Matéria Publicada em 16/03/2006

Fórum destaca papel do professor

Lígia Moreli -

Ligia.moreli@rac.com.br 

Da Agência Anhangüera 

Com público recorde que ultrapassou os 1200 participantes - em anos anteriores a participação máxima chegou a 850 docentes - foi realizado ontem o Fórum Desafios do Magistério, no Centro de Convenções da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para discutir o tema "Alfabetização no Brasil: questões provocações da atualidade" . Falando para uma platéia que se dividiu em três auditórios, dois deles com transmissão via telão, os palestrantes condenaram a discussão pura e simples acerca do melhor método de alfabetização, que voltou à tona polarizando o construtivismo e o método fônico, e defenderam que a maior preocupação deve ser com a formação do professor que, com sua competência, pode ser capaz de obter bons resultados no ensino brasileiro.

O primeira tema discutido foi "Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional" , com os professores doutores, Dione Lucchesi de Carvalho, da Faculdade de Educação da Unicamp, que falou sobre a Matemática no processo de alfabetização e defendeu que todos precisam dominar também a sua linguagem, e Luis Percival Leme de Britto, da UNISO, que certamente foi um dos mais aplaudidos ao colocar pontos de vistas polêmicos como o que defende que a norma culta não deve ser ensinada na escola e que muitas críticas ao ensino fazem parte de um jogo político. Em sua fala, Percival defendeu que a escola está sim cumprindo seu papel e fez leituras que considera "menos catastróficas" com relação à educação, citando, por exemplo, as estatísticas do último Indicator de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado em outubro do ano passado, informando que apenas 26% da população brasileira de 15 a 60 anos encontra-se em nível pleno de alfabetização. O número, segundo ele, ainda é pequeno, mas não quer dizer que o restante da população não tenha contato algum com a escrita. "As pessoas vulgarizaram o conceito de analfabeto, como aquele que não sabe. Mas os analfabetos funcionais sabem. Mesmo os analfabetos têm algum contato com símbolos" , ponderou.

O "Duelo dos Métodos" foi o tema do professor Luiz Carlos Cagliari, da Unesp de Araraquara, que deslocou o foco da discussão do método para a conduta do docente. "A educação não deu certo quando tiraram a competência do professor e colocaram no método. A diferença no ensino não está no livro, mas na ação do professor" , enfatizou.

A escola de 9 anos, recentemente implantada no estado de São Paulo, foi o assunto da palestra da professora Isabel Cristina Alves da Silva Frade, da UFMG. Ela, que faz parte do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE), trouxe a experiência de Minas Gerais, que desde 2004 está com alunos de 6 anos sendo alfabetizados."Uma primeira pesquisa realizada com as ingressantes, um ano depois, mostrou que 65% delas estavam dominando textos e frases. Isto é um indicativo de que vale a pena" , informou.

Fechando o evento, o professor Sérgio Antonio da Silva Leite, da Faculdade de Educação da Unicamp, falou sobre "Afetividade e Práticas Pedagógicas no processo de alfabetização" , defendendo que a aprendizagem passa pelo campo das emoções. "Ninguém nasce gostando de ler. A dimensão afetiva entre o aluno e o texto é determinada em grande parte pela história de mediação que ele teve com a escrita, seja pelos pais, seja pela escola" , concluiu.

O evento de ontem foi uma prévia para o 3º Seminário Nacional "O Professor e a Leitura de Jornal" , previsto para os dias 18, 19 e 20 de julho, também na Unicamp. O Fórum Desafios do Magistério é uma realização da Unicamp, em parceria com a cooperativa educacional Acorde e a Rede Anhangüera de Comunicação.

 

Raio X da Alfabetização

Da população brasileira de 15 a 60 anos: 26% têm nível pleno: conseguem ler textos longos, relacionar informações e comparar textos, 38% têm nível básico: conseguem ler textos curtos, localizando informação explícita; 30% têm nível rudimentar: conseguem ler títulos e frases, localizando informação bem explícita, 7% são analfabetos: não conseguem realizar tarefas simples que envolvam decodificação de palavras e frases

Fonte: Indicador de Alfabetismo Funcional 2005