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As minhas pretensões
maiores estão diretamente relacionadas a uma
reflexão crítica sobre as possibilidades de
existência que se abrem aos professores na
atualidade, com forte ênfase nas dimensões
de sua saúde (física e mental) e, por
decorrência, a uma visada sincera sobre os
seus momentos de descanso e de lazer. |
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LEITURAS
AVENTUREIRAS: por um pouco de prazer...
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Ezequiel
Theodoro da Silva
TRECHO DA APRESENTAÇÃO
"Falar em prazer no âmbito do magistério é
quase uma temeridade: os professores
brasileiros vêm sendo, há um bom tempo,
fustigados pelos governos e vilipendiados por
muitos segmentos da sociedade. A situação das
escolas não é das mais confortáveis. As
condições para a realização de um ensino de
qualidade vão de mal a pior. A vida dos
mestres se definha cada vez mais, na mesma
proporção em que crescem as promessas de
dignificação do magistério em períodos
eleitorais. Uma lástima. Uma tristeza. Uma
atmosfera brochante, extremamente
desanimadora.
Tal qual o José do inesquecível poema de
Drummond, não sabendo muito bem para onde
marcha e ruma, o professor sofre, grita quando
pode, senta numa psicoterapia quando tem,
chora ao ver que o cheque especial acaba no
dia 20 do mês, fica doente, fica estressado,
tenta ainda sonhar com um amanhã melhor e...
de manhã, como regularmente o faz, está
defronte à classe para fazer a chamada e
executar a sagrada tarefa diária da aula. Se
possível, sorridente, pois a escola deve ser
sã, sadia, salubre e saudável. Eis a
contradição da existência do docente hoje em
dia: fingir dignidade por fora, carregando um
inferno psicológico por dentro.
Das minhas viagens pelo Brasil para palestras
e cursos, surgem algumas ingratas constatações
a respeito do tipo de existência dos
professores brasileiros. Muitos foram
engolidos pela apatia e desesperança. Muitos
assumem a agressividade como forma de
responder às demandas de conversa e diálogo.
Muitos perderam o entusiasmo pelo estudo.
Muitos entraram para o time da maledicência e
do fuxico nas escolas onde trabalham. Muitos
são assexuados por força das desgraças da
profissão. Muitos se esqueceram de si: não
apresentam nenhum tipo de amor-próprio,
vaidade e/ou desejo de conquistar uma outra
ordem para o desenvolvimento de sua vocação e
para as transformações sociais ao alcance da
sua ação pedagógica.
Poucos (ainda bem!) compreendem e buscam
compreender cada vez mais os condicionantes da
sua vida profissional. Por isso mesmo, por
saberem as razões primeiras do descaso dos
governos para com a escola e o ensino, não se
entregaram à frustração e nem permitiram que
as constantes opressões mitigassem a sua
vontade de viver. Ou seja: jamais se
esqueceram de si mesmos, do cuidado consigo,
da vida que tem de ser intensamente vivida, do
amor às pessoas da sua comunidade, do
conhecimento a ser continuamente aprimorado e
das paixões a serem sentidas já, neste
momento, agora, sob o risco de nunca ganharem
corpo numa vida a dois. Ou seja: aqueles
poucos que não assumem e nem querem para a si
a solidão como forma de ser neste mundo.
Pesco desde a minha infância. Inicialmente,
aprendi um pouco dos mistérios da pesca com
meu pai e meus irmãos. As curvas do Rio Pardo,
que banha a cidade de Santa Cruz do Rio Pardo
(SP), foram os meus primeiros cenários de
diálogo com os pequenos peixes da região:
carás, lambaris, tambiús, bagres, mandis,
cascudos, mariquinhas, serrotes, espadas e
piavas. Um aprendizado que aos poucos e ao
longo do tempo se tornou em paixão encarnada
em mim, transformando-se em lazer predileto e
freqüentemente levando-me ao encontro dos
peixes em diversas regiões pesqueiras do
Brasil e do exterior. E mais: uma experiência
tão apaixonante, tão vibrante que, depois da
minha aposentaria na Unicamp no ano de 2000,
me fez debruçar sobre ela para efeito de
pesquisa e de expressão escrita. Daí vários
livros sobre pesca esportiva, a coordenação de
uma coleção de obras sobre o assunto e um mega
site na Internet - o
www.pescarte.com.br -, com mais de 4.000
páginas sobre o maravilhoso universo da pesca,
das águas e dos peixes.
O que, exatamente, pretendo eu com esta
aproximação entre pesca e educação resultando
em leituras aventureiras? Repetir o velho mote
“Tá nervoso vai pescar?” Ou então aumentar o
número de pescadores do Brasil através da
motivação e do envolvimento dos professores?
Se isto vier a acontecer com a leitura desta
obra, vou achar ótimo, porém não é bem esse o
meu objetivo. As minhas pretensões maiores
estão diretamente relacionadas a uma reflexão
crítica sobre as possibilidades de existência
que se abrem aos professores na atualidade,
com forte ênfase nas dimensões de sua saúde
(física e mental) e, por decorrência, a uma
visada sincera sobre os seus momentos de
descanso e de lazer. Além disso, através de
textos humorísticos, como o são os causos de
pescadores ou as piadas escolares, combater,
mesmo que por breve momento, as tristezas da
profissão docente.
De forma nenhuma desejo, com este livro,
redundar no “rir para não chorar”. Ainda que
esse clássico ditado popular se ajuste muito
bem na vida atual dos professores brasileiros,
não quero seguir por essa estrada. Quero, isto
sim, mostrar que nós, educadores, temos
direito ao riso, ao prazer e à alegria no
trabalho e fora dele, não deixando que a nossa
gangorra existencial penda unicamente para o
lado da sisudez forçada ou do desprazer
contínuo ou de uma tristeza permanente. Somos
gente e como gente precisamos da renovação
diária das nossas energias humanas, tal qual a
revitalização que a sala de aula e os
estudantes nos exigem a cada dia, sem exceção.
Assim, inverto o velho ditado e digo “não
chorar para rir” ou, simplesmente, “rir por
rir”.
Finalmente e não menos importante, o meu
desejo ao escrever este livro também se dirige
aos horizontes da aventura e da viagem. Da
necessidade de rompimento com as rotinas
impostas. Nestes termos, procuro mostrar que o
universo da pesca esportiva - ou quiçá de
qualquer outro entretenimento abraçado
apaixonadamente – nos possibilita uma
renovação do olhar, nos leva à procura do
outro, nos força ao enfrentamento de fatos
inesperados, nos faz personagens e
construtores de histórias. E o ensino, tal
qual a pesca, também tem muito de aventura ou
pode se alimentar das aventuras nascidas das
viagens concretas dos professores por
diferentes territórios. Nesta obra, ao falar
gostosamente sobre as minhas incursões pelo
maravilhoso universo da águas e dos peixes,
quero acentuar, enfatizar aos meus colegas
professores que, ao lado do labor cotidiano,
necessitamos de outras coisas para adensar a
nossa existência e fazer a vida valer mais a
pena. O sofrimento não pode se constituir num
modo de ser do magistério nacional!"
(PP. 15-18)
SILVA, Ezequiel Theodoro. Leituras
Aventureiras - por um pouco de prazer (de
leitura) aos professores. São
Paulo: Global Editora, 2008 (120 p.) |
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