Vanessa
Maraisa Vacari. Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP
Campus de Marília.
O trabalho
a partir dos projetos de leitura e escrita, pode transformar o espaço
escolar em um espaço aberto à construção de
aprendizagens significativas. Permite por isso, ao aluno constituir-se
como um verdadeiro leitor/produtor de textos, alguém que produz
um discurso inserido numa situação de comunicação,
a partir de situações concretas, em que sabe o que está
fazendo, para quê e para quem o faz, e dessa forma desenvolve estratégias
de autonomia no ato de ler escrever.
A pesquisa em andamento que tem como foco os projetos didáticos
com a língua escrita, vem procurando: (1) constatar o seu reflexo
no desempenho individual e coletivo em sala de aula; (2) demonstrar como
essa estratégia alternativa pode resultar num trabalho mais significativo
e eficiente; e (3) contribuir para que ocorram mudanças nas concepções
do que é leitura/escrita e ensino/aprendizagem na escola pública.
Esta pesquisa que é parte integrante do projeto coletivo e interdisciplinar
do Núcleo de Ensino de Marília. Os sujeitos da pesquisa
são alunos e professores das séries iniciais do Ensino Fundamental
da EMEF Prof. Olímpio Cruz em Marília e da EMEF Natalina
Geib Devito localizada no município de Vera Cruz. Quanto à
metodologia, para atingir tais fins, elegeu-se a pesquisa-ação,
pela própria natureza do trabalho investigativo, que abrange a
reflexão e a discussão com os professores participantes
deste movimento; a compreensão das circunstâncias do processo
de ensino e aprendizagem, exige por fim, a intervenção em
sala de aula, a observação, o registro e a análise
dessas intervenções. Como procedimentos metodológicos
têm-se entrevistas semiestruturadas; depoimentos escritos; registros
escritos (portifólios/ diários de bordo/ semanários/
relatórios diários, enfatizando o implementado, a recepção
do conteúdo, a interação, engajamento e participação,
os resultados, etc.); fotográficos e gravações em
fita de áudio.
Este trabalho é baseado nas pesquisas e teorias de Josette Jolibert
e colaboradores (1994), a partir de projetos de leitura e escrita que
tem sido desenvolvidos na forma de “módulos de aprendizagem”
chamados “canteiros”. A seguir tem-se o desenvolvimento por
etapas de um dos projetos de leitura e escrita que teve como tipo de texto
escolhido “poesias”, que surgiu em um momento privilegiado:
1- Parâmetros
de produção:
Determinar os parâmetros da situação de produção,
é a primeira etapa de toda estratégia de produção
de textos e, portanto, é uma aprendizagem a ser conduzida com exigência,
até que se torne um automotismo para cada criança. Envolve
questões como:
A quem eu escrevo?
Com que objetivo?
Qual é a intenção?
O que vou dizer?
Decidimos com as crianças que elas escreveriam fichas contento
versos ou poesias sobre animais que depositariam em uma urna que seria
aberta depois de três semanas para a primeira escrita.
2- Primeira
escrita
Como havíamos programado, abrimos a urna e pregamos todas as fichinhas
de papel na lousa formando um varal. Discutimos também qual seria
o destinatário real para o escrito a maioria das crianças
preferiram fazer um livro e expor na escola.
Em seguida, solicitamos que as crianças fossem escrevendo suas
poesias sobre um animal que elas poderiam escolher e se quisessem poderiam
utilizar as fichinhas que foram retiradas da urna e pregadas na lousa.
3- Auto-correção
e hetero-correção
No encontro seguinte, iniciamos nosso trabalho distribuindo as poesias
que eles haviam feito na aula passada e solicitando que eles lessem as
próprias poesias, enumerassem os possíveis erros encontrados
sem apagar nada, escrevessem abaixo do texto o modo correto e em seguida,
trocassem com o colega para uma outra correção.
4- Confrontação
com outros escritos sociais do mesmo tipo e estudo da estrutura do texto
Na seqüência, distribuímos a poesia “A foca”
de Vinicius de Moraes, realizando questionamentos para que pudessem perceber
as características dos textos poéticos. A estagiária
realizou também uma breve discussão sobre a atividade e
uma comparação da silhueta da poesia “a foca”
e do texto deles, solicitando quer as crianças desenhassem a silhueta
da poesia “a foca” e em seguida dos textos deles.
5- Reescrita
Na seqüência, as crianças reescreveram seus textos,
alterando suas inadequações e outros aspectos que quisessem.
6- “A
maqueta ou obra prima” (versão final)
Essa etapa é transferir o texto para uma folha limpa, ter o prazer
e a felicidade de escrever com uma caneta hidrocolor.
7- Avaliação
Na seqüência, entregamos uma folha em branco para cada criança
e solicitamos que elas respondessem tais questões que escrevemos
na lousa, para que pudéssemos avaliar os resultados do nosso trabalho:
Você gostou das aulas de poesia?
O que você aprendeu?
8- A pasta
ou dossiê
Para tornar a aprendizagem ainda mais significativa, Jolibert e colaboradores
(1994) a. propõem que cada criança tenha uma pasta chamada
de dossiê para cada tipo de texto trabalhado que vai estruturá-la
em toda sua escolaridade com novas variantes de tipos de textos, ela compreende
o primeiro lance, a “obra prima”, a “silhueta”,
as tabelas de recapitulação, as fichas de avaliação
e os escritos sociais.
Como era previsto as crianças realizaram ao final do trabalho a
construção de um livro e uma exposição no
mural da escola.
Até o presente momento têm sido realizadas discussões
sobre a própria prática de elaboração de atividades
do professor que desenvolva nos educandos as competências discursivas
(lingüísticas + textuais) necessárias aos momentos
da leitura/produção de textos. Os participantes do trabalho
são sujeitos de sua ação no cotidiano do seu local
de trabalho. A opção por essa tendência tem contribuído
para a formação permanente dos docentes das escolas públicas
engajados na pesquisa e também para nossa formação
inicial como pesquisadoras e professoras. Quanto aos alunos podemos perceber
que eles têm desenvolvido maior interesse pelas atividades e que
os projetos tem contribuído para a formação de alunos
autônomos, reflexivos e participativos, como também para
a formação de verdadeiros leitores/produtores de textos.
As crianças têm encontrado seu lugar no mundo da escrita
não mais somente como leitoras e receptoras, mas como produtoras,
como editoras e difusoras, pois, sempre existe uma intenção
real e um destinatário efetivo para seus escritos.
Referências
Bibliográficas
JOLIBERT, J. (cood) Formando crianças produtoras
de textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.