Lançamento

voltar menu revista 09

 

 As minhas pretensões maiores estão diretamente relacionadas a uma reflexão crítica sobre as possibilidades de existência que se abrem aos professores na atualidade, com forte ênfase nas dimensões de sua saúde (física e mental) e, por decorrência, a uma visada sincera sobre os seus momentos de descanso e de lazer.

LEITURAS AVENTUREIRAS: por um pouco de prazer...
 Ezequiel Theodoro da Silva

TRECHO DA APRESENTAÇÃO

"Falar em prazer no âmbito do magistério é quase uma temeridade: os professores brasileiros vêm sendo, há um bom tempo, fustigados pelos governos e vilipendiados por muitos segmentos da sociedade. A situação das escolas não é das mais confortáveis. As condições para a realização de um ensino de qualidade vão de mal a pior. A vida dos mestres se definha cada vez mais, na mesma proporção em que crescem as promessas de dignificação do magistério em períodos eleitorais. Uma lástima. Uma tristeza. Uma atmosfera brochante, extremamente desanimadora.

Tal qual o José do inesquecível poema de Drummond, não sabendo muito bem para onde marcha e ruma, o professor sofre, grita quando pode, senta numa psicoterapia quando tem, chora ao ver que o cheque especial acaba no dia 20 do mês, fica doente, fica estressado, tenta ainda sonhar com um amanhã melhor e... de manhã, como regularmente o faz, está defronte à classe para fazer a chamada e executar a sagrada tarefa diária da aula. Se possível, sorridente, pois a escola deve ser sã, sadia, salubre e saudável. Eis a contradição da existência do docente hoje em dia: fingir dignidade por fora, carregando um inferno psicológico por dentro.

Das minhas viagens pelo Brasil para palestras e cursos, surgem algumas ingratas constatações a respeito do tipo de existência dos professores brasileiros. Muitos foram engolidos pela apatia e desesperança. Muitos assumem a agressividade como forma de responder às demandas de conversa e diálogo. Muitos perderam o entusiasmo pelo estudo. Muitos entraram para o time da maledicência e do fuxico nas escolas onde trabalham. Muitos são assexuados por força das desgraças da profissão. Muitos se esqueceram de si: não apresentam nenhum tipo de amor-próprio, vaidade e/ou desejo de conquistar uma outra ordem para o desenvolvimento de sua vocação e para as transformações sociais ao alcance da sua ação pedagógica.

Poucos (ainda bem!) compreendem e buscam compreender cada vez mais os condicionantes da sua vida profissional. Por isso mesmo, por saberem as razões primeiras do descaso dos governos para com a escola e o ensino, não se entregaram à frustração e nem permitiram que as constantes opressões mitigassem a sua vontade de viver. Ou seja: jamais se esqueceram de si mesmos, do cuidado consigo, da vida que tem de ser intensamente vivida, do amor às pessoas da sua comunidade, do conhecimento a ser continuamente aprimorado e das paixões a serem sentidas já, neste momento, agora, sob o risco de nunca ganharem corpo numa vida a dois. Ou seja: aqueles poucos que não assumem e nem querem para a si a solidão como forma de ser neste mundo.

Pesco desde a minha infância. Inicialmente, aprendi um pouco dos mistérios da pesca com meu pai e meus irmãos. As curvas do Rio Pardo, que banha a cidade de Santa Cruz do Rio Pardo (SP), foram os meus primeiros cenários de diálogo com os pequenos peixes da região: carás, lambaris, tambiús, bagres, mandis, cascudos, mariquinhas, serrotes, espadas e piavas. Um aprendizado que aos poucos e ao longo do tempo se tornou em paixão encarnada em mim, transformando-se em lazer predileto e freqüentemente levando-me ao encontro dos peixes em diversas regiões pesqueiras do Brasil e do exterior. E mais: uma experiência tão apaixonante, tão vibrante que, depois da minha aposentaria na Unicamp no ano de 2000, me fez debruçar sobre ela para efeito de pesquisa e de expressão escrita. Daí vários livros sobre pesca esportiva, a coordenação de uma coleção de obras sobre o assunto e um mega site na Internet - o www.pescarte.com.br -, com mais de 4.000 páginas sobre o maravilhoso universo da pesca, das águas e dos peixes.

O que, exatamente, pretendo eu com esta aproximação entre pesca e educação resultando em leituras aventureiras? Repetir o velho mote “Tá nervoso vai pescar?” Ou então aumentar o número de pescadores do Brasil através da motivação e do envolvimento dos professores? Se isto vier a acontecer com a leitura desta obra, vou achar ótimo, porém não é bem esse o meu objetivo. As minhas pretensões maiores estão diretamente relacionadas a uma reflexão crítica sobre as possibilidades de existência que se abrem aos professores na atualidade, com forte ênfase nas dimensões de sua saúde (física e mental) e, por decorrência, a uma visada sincera sobre os seus momentos de descanso e de lazer. Além disso, através de textos humorísticos, como o são os causos de pescadores ou as piadas escolares, combater, mesmo que por breve momento, as tristezas da profissão docente.

De forma nenhuma desejo, com este livro, redundar no “rir para não chorar”. Ainda que esse clássico ditado popular se ajuste muito bem na vida atual dos professores brasileiros, não quero seguir por essa estrada. Quero, isto sim, mostrar que nós, educadores, temos direito ao riso, ao prazer e à alegria no trabalho e fora dele, não deixando que a nossa gangorra existencial penda unicamente para o lado da sisudez forçada ou do desprazer contínuo ou de uma tristeza permanente. Somos gente e como gente precisamos da renovação diária das nossas energias humanas, tal qual a revitalização que a sala de aula e os estudantes nos exigem a cada dia, sem exceção. Assim, inverto o velho ditado e digo “não chorar para rir” ou, simplesmente, “rir por rir”.

Finalmente e não menos importante, o meu desejo ao escrever este livro também se dirige aos horizontes da aventura e da viagem. Da necessidade de rompimento com as rotinas impostas. Nestes termos, procuro mostrar que o universo da pesca esportiva - ou quiçá de qualquer outro entretenimento abraçado apaixonadamente – nos possibilita uma renovação do olhar, nos leva à procura do outro, nos força ao enfrentamento de fatos inesperados, nos faz personagens e construtores de histórias. E o ensino, tal qual a pesca, também tem muito de aventura ou pode se alimentar das aventuras nascidas das viagens concretas dos professores por diferentes territórios. Nesta obra, ao falar gostosamente sobre as minhas incursões pelo maravilhoso universo da águas e dos peixes, quero acentuar, enfatizar aos meus colegas professores que, ao lado do labor cotidiano, necessitamos de outras coisas para adensar a nossa existência e fazer a vida valer mais a pena. O sofrimento não pode se constituir num modo de ser do magistério nacional!
" (PP. 15-18)

 

SILVA, Ezequiel Theodoro. Leituras Aventureiras - por um pouco de prazer (de leitura) aos professores.  São Paulo: Global Editora, 2008 (120 p.)

 Adquira a obra - clique aqui

Leia outras resenhas

Copyright ©2008, by ALB/Campinas, SP, Brasil

 

Indique a um amigo:
Remetente:
Email Remetente:
Destinatário:
Email Destinatário: