. Não é uma visão tão
cartesiana, mas muito mais complexa. Não é uma proposta
que trata de mudar apenas um programa educacional, mas trata de mudar
a forma de pensar, a forma de organizar o conhecimento
A LDB nº 9394/96 institui, em seu art. 32, que o ensino fundamental
tem por objetivo a formação básica do cidadão,
mediante: o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios
básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político,
da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição
de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes
e valores; o fortalecimento dos vínculos de família, dos
laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca
em que se assenta a vida social.
Para orientar as práticas educacionais brasileiras, a Câmara
de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação,
através da Resolução nº 02/98 e do Parecer nº
04/98, estabe-lece Diretrizes Curriculares para o ensino fundamental.
Essas Diretrizes determinam que as escolas devem estabelecer princípios
norteadores de suas ações pedagógicas, como: os Princí-pios
Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do
Respeito ao Bem Co-mum; os Princípios Políticos dos Direitos
e Deveres de Cidadania, do exercício da criticidade e do respeito
à Ordem Democrática; os Princípios Estéticos
de Sensibilidade, da Criatividade e da Diversidade de Manifestações
Artísticas e Culturais.
As práticas pedagógicas das escolas deverão estar
fundamentadas nestes princípios, pois é através da
Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do Respeito ao Bem
Co-mum que a Ética fará parte da vida cidadã dos
alunos; da mesma forma, os Direitos e Deveres de Cidadania e o Respeito
à Ordem Democrática introduzirão cada aluno na vida
em socieda-de, que busca a justiça, a igualdade, a eqüidade
e a felicidade para o indivíduo e para todos; o exercício
da Criticidade estimulará a dúvida construtiva, a análise
de padrões em que direitos e deveres devam ser considerados na
formulação de julgamentos; assim como a criatividade, que
estimula a curiosidade, o espírito inventivo, a disciplina para
a pesquisa e o registro de experiências e descobertas, e, também,
da Diversidade de Manifestações Artísticas e Cultu-rais,
reconhecendo a imensa riqueza da nação brasileira em seus
modos próprios de ser, agir e expressar-se.
As escolas, ao definirem suas propostas pedagógicas, deverão
explicitar o reconheci-mento de identidades pessoais, pois esta é
uma diretriz para a Educação Nacional relacionada ao reconhecimento
das diversidades e peculiaridades básicas relativas ao gênero
masculino e feminino, às variedades étnicas, de faixa etária
e regionais e às variações sócio-econômicas,
culturais e de condições psicológicas e físicas,
presentes em nossos alunos.
Também deverão reconhecer que as aprendizagens são
constituídas na interação entre os processos de conhecimento,
linguagem e afetivos, como conseqüência das relações
entre as diferentes identidades dos vários participantes do contexto
escolarizado, através de ações inter e intra-subjetivas;
as diversas experiências de vida dos alunos, professores e demais
partici-pantes do ambiente escolar, expressas através de múltiplas
formas de diálogo, devem contri-buir para a constituição
de identidades afirmativas, persistentes e capazes de protagonizar ações
solidárias de conhecimentos e valores indispensáveis à
vida cidadã.
Ao planejar suas propostas pedagógicas, portanto, seja através
dos PCNs, seja a partir de outras propostas curriculares, os professores
e equipes docentes, nas respectivas escolas, deverão buscar as
correlações entre os conteúdos das áreas de
conhecimento e o universo de valores e modos de vida de seus alunos.
Neste sentido, é importante fazer alguns esclarecimentos sobre
currículo, pois atualmen-te o conceito de currículo envolve
outros três, que são: currículo formal (planos e propostas
pedagógicas), currículo em ação (aquilo que
efetivamente acontece nas salas de aula e nas escolas), currículo
oculto (o não dito, aquilo que tanto alunos, quanto professores
trazem, car-regado de sentidos próprios, criando as formas de relacionamentos,
poder e convivência nas salas de aula). Por isso, fazer referência
a um paradigma curricular é estar se referindo a uma forma de organizar
princípios Éticos, Políticos e Estéticos que
fundamentam a articulação entre as Áreas de Conhecimentos
e aspectos da vida cidadã.
Assim, as escolas com suas propostas pedagógicas estarão
contribuindo para um projeto de nação, em que aspectos da
Vida Cidadã, expressando as questões relacionadas com a
Saú-de, a Sexualidade, a Vida Familiar e Social, o Meio Ambiente,
o Trabalho, a Ciência e a Tec-nologia, a Cultura e as Linguagens,
se articulem com os conteúdos mínimos das Áreas do
Conhecimento.
Uma das diretrizes fundamentais da educação nacional é
a de que, uma vez respeitadas as características regionais e locais
da sociedade, da cultura, da economia e da população ser-vida
pelas escolas, todos os alunos terão direito de acesso aos mesmos
conteúdos de aprendi-zagem, a partir de paradigma curricular apresentado
dentro de contextos educacionais diver-sos e específicos.
Dentro do que propõem as Diretrizes Curriculares Nacionais, são
importantes algumas observações: a busca de definição,
nas propostas pedagógicas das escolas, dos conceitos espe-cíficos
para cada área de conhecimento, sem desprezar a interdisciplinaridade
entre as várias áreas; a compreensão de que, das
propostas curriculares e pedagógicas das escolas, devem integrar
bases teóricas que favoreçam a organização
dos conteúdos do paradigma curricular da base Nacional Comum e
sua Parte Diversificada, visando a ser conseqüente no planeja-mento,
desenvolvimento e avaliação das práticas pedagógicas;
a cautela em não adotar apenas uma visão teórico-metodológica
como a única resposta para todas as questões pedagógicas.
Ainda, as escolas deverão explicitar, em suas propostas curriculares,
processos de ensi-no voltados para as relações com sua comunidade
local, regional e planetária, visando à inte-ração
entre a Educação Fundamental e a Vida Cidadã, pois
constitui-se um grave problema da educação brasileira sua
distância em relação à vida e a processos sociais
transformadores. Um excessivo academicismo e um anacronismo em relação
às transformações existentes no Brasil e no resto
do mundo, de um modo geral, condenaram a Educação Fundamental,
nas últimas décadas, a um arcaísmo que deprecia a
inteligência e a capacidade de alunos e professores e as características
específicas de suas comunidades. Esta diretriz, em consonância
especial-mente com o art. 27 da LDB, prevê a responsabilidade dos
sistemas educacionais e da unida-des escolares em relação
a uma necessária atualização de conhecimentos e valores,
dentro de uma perspectiva crítica, responsável e contextualizada
.
Nessa perspectiva, através de possíveis projetos educacionais
regionais dos sistemas de ensino, através de cada unidade escolar,
transformam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais em currículos
específicos e propostas pedagógicas das escolas, porém
para o êxito da realiza-ção dessas diretrizes são
indispensáveis o espírito de equipe e as condições
básicas para pla-nejar os usos de espaço e tempo escolar.
3. BREVE CARACTERIZAÇÃO DOS DOCUMENTOS ANALISADOS
Na caracterização dos documentos a seguir,
selecionamos alguns aspectos sobre os quais faremos uma análise.
A necessidade dessa seleção foi devido ao limite de laudas
estipu-ladas para este trabalho o que não dificultou o estudo a
que nos propusemos, pois contem-plamos todos os elementos da estrutura
dos documentos.
O PROJETO EDUCATIVO DA ESCOLA
A comunidade educativa do Centro Educacional Nossa Senhora
da Providência constru-iu seu Projeto Educativo a partir da reflexão
sobre os pressupostos da Legislação vigente, definindo uma
proposta pedagógica que tem como intenção contemplar
as atuais diretrizes educacionais, o que percebemos nos objetivos da Instituição
e nas concepções que fundamen-tam uma prática sócio-educativa:
concepção de sociedade, concepção de educação,
concepção de currículo, concepção de
conhecimento e concepção de metodologia, expressos no referido
Projeto.
Os objetivos contidos no Projeto Educativo do CENSP, citados abaixo, visam
a atender o que determina essa legislação:
a) assumir a educação como processo de construção
do conhecimento, buscando uma prática transformadora;
b) respeitar a dignidade humana, os direitos e os deveres da criança,
do adolescente e dos jovens;
c) desenvolver no educando o raciocínio lógico, as atividades
de expressão e de inte-gração no meio físico
e social;
d) integrar-se à comunidade e às necessidades de cada momento
histórico;
e) buscar o domínio dos recursos científicos e tecnológicos
que possibilitem ao edu-cando a compreensão da realidade, assumindo
posicionamento crítico frente à mesma;
f) acompanhar a evolução do mundo globalizado;
g) educar com método preventivo, identificando as dificuldades
do educando, acom-panhando-o constantemente;
Apresentamos também as concepções
do processo de ensino e aprendizagem que repre-sentam os referenciais
epistemológicos, pedagógicos, psicológicos e sócio-antropológicos
norteadores da prática sócio-educativa da escola:
Entre as concepções que fundamentam a prática sócio-educativa
da escola, destacamos algumas que estão mais direcionadas à
construção do Plano de Estudos e dos Planos de Traba-lho
dos professores:
• Concepção de sociedade
A sociedade atual está baseada no sistema capitalista, em que predominam
os valores materiais, a individualidade, a exclusão, onde o ter
predomina sobre o ser, deixando de lado os verdadeiros sentimentos humanitários,
cristãos e religiosos.
Nesta sociedade, onde a desigualdade e a individualidade são referenciais
predominan-tes, precisamos preparar o educando para enfrentar tais diversidades
e buscar subsídios com vistas a transformar o ambiente em que vive,
contribuindo para a construção de uma socieda-de em que:
a) a família assuma sua missão na promoção
das pessoas;
b) haja abertura a outras filosofias e religiões, conservando a
identidade cristã de nossa pedagogia;
c) defenda, promova a VIDA humana e sua integridade para alcançar
seu pleno desen-volvimento na comunhão com Deus;
d) favoreça ao crescimento integral com respeito e acolhida às
pessoas, indistintamen-te;
e) assuma a educação como processo de humanização
e de apropriação e construção do conhecimento
a serviço de uma transformação social, construindo,
assim, uma nova civilização: a CIVILIZAÇÃO
DO AMOR;
f) vise à cultura da caridade, amadurecendo a consciência
social, pois a promoção das pessoas é um dever de
justiça e de amor.
• Concepção de educação
A Educação, segundo o Padre Luís Guanella, é
essencialmente, “Obra do Coração”. Neste sentido,
assumimos a proposta de EDUCAR E PROMOVER AS PESSOAS. Educar e promover
constituem um processo no qual brotam sentimentos, pensamentos, intenções,
pro-jetos e decisões.
Nosso processo educativo visa ao indivíduo como sujeito do próprio
desenvolvimento, oportunizando o crescimento de todos, indistintamente.
Procura harmonizar o homem, aten-dendo as suas diferenças individuais,
desenvolvendo plenamente o seu pensamento e habili-dades na busca de valores,
onde o estilo de vida e educação sejam a expressão
do amor.
A educação é um processo contínuo que ocorre
no momento em que o ser humano inte-rage com o meio do qual ele faz parte
(escola, família, sociedade) com o intuito de transfor-má-lo,
auxiliando no processo de construção.
Busca, na família e na sociedade, colaboradores para realizar a
construção do conheci-mento, valorizando a emoção,
habilidade, criatividade, promovendo a educação como apro-priação
e produção do saber que prepara o educando para os avanços
tecnológicos a serviço do bem comum: educação
com qualidade.
Sintoniza harmonicamente com Deus que nos fez a Sua imagem e semelhança
e com Maria, Mãe da Providência.
• Concepção de currículo
Quanto à elaboração curricular, considera-se necessária
a “transposição didática”, en-quanto
integração dos conceitos científicos ao contexto
do saber escolar. Porém, é indispen-sável a vigilância
contra a dogmatização e é imprescindível considerar
as práticas sociais de referência, dos níveis de formulação
dos conceitos e da articulação dos mesmos em redes ou tramas
conceituais.
Autores como Piaget e Ausubel são referenciados com as finalidades
de: explicar a necessária interferência, nas situações
de aprendizagem, de “já-existentes” conceituais ou
“pré-saberes”, que, mesmo sendo falsos do ponto de
vista científico, devem ser eficazmente aproveitados pelo professor;
e justificar a necessidade de “organizadores prévios”
ou “pontes cognitivas”, para a confrontação
do “nível de entrada” dos alunos com o “saber-sábio”
a ser por ele apropriado.
Existem, ainda, características do conhecimento científico
(que o diferenciam do pen-samento comum) a serem levadas em conta na organização
do conteúdo do ensino:
a) o fato de ser construído, coerente e sempre em deslocamento;
b) o de supor atividades de síntese, pelas quais aquisições
pontuais podem ser ressitu-adas no cerne do saber socializado;
c) o de ser constituído de conceitos cuja apreensão se dá
com base em diferentes ní-veis de formulação e cuja
organização não-linear configura verdadeiras redes
ou tramas conceituais.
O modelo pedagógico proposto é o de investigação-estruturação.
Por este modelo, procura-se rearticular dois tipos de aprendizagem: o
que concebe a organização do conteúdo com base na
investigação (privilegiando a aprendizagem por descoberta)
e a partir da estrutu-ração dos conceitos das disciplinas
(privilegiando a aprendizagem por transmissão-recepção),
com vistas a: tornar as aprendizagens significativas, fazendo emergir
os problemas científicos dos problemas de vida; apoiar-se nas representações
dos alunos para a resolução dos proble-mas por um “saber
objetivo”.
• Concepção de conhecimento
O conhecimento deve estar fundamentado em uma concepção
dialética, onde se entende o homem como um ser ativo e de relações.
Assim compreende-se que o conhecimento não é “transferido”
ou “depositado” pelo outro (conforme a concepção
tradicional), nem é “inventa-do” pelo sujeito (concepção
espontaneísta), mas sim construído pelo sujeito na sua relação
com os outros e com o mundo. Isso significa que o conteúdo que
o professor apresenta precisa ser trabalhado, refletido, re-elaborado,
pelo educando, para se constituir em conhecimento dele. Educador e educando
aprendem juntos, numa relação dinâmica de construção,
pautado na realidade do aluno. Esse processo requer respeito às
diferenças individuais, levando o edu-cando a observar e aplicar
o saber adquirido em seu meio social. Caso contrário, o educando
não aprende, podendo, quando muito, apresentar um comportamento
condicionado, baseado na memória superficial.
Nesse sentido, Vygotski assinala :
A experiência pedagógica ensina-nos, não
menos que a investigação teórica, que o ensino direto
dos conceitos é de fato impossível e pedagogicamente in-frutífero.
O professor que insiste em seguir esse caminho em geral não con-seguirá
mais que uma assimilação irrefletida de palavras, um simples
verba-lismo, que simula e imita os conceitos correspondentes na criança,
mas que de fato encobre um vazio. Em tais casos, a criança não
adquire conceitos, mas palavras: assimila mais com a memória que
com o pensamento e mos-tra-se impotente perante toda tentativa de empregar
com sentido os conhe-cimentos assimilados (1934, p. 185).
Os conhecimentos devem ser trabalhados de forma significativa,
contextualizada e in-terdisciplinar a fim de desenvolver a capacidade
de aprender a aprender, ajudando no desen-volvimento integral e na formação
dos educandos.
A apropriação dos conhecimentos, habilidades, hábitos
e atitudes devem auxiliar na compreensão da realidade, nas diferentes
dimensões e preparar o indivíduo para o exercício
da cidadania. Que o SABER adquirido sirva como caminho para aflorar em
cada um os valo-res humanos e cristãos e, assim, propiciar uma
relação mais fraterna entre as pessoas.
Por isso, a proposta curricular da escola precisa edificar-se não
apenas na mera trans-missão de informações, mas no
compromisso de, em primeiro lugar, ajudar no desenvolvi-mento integral
e na formação da personalidade dos educandos. Oferecer aos
mesmos, emba-samento que possibilite a continuidade nos estudos em busca
de novos conhecimentos e reali-zação pessoal.
Para refletir sobre o desenvolvimento integral do sujeito, é fundamental
retomar o que diz Piaget quando ressalta a importância das interações
sociais no processo pedagógico e de desenvolvimento cognitivo das
crianças, conscientizando-nos da importância de olharmos
para este sujeito de forma global e termos a sensibilidade de acompanhar
o desenvolvimento integral do educando, pois não podemos perder
de vista o fato de que, desde que nascemos, caminhamos para a conquista
de uma autonomia no plano físico, emocional e social. Entende um
sujeito que deve desenvolver seus mecanismos para conhecer, sentir e agir,
e que, ao mesmo tempo, vai construindo seu conhecimento do mundo, mas
este está sempre mediado pelo nível alcançado por
seus instrumentos de conhecimento, nesse momento, o que é produto
não apenas de suas capacidades hereditárias, mas da história
de suas interações. Para criar sua explicação,
Piaget situa-se no interior do próprio organismo para mostrar as
transformações que nele se produzem e o levam a converter-se
em um sujeito psicológico e em um ator no mundo, que tem representações
acerca de como é esse mundo.
• Concepção de metodologia do ensino
Existem diversos métodos que poderão ser utilizados para
contemplar a diversidade e a subjetividade de nossos educandos e que nos
permitem um acompanhamento individualizado do processo de construção
do conhecimento, respeitando-se as necessidades e potencialidades de cada
um.
A teoria dialética do conhecimento nos aponta que o conhecimento
se dá basicamente em três grandes momentos: a Síncrese,
a Análise e a Síntese. Se essa é a dinâmica
de conhe-cimento universal, vale também para a situação
pedagógica; apesar das diferenças, existem pontos fundamentais
de aproximação entre a situação do conhecimento
em geral e em sala de aula. (VASCONCELLOS, 1993, p. 45)
Portanto, se queremos que o educando aprenda, não podemos limitar
o ensino ao fazer mecânico, ao desenvolvimento das habilidades de
manipulação de materiais, mas tornar o convívio de
sala de aula contextualizado e significativo. Desde as séries iniciais,
respeitado o grau de profundidade compatível com a etapa de desenvolvimento,
é importante estimular a reflexão sobre a ação
educativa.
Partindo-se da realidade de cada educando, considerando as experiências
que ele traz, numa interação realizada no ambiente escolar,
social e familiar, utilizando recursos capazes de proporcionar uma constante
reflexão e ação, poderemos estar mediando um trabalho
edu-cativo no sentido de propiciar condições para que aflore
neste educando o seu processo criati-vo, tornando-o um sujeito crítico,
solidário e participativo, capaz de transformar-se, mudando o meio
em que está inserido, rumo à conquista de seu desenvolvimento
integral.
A metodologia que norteia nosso processo de ensino e aprendizagem está
fundamentada na pedagogia de projetos, que possibilita uma prática
pedagógica interdisciplinar e permite recriar o fazer pedagógico
e o paradigma da educação inclusiva, tornando a escola um
espaço significativo de aprendizagem.
A partir de uma rede temática, surgem os projetos de trabalho,
com vistas a agir, intera-gir e contribuir para a transformação
social, pois trabalhar com projetos significa pensar na aprendizagem como
um processo global, individual e complexo, no qual, conhecer a realidade
e intervir nela, não são atitudes dissociáveis.
Através desse método, os educandos aprendem participando,
formulando problemas e hipóteses, tomando atitudes diante dos fatos,
investigando, construindo novos conceitos e informações
de forma interdisciplinar e socialmente significativa.
A qualidade deste método, no processo ensino-aprendizagem, depende
do aprimora-mento e da atualização dos educadores, bem como
de todas as pessoas envolvidas com a edu-cação.
? PLANO DE ESTUDOS
O Conselho Estadual de Educação, mediante
a Resolução nº 243/98 e o Parecer nº 323/99, estabelece
as diretrizes para o Sistema Estadual de Ensino. Introduz, também,
a ne-cessidade da elaboração de Plano(s) de Estudos que
orientem os Planos de Trabalho do pro-fessor.
O Plano de Estudo do CENSP está organizado por níveis de
ensino, Educação Infantil e Ensino Fundamental, estabelecendo
os Princípios Norteadores e Objetivos Gerais de cada nível,
a Estrutura do Referencial Curricular contendo a caracterização
e os objetivos gerais de cada uma das áreas, assim como os objetivos
específicos e programas de cada área, tendo co-mo fundamentação
teórica os PCN’s (Parâmetro Curricular Nacional).
Para implementar a proposta pedagógica do CENSP, buscou-se integrar
a comunidade educativa (pais, alunos e professores) ao planejamento do
ano letivo. A partir de questiona-mentos, a comunidade educativa refletiu
e discutiu sobre a importância do que é estudado, em cada
área, para a vida do educando, elencando temas a serem trabalhados
pelos professores durante o ano letivo.
Os temas elencados foram sistematizados por professores e alunos, para
a construção da rede temática que deu origem aos
programas das áreas. Os programas foram organizados a partir de
temas selecionados para serem desenvolvidos em determinados períodos,
deles ori-ginaram-se os conteúdos específicos a cada área.
? PLANOS DE TRABALHO
Os docentes do CENSP, ao construírem seus planos
de trabalho, consideraram as orien-tações existentes no
plano de estudos
Para desenvolver os programas foram construídos os planos de trabalho
com base na metodologia de projetos através de três momentos
fundamentais:
• Primeiro momento (problematização inicial) em que
são apresentadas questões e/ou situações para
discussão com os alunos. Sua função é fazer
a ligação dos conteúdos com situações
reais que os alunos vivenciam.;
• Segundo momento (organização do conhecimento) quando
os alunos ficam frente a frente com idéias, ponto de vista, conceitos
científicos, dos diferentes autores para confrontá-los com
as hipóteses levantadas. É dever do professor criar uma
inquietação saudável entre seus alunos, motivando-os
a aprender.
• Terceiro momento (aplicação do conhecimento) é
destinado a abordar sistematicamen-te o conhecimento que vem sendo incorporado
pelo aluno, para analisar e interpretar tanto as situações
iniciais que determinaram o seu estudo, como outras situações
que não estejam diretamente ligadas ao motivo inicial mas que são
explicadas pelo mesmo conhecimento.
Esses planos de trabalho foram elaborados inicialmente por professores
das áreas, como um meio de trabalhar de forma integrada, contextualizada
e interdisciplinar, e complementa-dos pelos alunos no decorrer da sua
operacionalização.
4. COMPARAÇÃO DO PLANO DE ESTUDOS E DOS
PALNOS DE TRABALHO COM O PROJETO EDUCATIVO
Estruturamos nosso estudo em quatro partes: em três delas, comparamos
o Plano de Es-tudos com o Projeto Educativo da escola, e na quarta parte
comparamos o Plano de Trabalho com o Projeto Educativo.
Na primeira parte, buscamos as relações existentes entre
o Plano de Estudos no que diz respeito aos Princípios norteadores
e Objetivos gerais do Ensino Fundamental com as concep-ções
de sociedade e de educação, por entender que esses aspectos
elencados do Plano de Es-tudos, nos coloca a intencionalidade do ensino
fundamental, que devem estar de acordo com uma concepção
de educação e com o contexto social em que a escola está
inserida.
Na segunda parte, comparamos a estrutura do referencial curricular onde
são definidos: a caracterização de cada área,
os objetivos gerais a serem desenvolvidos, por área, ao longo do
Ensino Fundamental, com a concepção de currículo,
por compreender que essa concepção deve se efetivar na estrutura
proposta.
Na terceira, buscamos as relações entre os objetivos específicos
de 5ª à 8ª séries, das disciplinas de Língua
Portuguesa e Matemática, com a concepção de conhecimento,
porque acreditamos que essa concepção deve ser expressa
através desses objetivos.
Na última, onde se compara os Planos de Trabalho com a concepção
de metodologia, a relação foi decorrente por entendermos
que é nos planos de trabalho que se percebe a imple-mentação
desta concepção.
Para tal estruturação, num primeiro momento, fizemos uma
leitura dos documentos ci-tados e observamos as relações
decorrentes de alguns encontros em pontos específicos.
Num segundo momento, fizemos uma comparação entre esses
documentos tendo por base a legislação vigente, e a transcrevemos
nas tabelas abaixo.
PRIMEIRA PARTE:
PLANO DE ESTUDOS |
PROJETO EDUCATIVO |
Princípios norteadores |
Objetivos gerais |
Concepção de sociedade |
Concepção de educação |
Os
Princípios de Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e
do Respeito ao Bem Comum.
Os
Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de cidadania, do exercício
da Criatividade e do Respeito à Ordem Democrática.
Os Princípios Estéticos
da Sensibilidade, da Criatividade e da Diversidade de Manifestações
Artísticas e Culturais.
|
Compreender
a cidadania como participação social e política, assim como exercício
de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia,
atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando
o outro e exigindo para si o mesmo respeito.
Conhecer
e valorizar a pluralidade do patrimônio sócio-cultural brasileiro,
bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se
contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de
classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características
individuais e sociais;
|
Nesta sociedade, onde a desigualdade e a individualidade são referenciais
predominantes, precisamos preparar o educando para enfrentar tais
diversidades e buscar subsídios com vistas a transformar o ambiente
em que vive, contribuindo
para a construção de uma sociedade
em que:
favoreça
ao crescimento integral com respeito e acolhida às pessoas, indistintamente;
assuma a educação como processo de
humanização e de apropriação e construção do conhecimento a serviço
de uma transformação social, construindo, assim, uma nova civilização:
a CIVILIZAÇÃO DO AMOR;
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Nosso processo educativo visa ao indivíduo
como sujeito do próprio desenvolvimento, oportunizando o crescimento
de todos, indistintamente. Procura harmonizar o homem, atendendo
as suas diferenças individuais, desenvolvendo plenamente o seu pensamento
e habilidades na busca de valores, onde o estilo de vida e de educação
seja a expressão do amor.
A educação é um processo
contínuo que ocorre no momento em que o ser humano interage com
o meio do qual ele faz parte (escola, família, sociedade) com o
intuito de transformá-lo, auxiliando no processo de construção.
|
Podemos notar
nas transcrições da tabela que os princípios norteadores
citados no Plano de Estudo vão ao encontro das concepções
de sociedade e de educação expressas no Projeto Educativo
da escola, pois observamos que ao propor tais princípios (princípios
expressos nas Diretrizes Curriculares Nacionais) e objetivos gerais do
ensino fundamental, a escola busca a formação de um indivíduo
preparado para enfrentar a desigualdade e a individualidade exis-tentes
na sociedade, e transformar o ambiente em que vive. Percebe-se na construção
dos ob-jetivos gerais que há uma valorização de hábitos
e atitudes onde o aluno vivencie a educação como um processo
contínuo, que envolve várias instâncias da sociedade.
Também, a concepção de educação do
CENSP visa ao indivíduo como sujeito do pró-prio desenvolvimento,
oportunizando o crescimento de todos, indistintamente, o que está
rela-cionado diretamente com o princípio de autonomia, elencado
no Plano de Estudos.
Encontramos respaldo para essa análise também nas normativas
legais, quando afirmam que as escolas deverão reconhecer que as
aprendizagens são constituídas na interação
entre os processos de conhecimento, linguagem e afetivos, como conseqüência
das relações entre as diferentes identidades dos vários
participantes do contexto escolarizado, através de ações
inter e intra-subjetivas; as diversas experiências de vida dos alunos,
professores e demais partici-pantes do ambiente escolar, expressas através
de múltiplas formas de diálogo, devem contri-buir para a
constituição de identidades afirmativas, persistentes e
capazes de protagonizar ações solidárias de conhecimentos
e valores indispensáveis à vida cidadã.
SEGUNDA PARTE:
No Plano de Estudos, a estrutura do referencial curricular está
organizada por áreas (disciplinas) onde são definidos: a
caracterização de cada área, os objetivos gerais
a serem desenvolvidos, por área, ao longo do Ensino Fundamental,
os objetivos específicos para 1ª à 4ª séries
e para 5ª à 8ª séries, e os conteúdos para
essas etapas.
A organização do referencial curricular nessa estrutura
demonstra que há coerência com a concepção
de currículo mencionada na proposta pedagógica desta Instituição
que visa à transformação social.
Para melhor esclarecer essa constatação, detivemo-nos na
análise de duas áreas do co-nhecimento, Língua Portuguesa
e Matemática.
PLANO DE ESTUDOS |
PROJETO EDUCATIVO |
Língua
Portuguesa |
Matemática |
Concepção
de currículo |
Caracterização
da área |
Objetivos
gerais |
Caracterização
da área |
Objetivos
gerais |
Quanto à elaboração curricular, considera-se necessário integrar
os conceitos científicos ao contexto do saber escolar. Porém, é indispensável
a vigilância contra a dogmatização e é imprescindível considerar as
práticas sociais de referência, dos níveis de formulação dos conceitos
e da articulação dos mesmos em redes ou |
A
língua é um sistema de signos histórico e social, que possibilita
ao homem significar o mundo e a realidade, pois é por meio da língua
que nos comunicamos, temos acesso à informação, expressamos e defendemos
pontos de vista, partilhamos ou construímos visões de mundo, produzimos
conhecimento.
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Ao
longo dos oito anos do ensino fundamental, espera-se que os alunos
adquiram progressivamente uma competência em relação à linguagem que
lhes possibilite resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso
aos bens culturais e alcançar a participação plena no mundo letrado,
desenvolvendo as capacidades que estão relacionadas
às quatro habilidades lingüísticas básicas: falar, escutar, ler e
escrever.
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Comporta
um amplo campo de relações, regularidades e coerências que despertam
a curiosidade e instigam a capacidade de generalizar, projetar,
prever e abstrair, favorecendo a estruturação do pensamento e o
desenvolvimento do raciocínio lógico.
Também
é um instrumental importante para diferentes áreas do conhecimento,
por ser utilizada em estudos tanto ligados às ciências da natureza
como às ciências sociais e por estar na composição musical, na coreografia,
na arte e nos esportes. |
Possibilitar
a vivência de situações de aprendizagem que levem o aluno a:
identificar
os conhecimentos matemáticos como meios para compreender e transformar
o mundo à sua volta e perceber o caráter de jogo intelectual, característico
da matemática, como aspecto que estimula o interesse, a curiosidade,
o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para
resolver problemas;
estabelecer conexões entre temas matemáticos de diferentes campos e
entre esses temas e conhecimentos de outras áreas curriculares; |
A tabela
acima nos mostra convergência da caracterização da
área e dos objetivos gerais com a concepção de currículo.
Nesta concepção, é dito que é imprescindível
“considerar as praticas sociais de referência, dos níveis
de formação dos conceitos e da articulação
dos mes-mos em rede ou tramas conceituais”. Na caracterização
das áreas elencadas, observamos tal convergência, quando
a Língua Portuguesa é caracterizada como “um sistema
de signos histó-rico e social, que possibilita ao homem significar
o mundo e a realidade”; e a Matemática co-mo um “um
instrumental importante para diferentes áreas do conhecimento,
por ser utilizada em estudos tanto ligados às ciências da
natureza como às ciências sociais”. Quanto aos objeti-vos
gerais dessas áreas, também percebemos convergência
com a referida concepção, a Lín-gua Portuguesa tem
como objetivo “resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso
aos bens culturais e alcançar a participação plena
no mundo letrado”; e a Matemática, “identificar os
conhecimentos matemáticos como meios para compreender e transformar
o mundo à sua vol-ta” e “estabelecer conexões
entre temas matemáticos de diferentes campos e entre esses temas
e conhecimentos de outras áreas curriculares;”
Nesta análise nós percebemos que perpassa na construção
do Plano de Estudos a fun-damentação legal expressa LDB
nº 9394/96, no artigo 32, que no coloca que “o ensino fun-damental
tem por objetivo a formação básica do cidadão,
mediante a compreensão do ambien-te natural e social, do sistema
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fun-damenta
a sociedade”.
TERCEIRA PARTE:
Ainda em relação à comparação do Plano
de Estudos com o Projeto Educativo, consta-tamos que os objetivos específicos
dessas disciplinas, referentes à etapa de 5ª à 8ª
séries, tam-bém são coerentes com a concepção
de currículo, pois observamos que os objetivos específi-cos
das duas áreas em análise, buscam integrar os conceitos
científicos de cada área ao con-texto do saber escolar e
também porque “concebem a organização de conteúdo
com base na investigação e a partir da estruturação
dos conceitos das disciplinas” (nos objetivos específi-cos
de matemática isso está mais explicito). Esses objetivos
também são coerentes com a con-cepção de conhecimento,
cuja constatação exemplificaremos através de alguns
aspectos subli-nhados na tabela abaixo:
PLANO DE ESTUDOS |
PROJETO EDUCATIVO |
Língua
Portuguesa |
Matemática
|
Concepção
de conhecimento |
Objetivos
específicos de 5ª à 8ª séries |
Objetivos
específicos de 5ª à 8ª séries |
O conhecimento deve estar fundamentado em uma concepção
dialética, onde se entende o homem como um ser ativo e de relações.
Os conhecimentos devem ser trabalhados de forma significativa,
contextualizada e interdisciplinar a fim de desenvolver a capacidade
de aprender a aprender, ajudando no desenvolvimento integral e na
formação dos educandos.
Educador e educando aprendem juntos, numa relação dinâmica
de construção, pautado na realidade do aluno. Esse processo requer
respeito às diferenças individuais, levando o educando a observar
e aplicar o saber adquirido em seu meio social. |
Organizar o aprendizado de Língua Portuguesa nessas
séries requer que se reconheçam e se considerem as características
próprias do aluno adolescente, a especificidade do espaço escolar,
no que se refere à possibilidade de constituição de sentidos e referência
nele colocadas, e a natureza e peculiaridade da linguagem e de suas
práticas, proporcionando-lhe desenvolver o domínio da expressão oral
e escrita em situações de uso público da linguagem, levando em conta
a situação de produção social; finalidade ou intenção do autor; tempo
e lugar material da produção, selecionando, a partir disso, os gêneros
adequados para a produção do texto. |
identificar, interpretar e utilizar diferentes representações
dos números naturais, racionais e inteiros, indicadas por diferentes
notações, vinculando-as aos contextos matemáticos e não-matemáticos;
ampliar e construir noções de medida, pelo estudo
de diferentes grandezas, a partir de sua utilização no contexto
social e da análise de alguns dos problemas históricos que motivaram
sua construção;
coletar, organizar e analisar informações, construir e interpretar tabelas
e gráficos, formular argumentos convincentes, tendo por base a análise
de dados organizados em representações matemáticas diversas; |
A comunidade
escolar tem como concepção que “Os conhecimentos devem
ser traba-lhados de forma significativa, contextualizada e interdisciplinar
a fim de desenvolver a capa-cidade de aprender a aprender, ajudando no
desenvolvimento integral e na formação dos edu-candos”
e que “Esse processo requer respeito às diferenças
individuais, levando o educando a observar e aplicar o saber adquirido
em seu meio social”. Percebemos nos objetivos específi-cos
de cada área, coerência com a concepção de
conhecimento desta comunidade, quando a Língua Portuguesa, entre
seus objetivos específicos, busca “desenvolver o domínio
da expres-são oral e escrita em situações de uso
público da linguagem, levando em conta a situação
de produção social”, e a Matemática visa a
“identificar, interpretar e utilizar diferentes represen-tações,
vinculando-as aos contextos matemáticos e não-matemáticos”;
“ampliar noções a par-tir de sua utilização
no contexto social” e “coletar, organizar e analisar informações,
construir e interpretar tabelas e gráficos, formular argumentos
convincentes, tendo por base a análise de dados organizados em
representações matemáticas diversas”.
QUARTA PARTE:
Quanto à seleção dos conteúdos que constituem
os programas de Língua Portuguesa e de Matemática (em anexo),
referentes à etapa de 5ª à 8ª séries, observa-se
uma certa conver-gência com a concepção de conhecimento
no que se refere à contextualização e à interdisci-plinaridade,
pois essa seleção é feita a partir de temas elencados
pela comunidade escolar, relacionados ao contexto social que, para compreendê-lo,
é necessário o estudo de conteúdos das diferentes
áreas do conhecimento de forma integrada.
Busca-se esta integração através de um planejamento
entre disciplinas afins a partir de um tema comum às mesmas, ou
seja, os professores de Língua Portuguesa, Língua Inglesa,
Educação Artística, e Educação Física
construíram seus programas a partir de um mesmo te-ma, assim como
os professores de Matemática e de Ciências; professores de
História, de Geo-grafia e de Ensino Religioso fizeram da mesma
forma.
O programa de cada área é operacionalizado através
dos Planos de Trabalho construí-dos pelos docentes. Esses planos
foram construídos seguindo uma estrutura comum a todas as áreas,
onde são articuladas e elaboradas as propostas pedagógicas.
Na tabela abaixo busca-mos mostrar essa convergência através
de transcrições pontuais.
PLANO DE TRABALHO |
PROJETO EDUCATIVO |
Estrutura |
Concepção de metodologia |
Disciplinas
afins
Tema
Objetivos
Problematização
Organização do conhecimento
Aplicação do conhecimento |
A metodologia que norteia nosso processo de ensino e aprendizagem está
fundamentada na pedagogia de projetos, que possibilita uma prática pedagógica interdisciplinar
e permite recriar o fazer pedagógico e o paradigma da educação inclusiva,
tornando a escola um espaço significativo de aprendizagem.
A partir de uma rede temática, surgem os projetos de trabalho, com vistas a agir,
interagir e contribuir para a transformação social, pois trabalhar
com projetos significa pensar na aprendizagem como um processo global,
individual e complexo, no qual, conhecer a realidade e intervir
nela não são atitudes dissociáveis.
Através desse método, os educandos aprendem participando, formulando
problemas e hipóteses, tomando atitudes diante dos fatos, investigando,
construindo novos conceitos e informações de forma interdisciplinar
e socialmente significativa. |
Observamos
a coerência do Plano de Trabalho com a concepção de
metodologia que de-fine “a metodologia que norteia o processo de
ensino e aprendizagem está fundamentada na pedagogia dos projetos”;
“A partir de uma rede temática, surgem os projetos de trabalho“;
“Através desse método, os educandos aprendem participando,
formulando problemas..., cons-truindo novos conceitos”, por entender
que a estrutura desses Planos aproxima- se da Pedago-gia de Projetos quando
o planejamento é realizado a partir de um tema, e sobre esse são
defi-nidos objetivos que para atingí-los, parte-se de uma problematização
sobre o tema elencado, e, a partir dessa problematização,
são organizados os conhecimentos e a forma de aplicação
dos mesmos.
Considerando os aspectos cognitivos presentes no processo educacional,
a pedagogia de projetos pode dar significação aos conhecimentos.
Nessa perspectiva, os projetos pedagógi-cos, facilitam a interdisciplinaridade,
dinamizam o aprendizado de conceitos (por possibilitar o entendimento
das inter-relações entre eles) e, quando envolvem toda a
escola, são importan-tes para a integração social.
COMPARAÇÃO
DO PLANO DE TRABALHO COM O PLANO DE ESTUDOS
Analisamos a implementação dessa estrutura de Plano de Trabalho,
observando cada uma de suas etapas a partir do pressuposto que o referencial
para a construção desses planos é o Plano de Estudos.
O Plano de Trabalho de Língua Portuguesa a ser implementado em
turmas de 5ª `8ª sé-ries, no período de 30/05
a 02/09/05, apresenta convergências com o Plano de Estudos nos seguintes
aspectos:
• DISCIPLINAS AFINS/TEMA - o professor de Língua Portuguesa,
em conjunto com os professores de Língua Inglesa, Educação
Artística e Educação Física construíram
um único Plano de Trabalho a partir de um tema comum para cada
série, isto é, para 5ª série o tema é
Meio Ambiente cujo enfoque é “relação com o
meio ambiente e o outro”; para 6ª à 8ª séries:
Adolescência, e os enfoques rela-cionados a este tema são:
drogas, sexualidade, música, valorização da vida,
pre-vistos no programa dessas disciplinas que está contido no Plano
de Estudos;
• OBJETIVOS - os objetivos a serem desenvolvidos ao trabalhar com
os referidos temas estão relacionados com os objetivos gerais do
Ensino Fundamental;
• PROBLEMATIZAÇÃO - a problematização
é realizada através de questiona-mentos que visam a despertar
no Educando a curiosidade, estimulando-o à busca de respostas;
• ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO – na organização
do conhecimento, são sinalizados caminhos para a busca de respostas
à problematização.
• APLICAÇÃO DO CONHECIMENTO – a aplicação
do conhecimento é prevista através de ações
concretas de conscientização sobre os problemas levantados
e de como superá-los. Essas ações são integradas,
envolvendo as quatro discipli-nas.
No entanto, não ficam claros, na etapa de organização
do conhecimento, que conteúdos específicos da área
de Língua Portuguesa, previstos em seu programa integrante do Plano
de Estudos, contribuem para essa organização e para a construção
de conceitos sobre o tema. Em decorrência disso, também não
fica explícita a coerência entre os objetivos contidos no
Plano de Trabalho com os objetivos gerais e específicos de 5ª
à 8ª séries desta área.
No Plano de Trabalho de Matemática também implementado em
turmas de 5ª à 8ª séries no mesmo período,
as convergências com o Plano de Estudos ocorrem em menor grau, e
as divergências destacam-se com maior ênfase. Queremos ressaltar,
que essa análise foi feita somente com os documentos, sem que fizéssemos
um acompanhamento mais efetivo das au-las dos professores e da sua proposta
didático-metodológica desenvolvida em sala. Também
não conversamos diretamente com os professores para buscar uma
justificativa ou um enten-dimento no modo como os planos foram estruturados,
talvez isso possa ter influenciado na ocorrência maior no grau de
divergências.
Em relação as disciplinas afins/tema o Plano de Trabalho
do professor de Matemática foi feito em conjunto com a professora
de Ciências e a de Informática, a partir de um tema comum,
elencado para cada série. Isso está de acordo com o que
está expresso no Projeto E-ducativo da escola, especificamente
referido na concepção de conhecimento onde se tem: “Os
conhecimentos devem ser trabalhados de forma significativa, contextualizada
e interdiscipli-nar a fim de desenvolver a capacidade de aprender a aprender,
ajudando no desenvolvimento integral e na formação dos educandos”.
Os objetivos do Plano têm certa relação com os objetivos
gerais do Ensino Fundamental colocados no Plano de Estudos, porém,
são bastante amplos e, como os planos são feitos por áreas
afins, notamos que a Matemática não tem um objetivo claro,
definido. Como não acom-panhamos as aulas do professor, não
podemos definir se isso se dá em razão de se tentar fazer
um trabalho interdisciplinar, ou o professor deixou implícito os
conteúdos por existirem no programa referência aos mesmos.
Também não fica claro na análise se os objetivos
são refe-rentes ao professores (objetivos em estar trabalhando
determinado conteúdo, tema,...) ou são os objetivos que
os alunos devem alcançar.
Diferentemente da analise feita da área de Língua Portuguesa,
acreditamos que os ques-tionamentos feitos, no primeiro momento (problematização),
no Plano de Matemática, da ma-neira como estão colocados,
não são vistos como problemas, não provocam a curiosidade
dos alunos, não os desafiam. Ao problematizarem sua realidade,
os alunos devem identificar situ-ações-problema concretas,
que possibilitam a construção de novos sentidos, do seu
contexto observarem os problemas e para ele deverão levar uma resposta
de seus estudos, visando a aplicar os conhecimentos na solução
dos problemas. Para Paulo Freire, na questão da proble-matização,
o que está sendo enfatizado é o sujeito práxico:
a ação de problematizar acontece a partir da realidade que
cerca o sujeito; a busca de explicação e solução
visa a transformar a-quela realidade, pela ação do próprio
sujeito (sua práxis). O sujeito, por sua vez, também se
transforma na ação de problematizar e passa a detectar novos
problemas na sua realidade e assim sucessivamente. o que não conseguimos
visualizar na proposta de questionamento refe-rida nesse Plano de Trabalho.
Os conteúdos selecionados em função do tema a ser
trabalhado são pouco restritos com relação aos conteúdos
que constam no programa para a Matemática, levando em consideração
a série e o período. E, em alguns Planos, nem chegam a aparecer.
No terceiro momento, que busca ações concretas, enxergar
a forma que o aluno apren-deu e responder à problematização,
encontramos uma única aplicação relacionada diretamente
com a Matemática; uma aplicação que sem as observações
das aulas podemos dizer que o professor vai trabalhar conteúdos
procedimentais “pontuais” da Matemática. Nos demais
pla-nos não ficam claros, em nenhum momento, quais serão
as ações concretas e formas que o aluno mostrará
o que aprendeu de matemática com as propostas colocadas.
5. CONCLUSÃO
Tendo em
vista que a LDBEN estabelece, entre as incumbências da escola e
dos docen-tes, a elaboração e a execução de
sua proposta pedagógica, o cumprimento dos planos de tra-balho
segundo essa proposta e o zelo pela aprendizagem dos alunos, vê-se
através das análises do Plano de Estudos e Planos de Trabalho
construídos pela comunidade escolar do CENSP, uma tentativa em
relacionar o planejamento desses documentos aos aportes teóricos
que fun-damentam o Projeto Educativo, tendo como referência direta
o cotidiano escolar, contribuindo com aquilo a que se propõe, na
perspectiva de adequar e enriquecer as idéias que desenvolve na
sua práxis.
Quanto à construção do projeto pedagógico,
é de conhecimento de todos que a legisla-ção não
estabelece modelo nem fixa parâmetros, no entanto, o Projeto Educativo
da escola, objeto de análise, atende ao que determina a resolução
CEED nº 236/98 quando, em seu pro-jeto pedagógico, expressa
o resultado da reflexão conduzida no ambiente da comunidade es-colar,
fiel a suas circunstâncias e retrato de seus anseios, de suas necessidades
e de suas de-mandas. Faz uma descrição e análise
da realidade imediata e mediata da comunidade em que a escola se insere,
expressa uma opção pedagógica conseqüente da
fixação de metas concretas e da seleção de
metodologia de trabalho capazes de conduzir à consecução
dessas metas, em-bora com algumas divergências encontradas na análise
realizada que podem ser consideradas como um número pouco expressivo
se considerarmos a fase de transição por que passa a edu-cação
brasileira. Divergências essas oriundas da falta de formação
docente necessária. Uma formação que o novo paradigma
em educação exige.
Diante do que estabelece a atual legislação educacional
nacional, a instituição escolar, hoje, deve ser diferente
da instituição escolar de ontem. Mudou o aluno, mudou o
professor. As mudanças tecnológicas podem levar a práticas
escolares diferentes. A isso somam-se tam-bém novos valores, condições
sociais, políticas e econômicas. Dessa maneira, a escola
deve se integrar à comunidade como uma entidade coletiva dentro
de um contexto com práticas, con-vicções e saberes
que se interpõem e se entrelaçam numa história própria
em constante mu-dança. A escola deve ser vista como um centro de
produção de conhecimento, cultura e cida-dania. A complexidade
do mundo atual coloca a necessidade de que os sujeitos, no seu pro-cesso
de formação e construção do conhecimento,
sejam capazes de dominá-lo e justificá-lo. Isso deve ser
feito de maneira substantiva. Os aspectos pedagógicos da escola
são essenciais para o pleno desenvolvimento dos educandos e sua
atuação na sociedade.
O planejamento deve ser a reflexão sobre os desafios da realidade
da escola e da sala de aula, a percepção das necessidades,
a ressignificação do trabalho escolar, a busca de formas
de enfrentamento e comprometimento com a transformação da
prática. A possibilidade de construção do projeto
pedagógico passa pela autonomia da escola e de sua capacidade de
de-linear sua identidade. Para tanto, a escola deve ser espaço
de debates e diálogos fundamenta-dos na reflexão coletiva.
A implantação do regime instituído pela Lei nº
9394/96 é a oportunidade que nos está sendo dada para reformular
a escola brasileira. Não se trata de mudar para, apenas, fazer
dife-rente. Trata-se de mudar para superar os aspectos que impediam a
escola de ser uma escola de qualidade.
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