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Dizer que gibis alienam ou são perniciosos
pelo simples fato de serem gibis é uma
afirmação duplamente equivocada, pois é
errada quanto ao conteúdo e totalmente
anacrônica... |
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NÃO-VIOLÊNCIA NA EDUCAÇÃO
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Jean-Marie Muller
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Professores
da rede pública costumam viver um dilema. No
cotidiano, dão aulas num ambiente violento, em
que são comuns as agressões verbais e físicas
entre os alunos e estendidas aos professores, um
caos permeado de humilhações, indisciplina
exagerada e ameaças, muitas vezes reforçadas
pela exibição de armas. Das altas esferas da
educação, no entanto, emanam diretrizes
humanitárias que pressupõem um oásis de
convivência e respeito, povoado por alunos que
anseiam ardorosamente ter seu espírito tocado
pelo brilhantismo do mestre através de propostas
educacionais ousadas.
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Sem diretrizes claras de como agir, os agentes
escolares resolvem os acontecimentos violentos
como lhes parece possível no momento, muitas
vezes tomados também eles pelo espírito de
violência e sobrevivência do mais forte que
prevalece na “selva” que sentem habitar.
Jean-Marie
Muller, filósofo francês autor de mais de trinta
livros, fundador e diretor do Instituto de
Pesquisas sobre a Resolução Não-Violenta de
Conflitos, prefere uma abordagem mais prática.
No livro Não-violência na educação, que está
sendo lançado pela Palas Athena Editora no dia
17 de abril, às 19 horas na Fnac Paulista como
parte das iniciativas promovidas para a Década
Internacional para uma Cultura de Paz e
Não-Violência para as Crianças no Mundo
(2001-2010), o autor é lúcido a respeito de como
implantar a não-violência.
Diz ele que a cultura da violência já está
instalada em nossas sociedades e é diariamente
reforçada por todos os meios de comunicação.
Quando uma criança toma o brinquedo de outra,
nossa sociedade vê como perfeitamente natural
que a segunda avance e o arranque de volta. Ou
tome outro brinquedo em retaliação, ou ainda que
bata no colega. No entanto, como bem aponta o
autor, a contra-violência gera apenas mais
violência: a primeira criança vai sentir-se
agredida e também ela retribuir, levando a uma
possível escalada de violências que não
beneficia nenhum dos participantes e pode até
causar a destruição do brinquedo originalmente
disputado.
Já a não-violência é vista como algo utópico,
contrário até à natureza humana agressiva e
competitiva.
No curto volume carregado de conceitos diretos e
aplicáveis, o professor Muller define violência
não como agressividade, esta sim natural da
nossa espécie, mas como a ameaça à vida ou à
integridade do outro. A violência é um
desrespeito básico pelo humano no outro, que o
torna uma coisa a ser usada ou explorada ou
destruída.
A não-violência, ele também insiste em dizer,
não é fácil nem brota espontaneamente, mas é
sempre uma escolha possível para quem é humano.
Ela consiste não em evitar conflitos, também
inevitáveis quando há convivência entre
quaisquer pessoas com interesses diferentes, mas
em resolver esses conflitos de uma forma
pacífica. Através do diálogo, do recurso à
justiça, da mediação. A não-violência pressupõe
que todos os outros são tão humanos quanto nós e
que portanto as únicas medidas aceitáveis são
aquelas que nós consideraríamos justas se também
fossem aplicadas em nós.
O garoto que teve seu brinquedo arrancado de
suas mãos (e achou isso injusto) precisaria
assim não fazer a mesma coisa (outra injustiça)
mas conversar com o colega, negociar a troca de
brinquedos ou talvez recorrer a uma instância de
justiça (um professor-mediador). Diz o professor
Muller e concordam os professores das escolas do
projeto Educadores da Paz do Espaço Interação,
uma instituição voltada para a não-violência na
escola, que mesmo crianças muito pequenas
conseguem compreender a lógica de “não faça ao
outro o que não quer que o outro faça a você”. E
que adolescentes também são capazes de entender
e adotar um sistema de convivência norteado
dessa maneira – se perceberem que a regra vale
para todos, inclusive professores e
administradores.
As sugestões do autor incluem idéias contrárias
à corrente comum, como por exemplo o repúdio à
democracia quando esta for uma fachada apoiada
numa ditadura da maioria e não resultado de uma
discussão em foro público. E que a escola não é
uma democracia, mas uma sociedade em que há uma
autoridade estabelecida, que precisa ser exibida
como exemplo e jamais imposta.
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O lançamento do livro Não-violência na Educação
vem sendo acompanhado de palestras gratuitas da
doutora Laura Roizman e a seguir do dramaturgo
George Barcat, que abrirá espaço para um debate.
MULLER, Jean Marie.
Não-Violência na
Educação. SP:
Editora Palas Athena, 2007. |
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