Joana
Angélica Bernardo de Oliveira - FCT/ Unesp de Presidente Prudente
Gilza Maria Zauhy - Orientadora - FCT/ Unesp de Presidente Prudente
Introdução
O presente
trabalho trata das práticas Educativas na Formação
de Professores voltadas para a Educação Infantil. Entendendo
o contexto em que a Educação Infantil nasce, pretende-se
estudar os tipos de atividades presentes nas salas de pré-escola
na cidade de Presidente Prudente – SP e comparar com a formação
inicial dos educadores. A escolha do tema tem origem no seguinte problema:
Qual a relação existente entre os tipos de atividades que
o professor de Educação Infantil aplica na sala de aula
e a sua formação inicial?
O objeto da pesquisa é a formação dos professores
da pré-escola relacionando-a com as atividades aplicadas no cotidiano
da sala de aula, tendo como referencial o trabalho “Natureza e Planejamento
das Atividades no Jardim de Infância”, realizado por Coll
(1994) na Espanha, que apontou quatro tipos de atividades: efetuação,
escuta, funcional e auto-estruturante, as quais serão detalhadas
adiante.
O interesse que gerou o problema desta pesquisa decorre do trabalho de
iniciação Científica “A Pedagogia Ativa e o
Cotidiano na Educação Infantil” realizados em Presidente
Prudente-SP; financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo
a Pesquisa) no ano de 2003. Esse trabalho permitiu a compreensão
dos tipos de atividades predominantes nas salas de pré-escola,
mediante o postulado de que os educadores de Educação Infantil
atribuem grande importância às atividades do aluno na sua
prática, sendo resultado da influência que esta categoria
de ensino, no Brasil, recebeu das idéias da Escola Nova, colocando
a atividade como centro de sua metodologia.
Dando prosseguimento a este estudo, iremos analisar a relação
da formação inicial dos profissionais de Educação
Infantil, com as atividades cotidianas, entendendo que o grande desafio
é reforçar a reflexão crítica e a construção
de conhecimentos sobre as especificidades da criança pequena, contrapondo-se
aos modelos do ensino verbalista, com uma organização disciplinar
da mesma forma que o ensino fundamental.
Breve cenário
do contexto das propostas pedagógicas na educação
pré-escolar
Resgatando
a origem da do ensino pré-escolar nota-se que ela surge no contexto
em que os princípios do liberalismo, no plano filosófico;
as profundas modificações na organização da
sociedade, no plano social, e ainda, as progressivas descobertas na área
do desenvolvimento infantil geram intensos questionamentos à chamada
escola tradicional, no plano educacional.
Este movimento, denominado Escola Nova, origina várias metodologias
que irão influenciar o ensino no Brasil, em especial a Pré-Escola.
Segundo Kramer (1999), a Escola Nova propaga: a idéia do desenvolvimento
natural; a valorização dos interesses e necessidades da
criança; o caráter lúdico das atividades infantis;
a crítica à escola tradicional, porque os objetivos desta,
estão fundamentados na aquisição de conteúdos;
e a conseqüente valorização do processo de aprendizagem.
O currículo que deriva de tais princípios tem sempre como
centro as atividades. Assim, a Escola Nova introduziu o aspecto central
de toda metodologia – o conceito de atividade. A Pré-Escola
desde a sua origem, na Europa, com Froebel e os primeiros “jardins
de infância”, depois passando por Decroly com seus “centros
de interesse” até Montessori com sua pedagogia científica,
fundamentou seus métodos de ensino no conceito de atividade, com
caráter de jogo.
Muitos destes conceitos e práticas influenciaram e ainda estão
presentes no cotidiano das salas de pré-escola, mesmo que de forma
implícita, ou sem a clareza das suas origens. Dentre os pensadores
que influenciaram a Educação Infantil merecem destaque:
Froebel (concebia que a atividade deveria desenvolver não só
os movimentos físicos, mas também os processos mentais da
criança); Montessori (entendia que a atividade precisava envolver
a criança, sendo pensada e determinada de acordo com o interesse
do aluno para levá-lo à livre escolha e à disciplina
ativa); Freinet (compreendia a atividade como uma forma de possibilitar
à criança alcançar o autocontrole e a organização
das suas ações; afirmava que o processo da realização
das tarefas deveria ser prazeroso e interessante, respeitando o ritmo
de cada um e permitindo a cooperação, a participação
e a ação ativa na formação).
Outro teórico que com sua psicologia genética influenciou
a elaboração de práticas pedagógicas da educação
infantil no Brasil e no mundo foi Piaget, oferecendo a imagem de uma criança
criativa, ativa e construtora dos seus próprios conhecimentos,
permitindo assim, redefinir a educação, submetida durante
muito tempo à perspectiva condutivista, revelando a inadequação
das práticas que firmavam que a inteligência infantil poderia
conviver com métodos pedagógicos de pura receptividade.
Esta abordagem que entende a criança como um ser ativo, concebe
que a aprendizagem está muito relacionada com as práticas
que esta criança vê e sofre, e que a construção
dos conhecimentos ocorre na interação com o meio (objeto)
tanto físico, como social; com o simbolismo humano; com o mundo
das relações sociais e constituindo-se por força
de sua ação e não por qualquer dotação
prévia, na bagagem hereditária ou no meio (Becker, 1994).
Cabe então, ao adulto ou profissional que trabalha com a criança
organizar situações de aprendizagem para que ela amplie
seus conhecimentos e adquira novas linguagens, ou seja, a ação
do profissional de educação infantil precisa ser intencional,
planejada, com objetivos; para possibilitar situações significativas
para que a criança aprenda.
Assim, para que o professor atue desta maneira ele, necessita de uma formação
inicial que corresponda e forneça elementos para que possa refletir
sobre suas ações e seja capaz de criar situações
de aprendizagem para as crianças.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação
Infantil, a formação exigida para os profissionais que trabalham
com as crianças pequenas deverá ser de nível superior,
com qualidade englobando as necessidades e conhecimentos sobre a criança
pequena, porque assim, este profissional terá embasamento para
avaliar e orientar as formas de aprendizagem das crianças, oferecendo
situações e experiências para o seu desenvolvimento.
Conseqüentemente o papel do profissional de Educação
Infantil no contexto atual deverá ser de mediar o processo educacional,
com dinamismo, comprometimento, assumindo sua identidade profissional
e buscando a sua valorização. Desta forma, precisa ser polivalente,
dominando os conteúdos e fazendo as transposições
didáticas adequadas ao cuidado e educação.
Diante disto, a formação inicial do professor deverá,
fornecer elementos para que a o profissional seja capaz de pensar sobre
a criança e oferecer situações para que ela atue
ativamente no cotidiano, uma vez que, a prática educativa configura
os saberes, vivências aprendidas e a formação inicial.
Segundo Kishimoto (2002), se a criança constrói os conhecimentos
explorando o ambiente de forma integrada, a formação do
profissional também deveria passar por processos similares para
facilitar a compreensão do processo de construção
do conhecimento, mas, no entanto, muitos problemas que ocorrem com relação
a formação inicial do professor de educação
infantil afetam o cotidiano das instituições, pois decorrem
da falta de clareza do perfil do profissional que se deseja formar, deixando-se
de atribuir a devida importância as especificidades da educação
infantil e a diferenciação das crianças na faixa
etária de 0-6 anos.
A formação do profissional de educação infantil
precisa levá-lo a compreender que a criança aprende de modo
integrado e por isso o ambiente educativo não pode ser organizado
de forma disciplinar, como ocorre em outras modalidades de ensino. (Kishimoto,
2002).
Resgatando o trabalho realizado por Coll (1994), que utiliza o conceito
de atividade Auto-estruturante de Piaget e atividade Funcional de Claparède
(1958), irei analisar os tipos de atividades presentes na pré-escola,
relacionando estas práticas do cotidiano com a formação
inicial dos profissionais e os conhecimentos sobre a criança, seus
interesses e necessidades. Segundo Piaget, a atividade auto-estruturante
corresponde ao interesse do sujeito pelo ato que realiza; para Claparède
a atividade funcional consiste em possibilitar que o sujeito possa organizar
suas próprias ações com a finalidade de alcançar
um objetivo, cuja origem pode se encontrar em si mesmo ou em outra pessoa.
Além dessas atividades, existe a atividade de escuta, que significa
ouvir com atenção e atividade de efetuação,
a qual está relacionada com produção ou movimento
exteriorizado.
Com base nas distinções feitas, torna-se evidente que a
“atividade” de realização não é
condição necessária nem suficiente para caracterizar
o termo “atividade” postulado pela Escola Ativa, que segundo
Claparede (1958):
Para muitos, ser “ativo” quer dizer desenhar, fazer alguma
coisa em lugar de ficar apenas escutando (...).Pensa-se que “ativo”
significa “que age exteriormente”; que a atividade desenvolvida;
é proporcional ao número de atos visíveis executados
(...). Pois bem, digo que um indivíduo que pensa sentado numa cadeira
pode ser mais ativo que um aluno que faz uma tradução de
latim. E foi para evitar o equivoco do termo “ativo” que sempre
falei de concepção “funcional” da educação(...).É
ativa uma reação que responde a uma necessidade, que é
provocada por um desejo, que tem seu ponto de partida no indivíduo
que age, que é provocada por um movimento interno do ser que atua.
( p.142/3)
Evidencia-se que o real sentido do termo “atividade” é
o que se encontra no sentido funcional e se complementa com o auto-estruturante.
Contudo, deve-se destacar que a atividade de realização
constitui-se em um elemento auxiliar da escola ativa. São dois
os motivos que a justificam: em primeiro lugar, retém-se com maior
intensidade os conhecimentos adquiridos por processos ativos; em segundo
lugar, podem engendrar o processo funcional.
Em síntese, Claparède afirma: “Se combinarmos... a
necessidade com a exteriorização, obter-se-á uma
adição de elementos favoráveis e poder-se-á,
então dizer que foi realizada atividade na acepção
mais completa do termo” (Claparède, 1958, p.152).
Pretende-se investigar qual o elo existente entre o tipo de atividade
que o professor - que atua na Educação Infantil (pré-escola)
- organiza em sala e a sua formação inicial, a fim de possibilitar
uma reflexão frente às práticas cotidianas, criando
situações que melhorem a relação deste profissional
com as crianças, contribuindo, assim, para o desenvolvimento delas,
uma vez que o professor atua e realiza atividades concomitantemente com
os seus alunos em todo tempo na sala de aula.
Portanto, a atividade do professor e a análise da interatividade
são importantes para aprofundar a compreensão sobre o que
o aluno faz. Isto é possível se levarmos em consideração,
simultaneamente, as atuações do professor e sua formação
profissional, pois existe uma série de decisões e ações
do educador que, junto às atividades do aluno, são imprescindíveis
para analisar o desenvolvimento de uma tarefa escolar, uma vez que:
O ato educacional não consiste unicamente num processo de aprendizagem;
se assim fosse, seria difícil, além de desnecessário
e superfulo, diferenciá-lo da aprendizagem a seco ou do desenvolvimento
em geral. Há, também, uma vontade explicita de incidir uma
série de decisões sobre o que o aluno tem que aprender e
sobre as condições ótimas para que o aprenda. Em
outras palavras, não só há uma aprendizagem desejável
do aluno como também manifesta do professor de incidir sobre tal
aprendizagem. (Coll 1994).
A análise da interatividade do aluno nos leva a compreender a interação
entre professor e aluno, pois para entender o desenvolvimento humano é
preciso atribuir a devida importância da interação
como elemento para a construção do conhecimento. Desta maneira,
os instrumentos para esta análise, serão as dimensões
didáticas nas quais estão contempladas as decisões
tomadas pelos educadores na condução do processo de ensino-aprendizagem
e as atuações dos alunos durante a realização
das tarefas escolares. Esse instrumento permite captar melhor o tipo de
atividade do aluno que predomina na pré-escola, sendo útil
ao educador na análise de alguns aspectos da sua prática,
formação e, sobretudo, na busca de soluções
para alguns problemas, com os quais constantemente se defronta.
Este instrumento possibilita entender o processo ensino-aprendizagem,
uma vez que auxilia na (re)construção ou (re)elaboração
de instrumentos que podem ser úteis ao professor na análise
de alguns aspectos da sua ação educativa, os quais refletirão
o tipo da sua formação inicial.
Este estudo poderá auxiliar os profissionais da educação
infantil a pensar em atividades que privilegiem o desenvolvimento integral
das crianças, ou seja, que respeitem suas especificidades e sua
característica de ser ativo utilizando as atividades funcional
e auto-estruturante, e também permitindo que entendam o valor do
interesse e das necessidades do aluno no momento da realização
das tarefas, compreendendo que as suas práticas são influenciadas
pela s suas vivencias e sua formação inicial.
Procedimentos
Metodológicos
O trabalho
tem por objetivo compreender o contexto da natureza e características
das atividades que o aluno realiza, além do contexto da natureza
e características das atividades que o professor realiza nas salas
de pré-escola e suas relações com a formação
inicial deste profissional. Esta análise possibilitará identificar
as diferentes modalidades de atividades presentes no cotidiano da pré-escola
ao descrever simultaneamente a natureza da atividade do professor da atividade
do aluno.
Também pretende-se averiguar sob quais condições,
a análise da interatividade favorece ao máximo o aparecimento
de atividades auto-estruturante do aluno e, sobretudo a atividade auto-estruturante
do professor e a relação com a sua formação
inicial
No desenvolvimento inicial do trabalho foram realizadas leituras sobre
os tipos de atividades encontradas na pesquisa de César Coll, na
Espanha, além do aprofundamento dos conceitos do sujeito ativo,
em seguida selecionamos quatro salas de pré-escola cada uma localizada
em uma área da cidade e em escolas diferentes. Os participantes
da pesquisa são professoras de pré-escola da rede municipal
de ensino da cidade de Presidente Prudente-SP e seus respectivos alunos/crianças.
Para a coleta de dados optou-se pela realização de observações
direta nas salas de pré-escola porque “...a melhor maneira
de estudar a interação (...), consistirá em observar
diretamente uma turma de aula em pleno processo de ensino-aprendizagem”
Coll (1994, p. 62).
Uma outra etapa da pesquisa – entrevista semi-estruturada –
será a aplicação de entrevistas às professoras,
participantes da pesquisa. A aplicação será individual,
com o intuito de colher informações complementares às
observações das aulas, sobre sua formação
inicial e os conhecimentos sobre a criança, seus interesses e necessidades
fornecendo elementos para a análise sobre os tipos de atividades
e a formação do professor.
Após a coleta inicial de dados, observações, as informações
foram analisadas a partir das dimensões didáticas elaborados
por Coll (1994), que contemplam tanto as ações dos professores
como das crianças:
“Quanto a atividade do professor
1) Finalidade educativa que pretende o professor com a tarefa proposta:
a) Potencializar a apropriação de um saber (conhecimento,
habilidade, norma);
b) Potencializar a atividade do aluno (com o fim de favorecer a autonomia,
a independência, a criatividade etc).
2) Existência ou não de um saber ao redor do qual se organiza
a tarefa:
a) Há um saber escolhido pelo educador antes do inicio da tarefa;
b) Não há, mas o educador introduz durante a realização
da tarefa a partir do que as crianças fazem ou de suas propostas;
c) Não há nada em absoluto.
3) Planejamento pelo educador da tarefa que o aluno tem que realizar:
a) Ausência de planejamento;
b) Proposta de materiais diversos sem diretrizes precisas sobre as tarefas
a realizar;
c) Proposta de uma tarefa concreta sem diretrizes precisas sobre como
executa-la;
d) Proposta de uma tarefa detalhadamente planejada com instruções
precisas para executá-las.
4) Intervenções do educador durante a realização
das tarefas:
a) Sem intervenção
b) Intervenção de disciplina e controle;
c) Intervenção de direção e supervisão;
d) Intervenção de valorização da tarefa;
e) Intervenção de ajuda;
f) Intervenção de proposta;
Quanto a atividade da criança
5) Grau de iniciativa do aluno na escolha da tarefa e de seu conteúdo:
a) Iniciativa total para escolher a tarefa, o conteúdo e o material
sem outras limitações do que as que a situação
impõe (espaço, tempo, objetos disponíveis).
b) Iniciativa para escolher a tarefa e seu conteúdo a partir de
uma atividade proposta pelo educador.
c) Iniciativa de escolher um conteúdo a partir de uma atividade
proposta pelo educador.
d) Falta total de iniciativa na escolha da tarefa, que está fixada
de antemão.
6) Grau de iniciativa do aluno na realização da tarefa:
a) Iniciativa total: não há instrução alguma
sobre a maneira de executá-la.
b) Iniciativa para realizar a tarefa no interior de algumas propostas
globais de realização.
c) Falta total de iniciativa: a tarefa está totalmente pautada
de antemão.
7) Natureza da atuação requerida do aluno no caso de tarefas
fixadas e pautadas.
a) Receptiva: cumprimento de diretrizes de recepção e atenção.
b) Executiva: cumprimento de diretrizes de execução.
c) Reprodutiva: cumprimento de diretrizes de imitação”.
(Coll, 1994, p.52 e 53).
As análises
das observações fornecem dados referentes ao tipo de atividade
predominante nas salas de pré-escolas e em que momentos elas aparecem
no cotidiano.
Como foi descrito anteriormente os dados sobre a formação
dos profissionais serão coletados através de entrevistas
semi-estruturadas e analisados considerando os saberes necessários
para o desenvolvimento de uma prática que propicie o desenvolvimento
da atividade funcional e auto-estrurante, pois as pesquisas apontam que
muitos profissionais da área de Educação Infantil
têm uma formação mais próxima da visão
tradicional, ou seja, uma formação que se configura com
uma prática de escolarização, que muitas vezes não
considera as especificidades da criança pequena.
Para compreensão da relação existente entre as atividades
que o aluno e o professor realizam no cotidiano da pré-escola e
a formação dos profissionais, serão analisados os
programas dos cursos de formação inicial realizados pelos
profissionais participantes.
Após a realização de todas as analises será
realizada a devolução dos resultados para os professores
envolvidos na pesquisa, que ocorrerá na forma de um relatório,
visando possibilitar uma reflexão sobre as práticas observadas,
os tipos de atividades e a formação destes profissionais,
permitindo uma relação positiva entre pesquisador e participantes.
Apontando
alguns resultados
As análises
das observações basearam-se nas dimensões didáticas
já citadas cujas ações foram estudadas e categorizadas,
mostrando a predominância, das atividades de efetuação
e apenas em alguns momentos específicos a atividade funcional (no
período que as crianças podem escolher suas brincadeiras,
na escolha da seqüência das atividades e na votação
das histórias a serem lidas pela professora) e a atividade auto-estruturante
(no momento da escolha dos desenhos a serem realizados, dos objetos que
modelam com massinha e a maneira que decidem brincar no parque ou quadra)
nas salas de pré-escola.
Apesar da predominância da atividade de efetuação,
nota-se que nas quatro escolas pesquisadas até o momento, as professoras
buscam alternativas para possibilitar alguma liberdade para as ações
das crianças, mesmo quando se tratam de atividades já definidas
anteriormente. Na maioria das atividades as crianças mostram-se
participativas, mas isto não é sinal de que as crianças
estejam realmente interessadas ou envolvidas, porque, para que o trabalho
potencialize o interesse real da criança, para que seja ativa nas
suas atuações em sala, é preciso que exista clareza
do que seja um aluno ativo, superando o conceito de movimento.
Investigar se o tipo de atividade que o professor ou o adulto que atua
junto à criança na Educação Infantil possui
um elo com sua formação, possibilitando uma reflexão
frente as suas práticas cotidianas, criando situações
que melhorem sua relação com as crianças, contribuindo,
assim, para o desenvolvimento delas.
Considerações
Gerais
Os resultados
colhidos até o momento presente, permitem pontuar algumas inferências.
Estimular as crianças, instigar a curiosidade, permitir a liberdade,
a criatividade, torna a escola um ambiente mais agradável de forma
que se tenha sempre em mente objetivos a serem atingidos com as práticas
desenvolvidas. Ao adotarem tais procedimentos, os educadores estarão
contribuindo para a instauração de um novo
meio educativo que respeita e valoriza as atividades da criança,
um dos marcos essenciais que Jean Piaget mais exaltou em sua vida. Por
isso, o professor precisa pensar sobre o tipo de atividade que está
pedindo aos seus alunos e analisar quais são os objetivos, que
as atividades propostas poderão estar favorecendo, dificultando
ou até impedindo o processo de construção do conhecimento.
A atividade do professor e a análise da interatividade são
importantes para aprofundar a compreensão sobre o que o aluno faz
e a sua interação com o professor. Isto é possível
se levarmos em consideração, simultaneamente, as atuações
do professor e sua formação profissional, pois existem decisões
e ações do educador que, junto às atividades do aluno,
são imprescindíveis para analisar o desenvolvimento de uma
tarefa escolar. Esse instrumento permitirá captar melhor o tipo
de atividade do aluno que predomina na pré-escola, sendo útil
ao educador na análise de alguns aspectos da sua prática,
formação e, sobretudo, na busca de soluções
para alguns problemas, com os quais constantemente se defronta.
Destarte, acredito que a “teoria na prática não é
outra” e a análise da interatividade professor/aluno, embora
ainda esteja em seus primórdios, constitui-se em um campo fértil
para melhor entender o processo ensino-aprendizagem, uma vez que possibilita
a (re)construção ou (re)elaboração de instrumentos
que podem ser úteis ao professor na análise de alguns aspectos
da sua ação educativa, os quais refletirão o tipo
de formação profissional.
Todavia, mesmo acreditando nesta hipótese, estou ainda distante
de entender a complexidade sobre o que ocorre efetivamente na sala de
aula. As análises dos dados realizadas até o momento apontam
que o tipo de atividade predominante nas salas de pré-escola é
a atividade de efetuação, caracterizando um desconhecimento
dos interesses e necessidades das crianças, concretizando-se em
práticas voltadas para a preparação do ensino fundamental
(treino de coordenação motora, ou a identificação
de letras ou números que acabam limitando uma ação
mais espontânea, que desperte o interesse).
Diante disto, é possível considerar que esta concepção
de atividade e de criança não é a mesma discutida
pela Escola Ativa e se concretiza em um tipo de instituição
dedicada a primeira infância que não considera a criança
como um ser ativo, no entanto precisamos de instituições
que ofereçam possibilidades para expressão e coloquem a
primeira infância como algo importante e um estágio relevante
na vida, com direito a uma educação que respeite suas necessidades,
interesses e especificidades.
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