Elisabete Benites - Universidade de Sorocaba –
UNISO
Ana Maria Silva Corrêa - Universidade de Sorocaba – UNISO
Sue Ellen Zanateli - Universidade de Sorocaba – UNISO
Jorge Luis Cammarano González. - Universidade de Sorocaba –
UNISO
Apresentação.
O trabalho aqui apresentado vincula-se ao Projeto de Pesquisa
A formação da Educação Escolar em Sorocaba:
fontes, industrialização, movimentos sociais e memórias.
A proposta em tela envolve a produção de um campo investigativo
que busca alargar e aprofundar a compreensão das práticas
formativas no âmbito da educação escolar em Sorocaba,
com base na localização, sistematização e
análise de fontes documentais; do estudo dos processos de industrialização
que expressam a presença de uma forma específica de sociabilidade
capitalista e suas possíveis mediações com a escolarização;
do exame dos movimentos sociais que revelam a luta pela apropriação
pública do espaço escolar e da memória do trabalho
docente circunscrito ao espaço das instituições escolares.
Esta proposta de pesquisa busca:
• Examinar a escola como produtora e produto de práticas
sociais institucionalizadas.
• Investigar os nexos processuais da formação da educação
escolar com os processos estruturais de formação da sociedade
capitalista.
• Compreender as práticas cotidianas da e na Escola como
expressão da historicidade e dos processos de continuidade-descontinuidade
de produção e reprodução de relações
sociais.
• Entender o Trabalho como categoria central e fundante da prática
social no complexo de relações que relativizam e/ou autonomizam
o espaço escolar.
Com base nessas considerações formulamos uma questão
inicial e norteadora do referido projeto de pesquisa: como ocorreu, historicamente,
a formação e a institucionalização do processo
de educação escolar em Sorocaba?
Assinalamos que a apropriação do tema-objeto proposto representa
a conjugação de dois interesses básicos. Um incide
sobre a necessidade de superar o caráter lacunar da história
da educação escolar no Brasil e, em particular, de Sorocaba.
O outro interesse aqui alimentado traduz a preocupação com
a prática em pesquisa compreendida como esforço coletivo
na direção da produção de conhecimento científico
elaborado com base na interlocução de referenciais e procedimentos
teórico-metodológicos representativos da complexa tarefa
imposta pela especificidade do fenômeno educativo. Parcela substancial
desses interesses registra-se neste escrito que trata das mediações
entre história e memória.
Das mediações entre história e memória.
A importância da memória circunscreve-se, em princípio,
ao campo dos poetas. A partir do Século V a.C, a memória
passou a ser objeto de preocupação de historiadores e filósofos
gregos. A memória era tema que intrigava os pensadores da Antiguidade,
alguns consideravam que a memória era, entre as várias faculdades
cognitivas, uma espécie de sexto sentido (Chauí,2004). Os
gregos atribuíam à memória a condição
de deusa: Mnemosyne, que dava aos poetas e adivinhos o poder de voltar
ao passado e de lembrá-lo para a comunidade; poder que se estendia
à possibilidade de conceder imortalidade aos mortais.
Observa-se que o ato de estarmos diante de uma pessoa com determinada
experiência de vida, na condição de ouvintes curiosos
pelas suas vivências, representaria a situação mais
simples de ouvir a memória do outro. Essa relação
buscaria captar os acontecimentos que a pessoa vivenciou durante sua vida
e que ao serem solicitados irrompem na forma de relatos, de memórias.
Nesse processo, a memória luta com a dificuldade de reproduzir,
fielmente, tanto os acontecimentos mais significativos quanto aqueles
que parecem possuir importância menor (Alberti ,2004). Ao procedermos
ao processo de apropriação da memória de quem já
experimentou momentos e épocas diferentes de nós, fica impossível
não recorrermos à História. O tempo começa
a ganhar corpo e vida pelos fatos históricos que o narrador viveu,
e mesmo que eles sejam passados, ganham a força de parecerem presentes,
diante das lembranças daquele que está recordando o universo
de suas experiências. Os fatos narrados começam a ser permeados
por tempos diferentes dos que estamos vivenciando, e a compreensão
do sujeito que viveu e vive num determinado contexto social, traz, em
sua narrativa, a dimensão de sua subjetividade. Nesse sentido recorrer
à memória como procedimento investigativo e fonte de pesquisa
requer, recorrer à História. A História é
feita de homens e pelos homens. Essa afirmação fica tensionada
quando sabemos que as relações humanas são permeadas
por ideologias político-econômico-sociais e que, é
no contexto dessa interação - entre a história como
atividade prática humana e as diversas possibilidades de conceber
as relações produzidas nesse processo -, que será
produzido o conhecimento histórico. Esse conhecimento histórico
será expressão do exame, da reflexão e da problematização
sobre a gênese e os desdobramentos das práticas sociais historicamente
produzidas. Este processo de elaboração de conhecimento
histórico incide em prática reflexiva, teórica. Em
outras palavras, é preciso uma teoria que nos guie na pesquisa,
para assim podermos estar revisitando a história, compreendendo-a
e extraindo dela o conhecimento de que precisamos para uma abordagem dos
fatos. De acordo com SANTOS (2003, p.13), as “Abordagens teóricas
são como lentes de aumento, que nos ajudam a ver e compreender
melhor certos aspectos da realidade”, pois, a realidade, lança,
constantemente, problemas e, concomitantemente, a busca de criar possíveis
respostas.
Consideramos que a história é um processo em ação,
que “(...) se define em relação a uma realidade que
não é nem construída nem observada como na matemática,
nas ciências da natureza (...) mas sobre a qual se ‘indaga’,
se ‘testemunha’(LE GOFF, 1996 , p. 9). Assim, avaliamos que
para produzir conhecimento de acordo com essa concepção
de história, o conhecimento histórico pode se originar “(...)
a partir de novas perguntas realizadas pelo historiador ou mesmo da descoberta
de outros documentos ou fontes” (MONTENEGRO, 2003,19). Mas, e se
não encontrarmos os documentos ou fontes nos quais possamos pesquisar
a história, seria um caso encerrado, isto é, a pesquisa
histórica ficaria impossibilitada? Responderíamos negativamente
a essa indagação, pois a reflexão histórica
se faz hoje na ausência dos documentos e dos silêncios da
história, e faz - se com tudo a mais que a engenhosidade do historiador
permitir usar, e que seja próprio do homem, segundo nos diz LE
GOFF(1996).
Em tempos atuais, a história está sob a estrita responsabilidade
do historiador. E este faz sua construção, utilizando os
instrumentos da narração, operando com o que está
dito, ou resgatando algum aspecto relevante da realidade social em determinado
momento (MONTENEGRO, 2003).
Sabemos que, quem fazia a história nos primórdios da vida
em sociedade, eram os anciãos, ou como eram chamados, de acordo
com a sociedade, guardiões das tradições. Já
nas sociedades sem escrita, os chefes das tribos, ou especialistas da
memória estavam com a responsabilidade de, além de transmitir
os valores e as tradições, manter a coesão do grupo
através de suas palavras (YATES apud SANTOS, 2003 ). Essa função,
incumbida nas sociedades antigas aos velhos, vincula-se à consciência
que esses grupos sociais tinham, em relação às lembranças
das pessoas idosas, sobre aprendizagem, sobre as diversas experiências
vivenciadas no passado. Respeito à memória dessas pessoas
que afastadas de suas tarefas habituais, obrigatórias e de sobrevivência,
deslocam parte de sua existência à prática de lembrar
e transmitir valores, crenças, em suma, tradições
advindas do passado. Acrescentaríamos que nesse contexto do mundo
antigo - época em que não havia nem imprensa nem facilidade
para a circulação de textos escritos - é que valorizava-se
ainda mais a prática da lembrança enquanto disseminadora
das idéias (YATES apud SANTOS, 2003 ).
Atualmente, de posse das tecnologias digitais que estão sendo aperfeiçoadas
para garantir ao homem, além da comodidade, o maior acúmulo
de informações possíveis, a memória parece
assumir um ar de descompromisso com o ato de lembrar.. Ou seja, emerge
a tendência de que o homem moderno se ocupe menos com “peculiaridades”,
- e a memória seria uma delas - e mais com a produção
de relações imediatas, úteis e eficazes numa lógica
pautada, dentre outros aspectos, pela perda do sentido da ação
do indivíduo (SANTOS, 2003). Nesse sentido, estamos, contemporaneamente,
num contexto histórico-econômico-social, no qual delegamos
o cargo de “guardiões das tradições”
aos historiadores de profissão ou especialistas em história.
E isto considerando que muitos pensam que a história não
passa de uma forma organizada de saber o que aconteceu no passado, concebida
linear e cronologicamente, centrada nos denominados feitos das grandes
personagens. Esta concepção parece marcar presença
nos espaços escolares, contribuindo para que os alunos se desinteressem
pelo estudo da História ou não lhe atribuam a devida relevância
para seu processo de formação. Ponderamos que a história
não é um elenco de fatos cronologicamente organizados e
sem sentido. A história traz muitas explicações passíveis
de contribuir com o contexto que atualmente vivenciamos, e nos auxilia
na busca de possíveis respostas às nossas formas de viver,
agir e pensar. Félix (1998: p.19) argumenta nesse sentido como
segue: “Sabemos que todo o povo que tiver ‘a história
na mão’ como instrumento de construção , isto
é, quem tiver memória e consciência histórica,
com mais segurança, será dono do seu presente e do seu futuro”.
Talvez, as dificuldades socialmente produzidas na sociedade em curso,
incidam nos limites subjacentes à apropriação da
construção da História com base nos interesses dos
setores socialmente majoritários. Parte desse processo de apropriação
envolve, na nossa compreensão, o resgate da memória como
meio de subsidiar as possibilidade de objetivar práticas sociais
historicamente transformadoras. Assumir essa perspectiva requer um esforço
no sentido do embate com a denominada concepção d0 e história
positivista, segundo a qual “(...) o passado deve ser explicado
pelo historiador e mostrado como algo que realmente aconteceu” (
FÉLIX, 1998, p.64). Para a referida Autora, não é
possível ouvir a voz do passado tal e como aconteceu, porque muitos
aspectos se tornaram inacessíveis ao observador; perderam-se no
decorrer do tempo. Tal perda não é fruto do acaso, nem passível
de quantificação, mas reflete uma lógica tramada
na intencionalidade, consciente ou não, dos seus criadores, no
sentido de produzir uma memória a se institucionalizar e se celebrar
como única, natural, verdadeira e universal.
Em contrapartida, a busca de memórias, vem associada à tentativa
de recuperar elementos que nos parecem importantes para tensionar a própria
memória oficializada; e aqui releva-se a afirmação
de Menezes: “Por isto não se pode resgatar a memória
como se resgata um menino que caiu no poço ou o barco que naufragou
(...)” (MENEZES apud FÉLIX, 1998, p.43). Em outros termos,
pesquisar a memória não é apenas uma ação
despretensiosa de ouvir as lembranças de outrem “(...) pois
lembrar não é reviver, mas refazer. É reflexão,
compreensão do agora a partir do outrora;é sentimento, reaparição
do feito e do ido, não sua mera repetição”
(BOSI, 2004, p.20).
Lembremos que, no Brasil, os governos arbitrários que marcaram
presença nas décadas de sessenta a oitenta, do Século
passado, calaram as vidas de diversas pessoas, interferindo na geração
de um país “sem memória” e criando enormes dificuldades
para identificar e examinar possíveis fontes de pesquisa relativas
a esse período. Esse processo fomentou, de um lado, o medo de relatar
e registrar as experiências dessas gerações, mas também
instigou a necessidade de pesquisa com a finalidade de “recuperar
uma outra memória, que permita recuperar não só o
ocorrido, como ressaltar as esperanças do passado e que se inscrevem
em um novo futuro diferente” (GARCIA apud FÉLIX, 1998, s/d).
A procura por explicações pertinentes à desvalorização
da memória, converge para a hipótese de que a sociedade
capitalista constitui um universo de relações que propicia
a depreciação e a destruição das lembranças
de sujeitos particular e socialmente fundamentais. Parte desse processo
revela uma formação social que mercantiliza a vida em todas
suas dimensões, transformando a memória individual e coletiva
num ser estranho, alheio, incompreensível. Parte dessa argumentação
pode ser encontrada na seguinte afirmação: “A sociedade
industrial é maléfica à velhice” (BOSI, 2004,
p.77 ). Nesse contexto, a produção da riqueza social é
submetida a uma lógica de produtividade associada, dentre outros
critérios, a limites de idade que definem a capacidade produtiva
das pessoas em relação ao mercado de empregos. Aqui, - conforme
a referida Autora, apreende na memória do trabalho de um dos seus
entrevistados -, faz-se presente a ideologia voraz do lucro e da eficiência,
levando o homem acreditar que “ é assim mesmo que deve acontecer,
a gente perde a serventia , dá lugar aos moços...Para que
serve um velho. Só para dar trabalho” (BOSI, 2004, p.76).
Essa problemática dá sinais aparentes de maior clareza à
medida que nos aproximamos do cotidiano de cada ser singular. Nessa cotidianidade
tendemos a valorizar “o novo”, “ o moderno”, a
“última moda”. A sedução que os meios
publicitários alimentam, nos leva a acreditar que tudo passa a
ser descartável. Pensemos, por um instante, nos meios utilizados
na produção do espaço urbano; isto é, como
o Capital planeja a modernização das cidades, desconsiderando
e desqualificando, em sintonia com a lógica da especulação
imobiliária, a memória e a história objetivadas nesses
espaços. O processo de destruição vai permeando todas
as áreas da vida social, ampliando a passos largos suas ramificações,
impactando os indivíduos, complexificando seu processo de desvalorização.
Nesse contexto quais os referentes que auxiliar-nos-iam, para investigar
as mediações entre história e memória, no
âmbito do trabalho docente? Apresentamos aqui uma possível
resposta a esta indagação, de maneira parcial, incipiente
e restrita, neste momento, ao trabalho com base na memória. É
do que tratamos a seguir.
Do trabalho com base na memória.
Reafirmamos que a criação de um referencial teórico
que nos auxilie no desenvolvimento de pesquisa sobre as memórias
do trabalho docente é um dos desafios que enfrentamos. Entretanto,
consideramos importante para os fins deste escrito, apresentar, sumariamente,
uma das autoras que tem contribuído neste desafio. Assim, recorremos
a Bosi (2004) por considerar que nos auxilia no exame e problematização
do tema-objeto proposto. Acrescentamos que em seus estudos sobre memória,
Ecléa Bosi (2004) se refere com muita afabilidade aqueles seres
que já trabalharam por seus contemporâneos e por nós.
Para a Autora, não poderia ser entrevistada nenhuma outra pessoa,
a não ser as pessoas velhas que têm memória ou lembranças
para recordar.
Ecléa Bosi (2004) desperta nossa atenção para a postura
do pesquisador desafiado pela necessidade de realizar um estudo que faça
alusão a tempos distintos daquele que vivencia e supostamente conhece.
Este desafio requer consultar materiais correspondentes ao contexto histórico
do sujeito entrevistado, como por exemplo, jornais, revistas, músicas,
livros, imagens, anedotas e tudo mais que de alguma maneira representaria
o referente da sensibilidade, da emoção, da subjetividade,
da historicidade do narrador. A referida Autora fundamenta seu trabalho
investigativo com base nos teóricos franceses Halbawchs, filiado
à sociologia durkheimiana; e Bergson, vinculado ao campo da Psicologia.
Podemos extrair da proposta de pesquisa efetivada por Ecléa Bosi,
uma questão importante, relativa ao procedimento investigativo
para abordar a memória: “Daí decorre um dilema de
metodologia enquanto técnica: questionário fechado ou explorações
abertas?” (BOSI, 2003, p.55). Mas, além desse questionamento
em relação ao procedimento de pesquisa, no qual, como será
registrado posteriormente, escolhemos o caminho da exploração
aberta, assinalamos outro aspecto relevante para nossa prática
de pesquisa, referenciada nas formulações de Ecléa
Bosi. Para a Autora citada, o rigor científico necessário
para recuperar, analisar e interpretar o material colhido, não
deve dicotomizar o sujeito pesquisado. Em outros termos, o sujeito/objeto
de estudo é o idoso, e a investigação de sua vivência
com base em suas memórias deve concebê-lo como ser uno e
integral, constituinte e constituído de sentimentos, nostalgias,
recordações, saudades, mágoas, sonhos, decepções...;
sentimentos constituídos e constituintes do pesquisador nos atos
que envolvem a pesquisa, criando possíveis vínculos de amizade,
de confiança, de cumplicidade com os depoentes. Bosi (2004) considera
que a memória deve ser ouvida em um ambiente criado para favorecer
a formação desses laços que marcam a sensibilidade
de entrevistado e entrevistador, laços cuja criação
demanda tempo, encontros, descobertas, persistência, respeito.
Além da referida Autora, esta iniciativa (ainda incipiente) de
produção de um referencial teórico que subsidie a
possibilidade de investigar a temática exposta neste trabalho e,
assim, aprofundar a compreensão das práticas docentes, no
âmbito da formação da educação escolar
em Sorocaba; encontramos diversos autores que nos apresentaram a produção
de suas pesquisas no campo das mediações entre História
e Memória. Afirmaríamos que a maior parte deles, filia suas
concepções a um trabalho de observação e análise,
extremamente relevante.Estiveram em campo trabalhando, fortalecendo o
seguinte argumento: “O pesquisador não poderá escolher
nenhuma técnica , sem antes apontar o seu referencial teórico”
(PISTORI, 2004, p.31).
Com base nessa observação citamos a pesquisadora Bello (
2002 ) que descreve a vida dos professores se dirigindo para a formação
da profissionalidade e a carreira docente dos mesmos, adotando como recurso
investigativo a entrevista. Outro trabalho, em nosso entendimento, importante
é desenvolvido por Fonseca (1997). A referida Autora, incorpora
ao seu campo investigativo a história oral, para examinar a vida
de professores, o que significaria: “Trazer o homem para o centro
das pesquisas histórico-educativas”.(Fonseca, 1997, p.55).
Outra contribuição de Fonseca é sua “revisão
bibliográfica”, apresentando diversos autores que realizaram
pesquisas nacionais e internacionais e abordaram essa questão no
campo da educação, da história e das ciências
humanas em geral. Segundo Fonseca, o estímulo para o desenvolvimento
de muitas pesquisas sobre a vida dos professores e suas carreiras foi
influenciado pela denominada “crise da identidade dos professores
“. Isso ocorreu mais precisamente nos anos 70 e 80 do século
XX e revela a influência do desenvolvimento do método de
história oral, muito empregado nos países da Europa, Estados
Unidos e no Canadá.
Em relação ao Brasil, Fonseca (1997) apresenta uma relação
das pesquisas que na sua compreensão, têm sua origem no campo
sociológico, estudando o período correspondente à
Primeira República e desenvolvida no CERU ( Centro de Estudos Rurais
e Urbanos). Essa pesquisa não foi sobre os professores, mas foi
uma tentativa de “(...) esclarecer pontos obscuros pertinentes a
pesquisas sobre educação em São Paulo.”(DEMARTINI
apud FONSECA, 1997, p.) Observa-se, de maneira geral, que a bibliografia
em torno da temática é heterogênea , proveniente de
vários campos do saber, com objetivos e metodologias diferentes
(FONSECA, 1997, p. 30).
Considerações Finais.
Com a preocupação investigativa de estarmos abordando o
cotidiano escolar e os conhecimentos produzidos, difundidos e apropriados
no período de 1850 a 1920, no âmbito do processo de formação
da educação escolar em Sorocaba , pensamos em estar compreendendo
e pesquisando a vivência do profissional docente.
Assim, conforme nos explica CORTEZ, ( 2000 ) abordar um processo que ainda
permeia os dias atuais, como é o caso do trabalho docente, exige
um esforço que se contraponha à “ (...) negatividade
daquilo que é passado”, pois, nesse registro do passado,
fica a possibilidade de superação da caracterização
da área de educação como “área atrasada”
em relação a esse procedimento de investigação
de seus sujeitos, isto é, dos profissionais em educação
(CORTEZ, 2000, p.17) Dessa forma, para podermos compreender o passado
sem rotular o que possa vir dele como “atrasado” devemos ter
a clareza de que:”(...) a história não só deve
permitir compreender o ‘presente pelo passado’-atitude tradicional,
mas também compreender o ‘passado pelo presente’. (BLOCH
apud LE GOFF, 1996, p.23). Destaque-se que o sujeito da pesquisa aqui
apresentado, o profissional docente, está situado com suas ações
no passado, então pretendemos adotar a história oral como
meio para compreendermos a história de vida desses professores(
ALBERTI, 2004). A história oral é usada como recurso para
que o pesquisador possa fazer uma leitura da memória do entrevistado
podendo falar da sua vida e da sua trajetória docente, isto permite
que ele reconstrua e resignifique as lembranças despertando um
novo estado de alma, dando lhes um novo sentido. (BELLO, 2002). O sujeito
do estudo, ao estar relatando a sua vida e trajetória está
nos contando alguns instantes da sua carreira como docente guardados na
memória e “(...) tingidos por sentimentos , valores, crenças,
concepções e opiniões.” (TEIXEIRA apud BELLO).
Contudo, para estudarmos historicamente a formação da educação
escolar em Sorocaba, é necessário estabelecermos a compreensão
do espaço escolar enquanto local de produção, circulação
e apropriação do conhecimento;de organização,
gestão e objetivação do trabalho escolar, de profissionalização
da produção docente; de práticas pedagógicas
intencionadas à um fim e das tensão entre cotidianidade
e o cotidiano escolar. Todas essas práticas constitutivas do espaço
escolar, situam-se no interior do tecido social e é possível
que sejam captadas nas manifestações recorrentes da escola,
nas suas representações e nas práticas de grupos
sociais em diferentes momentos históricos ( SOUZA, 2000).
Em suma, para investigarmos as formas de produção e de circulação
do conhecimento do espaço escolarizado por meio da memória
do trabalho docente, é necessário , como já citamos
anteriormente, compreender a educação no seio da sociedade,
pois segundo TEIXEIRA apud BELLO, 2002, p.15 “(...) a memória
individual se alimenta sempre da memória coletiva, de modo que
as histórias de vida captam o que acontece na encruzilhada da vida
individual com o social.” Reforçando esta idéia, HALBAWACHS
apud BELLO, 2002, p.21 diz que “(...) a memória individual
reflete muitas características do grupo social do qual o indivíduo
faz parte”. Sendo assim, pensamos na necessidade de examinar os
processos de formação do espaço escolar em Sorocaba,
compreender seu cotidiano e a figura do professor e seu trabalho mediado
pela produção histórica dessas relações.
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