Inês Regina Waitz (Centro Universitário
Anhanguera – UNIFIAN)
Apresentação
Diante das discussões que se faz sobre a Reforma
Universitária, não podemos negar a necessidade de traçarmos
um “olhar” atento para as Instituições Superiores
que precisam acompanhar as mudanças ocorridas na sociedade contemporânea.
Essas Instituições, ao passar dos tempos, passaram a assumir,
além do seu tradicional papel de produtora e divulgadora do conhecimento,
um enorme compromisso com a sociedade. Neste sentido, a extensão
tem papel de destaque, pois a comunidade acadêmica deve comprometer-se
com as demandas sociais e a extensão pode ser uma das estratégias
para isto. Verificamos, porém, que a atividade extensionista pode
contribuir muito mais, superando, inclusive, a estrutura por vezes rígida
dos seus cursos, pois através dela o aluno terá condições
de participar do processo de sua formação, assumindo uma
atitude investigativa do cotidiano, o que possibilitará a construção
de conhecimentos que venham atender às necessidades de sua profissão.
Essa observação, originada de uma situação
prática, levou-nos à finalidade dessa pesquisa, que visa
levantar os resultados de alguns Projetos de Extensão desenvolvidos
na Faculdade de Educação – UNIFIAN – de Pirassununga,
nos cursos de Letras e Pedagogia. O objetivo geral do trabalho, envolvendo
os dois cursos, é verificar como os projetos de extensão
ajudam na formação do professor de educação
básica, examinando a integração entre extensão
e ensino.
No Curso de Letras, o objetivo específico é estudar os resultados
do Projeto de Extensão Comunitária “Literatura Viva”,
desenvolvido desde 2001, e sua contribuição na formação
de leitores e/ou professores de Língua Portuguesa, preocupados
com o trabalho com a leitura.
Procedimentos Metodológicos
Embora caracterizando um estudo de caso, pretendemos
que os dados resultantes da pesquisa contribuam para o desenvolvimento
de conceito de extensão realmente articulado à pesquisa
e, principalmente, ao ensino, já que tratamos de formação
de professores, atendendo às diretrizes legais.
Para dar direção à pesquisa, estabelecemos as seguintes
questões, que nortearão o trabalho:
? Qual é a concepção histórica de extensão
nas Instituições de Nível Superior?
? Qual a concepção de extensão predominante na Instituição,
alvo da pesquisa?
? Em que aspectos os projetos de Extensão auxiliaram o desenvolvimento
da prática docente?
? O Projeto contribuiu para a construção de um professor-leitor?
Para delimitarmos o estudo, analisaremos o desenvolvimento dos Projetos
nos três últimos anos (2002, 2003 e 2004) procurando refletir,
primeiramente sobre a documentação obtida em cada etapa
do projeto. Um segundo passo será, através de entrevistas
e questionários feitos a alguns ex-alunos, que atualmente exercem
a profissão, resgatar informações sobre a contribuição
do Projeto para a sua formação como docente.
Dessa forma, para o desenvolvimento da pesquisa serão seguidos
os seguintes procedimentos:
1º) Levantamento bibliográfico e leitura sobre o conceito
e a história da extensão no ensino superior, buscando identificar
a concepção existente na Instituição alvo
da pesquisa..
2º) Estudo da documentação e registros elaborados por
monitores e supervisores nos períodos de desenvolvimento dos Projetos.
3º) Aplicação de questionário e entrevista aos
ex-monitores que participaram do projeto e hoje exercem a função
docente.
4º) Análise dos dados coletados e redação dos
resultados.
Justificativa - Relevância da pesquisa
A idéia surgiu a partir de uma observação local de
que grande parte dos profissionais que atuam no magistério da educação
básica freqüenta ou freqüentou Instituições
Particulares, na maior parte um curso noturno. Trata-se de alunos-trabalhadores
que enfrentam o problema da falta de tempo desde o período em que
estão em formação. Por outro lado, esse contexto
faz com que as Instituições, que recebem tais alunos, busquem
alternativas para amenizar o problema que os envolve, principalmente no
que se refere ao estudo complementar fora da sala de aula.
Em um Curso de Letras essa situação se agrava, pois a falta
de tempo une-se à falta do hábito da leitura e despertar
tal interesse passa a ser um desafio também para os professores
do ensino superior, até mesmo em um curso que envolve especificamente
a leitura. Os profissionais da área, conscientes de tal tarefa,
encontram-se situados em um contexto educacional sofrido, devido à
imaturidade política e suas conseqüências, driblando
o desafio de “ensinar a ler e a gostar de ler” em meio a uma
cultura de avaliações que impõem leituras obrigatórias,
que muitas vezes, tornam-se um massacre aos alunos.
Nesse sentido, pretendemos apresentar algumas considerações
sobre a construção do professor-leitor, partindo do trabalho
alternativo, em que observamos bons resultados em um trabalho que realmente
se articula pesquisa, ensino e extensão.
Estamos cientes do um momento histórico perpassado por profundas
transformações tecnológicas que impulsionam o constante
repensar da educação em seus diferentes níveis. Nesse
contexto, a área de Letras, abrigada pelas ciências humanas,
põe em relevo a relação dialética entre o
pragmatismo da sociedade moderna e o cultivo dos valores humanos. Decorre
daí a relevância de pensarmos em práticas educativas
que ultrapassem as estruturas fixas dos currículos, proporcionando
o saber de forma articulada e relevante para o estudante, considerando
tanto a sua formação anterior como os interesses e expectativas
em relação a sua profissão.
Sobre a extensão
As primeiras iniciativas de extensão universitária
em nosso país datam de 1910, quando as “lições
públicas” (cursos de extensão oferecidos à
população) foram abertas para quem quisesse participar,
na Universidade Livre de São Paulo.Uma outra experiência,
vinha da Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa,
Minas gerais, a partir de 1926, quando inicia-se um padrão extensionista
de prestação de serviços no meio rural. Essas iniciativas
influenciaram o caráter que a extensão tomou na Reforma
Universitária de 1968, quando se tornou obrigatória nas
universidades brasileiras. (GURGEL, 1986 apud PAIVA, 2004, p.86)
Nesse contexto, explica-se o movimento de implementação
da extensão como tentativa de diminuir a distância e o isolamento
da universidade em relação ao conjunto da população.
Reconhecia-se que o ensino e a pesquisa não justificavam plenamente
a importância social da academia, pois não atendiam um número
significativo de pessoas, evidenciando assim o caráter elitista
e excludente desta. Por outro lado, alguns estudiosos considravam que
a extensão acobertava o problema ao invés de denunciar a
universidade alienada da realidade em que se insere, podendo inclusive
funcionar de álibi para a manutenção do status quo
universitário (Garcia ,1976). Souza (2000) considera que, pelo
contrário do que se propõe, a extensão traz em seu
boljo valores comprometidos com a situação em que se insere,
marcando-se “[...] pela desvinculação das necessidades
objetivas das classes subalternas e pela permanente vinculação
com os interesses da classe dominante [...]
Desde então, surgem alguns conceitos equivocados do termo, e a
sua significação é base para estudos até hoje.
Paulo Freire (1975) considera o termo carregado de significações
como: transmissão, entrega, doação, messianismo,
mecanicismo, invasão cultural, manipulação entre
outros. E buscando uma contraposição a ele, prefere utilizar-se
da palavra comunicação, alegando que é na sua prática
que a universidade e grupos sociais envolvidos poderão dialogar
na busca de soluções para seus problemas.
Saviani (1995) propõe uma visão não extensionista
em que as práticas de extensão deveriam ter uma via de mão
dupla entre a universidade e a comunidade. Esta via proporcionaria uma
troca entre conhecimentos produzidos pela população de uma
forma geral, porém não sistematizados, e os produzidos no
seio da universidade que através dessa aproximação,
poderia desenvolver uma maior coerência com a realidade que a cerca.
Francisco de Melo Neto (2001) compreende a extensão como um trabalho.
Observa-se que a sua ação resultante é uma ação
deliberadora, criando um produto. Esse produto se chama conhecimento para
a transformação social. Ora, é o trabalho expresso
como outro conhecimento que se presta para a efetivação
desta possibilidade, sendo constituído “a partir da realidade
humana, e só com ela é possível criar-se um mundo,
também mais humano. É pelo trabalho que se vai transformando
a natureza e criando cultura”.
“Extensão é assim, um trabalho social
útil sobre a realidade, realizando-se como processo dialético
de teoria e da prática dos envoltos nesse trabalho, externando
um produto que é o conhecimento novo, cuja produção
e aplicabilidade possibilitam o exercício do pensamento crítico
e do agir coletivo.” (MELO NETO, 2001)
Assim impõe-se que a extensão avance de
um caráter assistencialista e realmente atenda ao que se propõe
a Constituição de 88, articulada ao ensino e a pesquisa.
O artigo 207 da atual Constituição Brasileira (1988) diz:
“As Universidades gozam de autonomia didático-científica,
administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão
ao princípio da indissociabilidade entre pesquisa, ensino e extensão.”
O que se percebe é que, embora seja uma obrigação
constitucional, a discussão sobre a extensão apresenta-se
complexa, já que ela deve articular-se ao ensino e à pesquisa,
pois nos remete à uma discussão maior sobre o papel da Instituição
Superior, que atualmente passa por um processo de estudo e necessidade
de reforma. Nota-se, portanto, que não há uma concepção
única entre acadêmicos e o assunto necessita de pesquisas.
Neste trabalho, considera-se adequada a definição do Plano
Nacional de Extensão (1999), que diz: “extensão universitária
é o processo educativo, cultural e científico que articula
o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação
transformadora entre a Universidade e a Sociedade.” Porém,
considera-se também pertinente as críticas levantadas por
Botomé (1996), quando o autor argumenta que tal concepção
conduz aos mesmos equívocos de antes, ou seja: “ a extensão
não faz (ela não é um sujeito ou um agente) essa
articulação. É o ensino e a pesquisa que precisam
ter certas características para que essa articulação
seja produzida”.
Diante da complexidade apontada, resolvemos adotar os termos tradicional/funcionalista,
processual e crítica, traduzindo enfoques que, mais do que abordar
a extensão na sua especificidade, são capazes de revelar
concepções de universidade. Assim:
Concepção Tradicional (ou funcionalista): A Universidade
é vista como um complemento do estado, desempenhando um papel de
mera executora das políticas educacionais. A extensão é
entendida como uma função específica, autônoma,
sendo a desarticulação com o ensino e a pesquisa praticada
e considerada natural. A extensão baseia-se nas carências
imediatas da população, numa perspectiva a-política
e assistencialista. Há o discurso de que a extensão representa
a grande saída para a universidade estabelecer um vínculo
com a sociedade, mas, na prática, ela acaba se reduzindo à
ações esporádicas, eventuais e secundárias.
Concepção Processual: Esta concepção aparece
como uma reação a anterior pelo caráter de politização
imprimido às ações e de combate ao assistencialismo.
A extensão não mais representa a terceira função
(desprestigiada), mas a articuladora entre a universidade e as demandas
sociais. Passa a ter uma tarefa institucional: a de promover o compromisso
social da universidade. Sendo assim, adquire um espaço próprio
na estrutura da universidade sob a forma de pró-reitoria, coordenação,
etc. A justificativa colocada para sua existência está no
fato de representar a consciência social da universidade, instigando-a
a absorver as demandas da sociedade. Tentando superar a visão independente
da extensão, propõe a indissociabilidade com o ensino e
a pesquisa. Atualmente, é a posição oficial da maioria
das instituições.
Concepção Crítica: esta tendência surge com
uma nova leitura da extensão, diferenciada das anteriores. Nela,
a extensão está intrinsicamente ligada ao ensino e a pesquisa,
é a sua essência, sua característica básica,
apenas efetivando-se por meio dessas funções. Portanto,
é matéria de currículo. Não se justifica,
assim, sua institucionalização, pois esta não tem
vida própria, não tem autonomia. Ela se transforma em ensino
e pesquisa. Transforma-se num conceito ocioso, porém, supõe
que o ensino e a pesquisa sejam comprometidos com a realidade, que o conhecimento
produzido e transmitido seja inserido e contextualizado nesta realidade.
A Extensão na Instituição pesquisada se insere na
concepção processual e está centrada na aprendizagem
e na formação cidadã do corpo discente, através
de programas e projetos que promovam a integração das diversas
áreas do conhecimento na investigação da realidade
e na busca de soluções aos problemas coletivos, em especial
os locais e regionais. A partir da integração do ensino
e extensão as categorias se dividem em:
Cursos de extensão - conjunto articulado de ações
pedagógicas, de caráter teórico ou prático,
com carga horária mínima de 8 horas, que devem atender as
demandas do mercado.
Extensão Comunitária - são considerados projetos
de extensão comunitária as atividades, projetos e programas
que sejam pautados na integração com a comunidade. São
ações voltadas para as necessidades das comunidades locais
e regionais, que também devem propiciar ao ensino subsídios
para a produção da aprendizagem, considerando os desafios
e problemas da realidade.
Há ainda uma diferença na concepção de programa
e Projeto. Programa é o conjunto de ações de médio
a longo prazo, com clareza de diretrizes e orientadas a um objetivo comum,
articulando projetos e outras ações existentes. Projeto
é o conjunto de ações de caráter educativo,
social, cultural, científico ou tecnológico, com objetivo
bem definido e prazo determinado. O Projeto pode estar vinculado (forma
preferencial) a um Programa ou ser registrado como Projeto sem vínculo.
Os programas e projetos devem, preferencialmente, estar em consonância
com os principais focos de atuação das unidades.
Projeto “Literatura Viva”
O Projeto de extensão comunitária “Literatura
Viva” foi criado, no segundo semestre de 2001, em primeira instância
devido à necessidade institucional de se promover serviços
à comunidade. Tinha por objetivo central contribuir para o aperfeiçoamento
do espírito crítico do aluno de ensino médio diante
dos textos literários escritos em língua portuguesa, exigidos
como leitura obrigatória nos principais vestibulares do país.
Iniciamos o Projeto com apenas dez alunos de segunda e terceira séries
do ensino médio de algumas escolas estaduais de Pirassununga. Avaliamos
que a falta de interesse pelo “cursinho proposto” foi devido
à exigência da leitura das obras, colocávamos como
tarefa específica para a obtenção de certificado.
Com relação aos alunos da graduação, a mesma
cultura da cobrança imperava, pois se interessavam pelo estudo
das obras que eram selecionadas pela coordenadora do projeto, já
que constavam no programa do Exame Nacional de Cursos (antigo Provão).
Gil Vicente, Camões, Eça de Queirós, Machado de Assis,
Manuel Bandeira, Graciliano ramos, Clarice Lispector, João Cabral
de Melo Neto e João Guimarães Rosa impulsionavam caretas
dos participantes, embora todos acreditassem na importância de tal
estudo: cai na prova. Para esses monitores era a oportunidade de cumprir
as oitocentos horas da parte prática de formação,
disposto na Resolução CP nº 01 de 30 de setembro de
1999.
Eram doze monitores que se dividiam de forma que cada grupo assumia o
estudo e o planejamento da aula de uma das obras do Programa.
Os encontros aconteciam aos sábados à tarde, tanto para
a preparação como para a aplicação das aulas.
Dos doze monitores, sete eram do 1º ano de Letras e cinco eram do
2º ano de Letras. Desses doze , sete continuaram o projeto em 2002.
Nesse ano, o curso funcionou aos sábados de manhã, na cidade
de Leme, e à tarde na cidade de Pirassununga. Os objetivos eram
os mesmos, apenas a programação sofreu alterações,
acrescentamos obras românticas no primeiro semestre e deixamos as
obras modernistas somente para o segundo semestre. No segundo semestre
de 2002, as aulas de literatura eram mescladas com aulas de redação,
orientadas pela professora de Leitura e Produção de Textos,
que tinha outro grupo de monitores. Os temas discutidos nos encontros
literários eram retomados na produção escrita. Por
exemplo, após a aula sobre Macunaíma, puxava-se a discussão
sobre o papel do herói na sociedade brasileira. Os textos eram
produzidos e os monitores se dividiam em grupos para efetuarem a correção,
sob a supervisão da docente responsável pelo Projeto.
O trabalho feito no primeiro semestre e a divulgação feita
nas escolas públicas das duas cidades sortiram efeitos, pois encerramos
o ano com cerca de oitenta alunos recebendo os certificados. O Projeto
havia crescido em qualidade e proporção, já que durante
esse ano a preocupação com a didática da aula foi
intensa. Eram realizadas três ou quatro reuniões aos sábados,
com duração de três horas para planejamento das atividades
e produção do material. Na época das apresentações,
durante a semana, havia um encontro com o grupo que iria ministrar a aula,
verificava-se o material, a consistência teórica e a seqüência
didática da aula, que deveria ter aproximadamente duas horas de
duração e a seguinte estrutura: uma introdução
do assunto, que relacionava a obra com algum assunto atual, o desenvolvimento
(contextualização e análise) e uma conclusão
com dinâmicas de participação dos participantes. A
introdução apresentava uma questão atrativa ou utilizava-se
de imagens, vídeos ou músicas para chamar a atenção
para o assunto. Era uma parte essencial para o sucesso da aula. Depois
aparecia uma contextualização do autor e sua época
e então partíamos para o resumo e análise das obras.O
resumo era apresentado de forma descontraída, às vezes dramatizado
com a participação dos alunos participantes lendo fragmentos
das obras. A análise sempre contava com uma boa exposição
seguida de uma dinâmica de participação, em que grupos
eram chamados a refletir sobre algum apontamento temático e dar
a opinião crítica.
Durante as aulas, os monitores que não estavam ministrando o curso
assistiam as exposições dos colegas e após as aulas
eram feitos comentários sobre os procedimentos utilizados a fim
de auxiliar o trabalho das aulas programadas.
Em 2003 e 2004, já mais maduro e solto de qualquer vínculo
com as obrigações de leitura impostas pelo vestibular e
ou outra avaliação, fomos criando encontros que variavam
entre poesia, contos ou uma tentativa de se trabalhar a literatura partindo
de temas interessantes para os alunos participantes. Nos últimos
anos, a proposta foi tentar sair da visão cartesiana imposta por
uma história da literatura, presentes em manuais didáticos,
em que muitas vezes o texto é explicado pelos períodos em
que estão inseridos, e propondo uma leitura reflexiva, a partir
do conflito estabelecido pelos textos e relacionados em algum aspecto
com a realidade dos alunos participantes. Daí a proposta mostrar
uma literatura viva.
Considerações sobre a prática vivida:
a formação do professor/leitor através de projeto
de Extensão
Embora iniciamos com alguns conceitos imprecisos sobre
o trabalho com a leitura e formação docente, percebemos
que, já no primeiro projeto, os monitores se beneficiavam com a
experiência. Percebemos em seus relatórios o prazer da descoberta
e identificação com obras e autores.
Durante a elaboração e planejamento das aulas, notamos que
a responsabilidade e o compromisso, tanto com os colegas do grupo como
com os alunos participantes, impulsionavam a auto-aprendizagem e a pesquisa,
certamente vinculada ao ensino. Os futuros professores percebiam a necessidade
da formação contínua e permanente. .
Outro aspecto positivo foi a análise e produção de
materiais, pois auxiliavam o processo de amadurecimento teórico
e contribuiu para uma visão de como se trabalhar com livros didáticos.
O material utilizado em cada uma das aulas era elaborado pelos alunos
monitores, que recebiam a orientação da supervisora para
as leituras críticas sobre a obra trabalhada. Como cada aula ficava
em responsabilidade de quatro ou cinco monitores, as tarefas eram divididas
com o fim de agilizar o processo e sustentar-lhes mais informações
para a aula que iriam ministrar. Todavia, nesse trabalho de equipe, todas
as informações advindas das leituras eram trocadas em forma
de discussões, em reuniões semanais aos sábados das
8 às 9 horas. Durante a semana da aplicação da aula
eram feitas reuniões entre os monitores e a coordenadora, para
a discussão dos procedimentos didáticos e recursos que seriam
utilizados.
Todos os monitores, inclusive os que não estavam ministrando o
curso, participavam das aulas, inclusive das reflexões após
o encerramento da aula, quando a coordenadora e todos os monitores avaliavam
a atuação dos monitores, tentando identificar os pontos
positivos e negativos do plano montado, com o objetivo de melhorar o próximo
encontro. Através da auto-crítica, desenvolvia-se o papel
do professor reflexivo e a importância desse papel para o amadurecimento
profissional.
Outro aspecto relevante era o contato com a realidade da profissão.
Por isso, nos anos de 2003 e 2004, o Projeto saiu do espaço da
Instituição para ser desenvolvido na escola. Passou a ser
vinculado às disciplinas de prática de Ensino e Estágio
Supervisionado.
Enfim, acreditamos que o Projeto contribui primeiramente para a formação
do leitor, pois o aluno-trabalhador muitas vezes tem acesso à literatura
de forma descontraída e descobre as obras e textos literários
associados à vida, portanto relevante. Percebemos que a descoberta
de uma obra e um autor desperta o interesse pela leitura de outras obras
e outros autores. Freqüentemente víamos presenciávamos
obras nas mãos dos envolvidos. Quanto aos nossos alunos-trabalhadores,
é evidente a aquisição de uma cultura para apreciação.
O trabalho em equipe impulsiona a pesquisa, que conseqüentemente
propicia a descoberta e a compreensão das obras. A partir daí
ele passa a apreciar o que lê.
Enfim, diante destas considerações iniciais, afirmamos que,
embora seja comum o termo extensão comunitária representar
a face social da universidade, é preciso pensá-lo de maneira
formativa e relacionada ao ensino e à pesquisa. Isso implica perceber
a sua importância, já que possibilita ao estudante adquirir
maturidade intelectual calcada na experiência e na vivência,
que amplia os conhecimentos teóricos relacionando-os com a prática
de sua formação pessoal e profissional. Afinal, em um país
marcado pela desigualdade social e cultural,não dá para
ficarmos esperando uma reforma no pensamento educacional, com uma política
de estado que propicie o incentivo à leitura e a boa formação
do professor.
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