V Seminário “Leitura e Produção
na Educação Superior”

SINOPSE O presente seminário tem por objetivo reunir profissionais dispostos a refletir sobre a Leitura e Produção no Ensino Superior a partir de uma pergunta central que vem norteando os debates e a tomada de posição sobre os fazeres acadêmicos: O que a Universidade tem oferecido como resultado de seu fazer cotidiano? Para mobilizar pesquisadores em torno desta questão, temos assumido que é necessário tematizar o advento de uma passagem que vem se tornando cada vez mais rara: o momento em que um sujeito abandona sua dificuldade para escrever palavras que lhe sejam próprias e se autoriza a iniciar e a sustentar uma produção. Nesta direção, o seminário reúne os interessados no tema para estudar a possibilidade de escapar de, pelo menos, duas armadilhas: 1. A curiosa compulsão para aderir às palavras do outro seja sob a forma de plágio, paráfrase, excesso de citações, ou mesmo, seja por uma indisposição para formular outras questões que não aquelas que visem confirmar o que já está estabelecido; e 2. O silenciamento das novas gerações, causado por ruídos que elas não produziram. No caso da Universidade, a reprodução de palavras gastas, entre elas a da própria crítica que, consistindo freqüentemente em opinião pessoal expressa no gênero discurso científico, funciona como um silenciador da dimensão criadora, corroborando impressão de que "nunca se pensou tão pouco".

TEXTO BASE

Contudo, olhas o teu filho, o bichinho que não sabe Ferreira Gullar

Desde da primeira versão do Seminário “Leitura e Produção na Educação Superior”, em 1999, propusemo-nos a refletir a respeito das armadilhas que estão presentes em uma Universidade constituída como um lugar em que se reflete sobre a escrita e a leitura do outro sem que tal ato venha acompanhado da necessária disposição para tomar sua própria leitura e escrita como objeto de análise.

Passados alguns anos, o interesse pelo tema aumentou. Preocupações com a leitura e a escrita no ensino superior foram tomando força em eventos e pesquisas. Neste Seminário, de 2003 para 2005, dobrou o número de trabalhos apresentados. Uma coragem parece se instaurar, mas com armadilhas: declarações e ações nem sempre andam juntas.

Por este motivo, visando a apresentar alguns subsídios para o aprofundamento desta discussão, julgamos necessário recuperar, neste momento, algumas instâncias de discussão nas quais esta questão tem sido trabalhada.

A primeira delas é o próprio seminário. Para ser breve, tomemos o que apontávamos na abertura de sua quarta versão, em 2005: “refletir sobre a leitura e produção no ensino superior passa pela necessidade de tematizar o advento de uma passagem que vem se tornando cada vez mais rara: o momento em que um sujeito abandona sua dificuldade para escrever palavras que lhe sejam próprias e se autoriza a iniciar e a sustentar uma produção”. Nesta direção, apontamos a necessidade de combater as duas principais armadilhas para quem pretende seguir o caminho da produção intelectual, quais sejam:

1) A curiosa compulsão para aderir às palavras do outro em detrimento das próprias, seja sob a forma de plágio, paráfrase, excesso de citações, ou mesmo, por uma indisposição para formular outro tipo de questões que não aquelas que visam exclusivamente comprovar o que já está dito em uma dada teoria; e

2) O silenciamento das novas gerações, causado por ruídos que elas não produziram. No caso da Universidade, a excessiva reprodução de palavras gastas, entre elas a da própria crítica  que, muitas vezes, consistindo-se apenas numa opinião pessoal expressa no gênero discurso científico  funciona como um silenciador da dimensão da criação e colabora para esta impressão que, desde o raiar do século XXI, tem sido publicada em letras de forma nos mais variados suportes, assinados pelos mais diferentes tipos de autores: "nunca se pensou tão pouco".

A segunda refere-se ao trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Fórum Acadêmico de Letras – FALE, organizado pela Associação Nacional da Pesquisa na Graduação em Letras – ANPGL. Como este fórum tem assumido um caráter não só de discussão acadêmica, mas também de se consistir em uma instância propositiva, vimos reivindicando uma política específica para a pesquisa na graduação, que permita o exercício necessário para a produção de conhecimento, transcendendo à sua recepção passiva.

A terceira consiste no trabalho que vimos desenvolvendo no Grupo de Estudos e Pesquisa Produção Escrita e Psicanálise (GEPPEP), na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, que tem como objetivo construir um ambiente no qual os seus participantes possam criar um caminho singular para a realização de suas investigações. Tendo iniciado suas atividades no segundo semestre de 2004, o GEPPEP reúne pesquisadores que se encontram em diferentes momentos de seu percurso acadêmico (graduandos, pós-graduandos e docentes), cujo interesse compartilhado é tomar a escrita e a criação do sujeito contemporâneo como objeto de estudo. Ressaltamos que este trabalho teve seu germe na própria condução da disciplina Metodologia do Ensino de Português na FE-USP, na qual privilegiamos a indagação sobre os modos como e as intenções com que a Universidade fala aos professores.

Por último, salientamos, ainda, os trabalhos do Grupo de Pesquisa Escritura, Texto & Criação (ET&C), registrado no CNPq desde 2002. O ET&C propõe-se a investigar processos de escritura nas relações entre sujeito, língua e sentido, delinear procedimentos de coleta e análise que permeiem a questão da subjetividade e a detecção da criação, documentá-los e elaborar materiais voltados para a constituição destes processos. No interior deste grupo, os dois coordenadores do Seminário vêm conduzindo a linha de pesquisa A singularidade na produção de conhecimento sobre o ensino de Língua Portuguesa, que, por sua vez, visa descrever os processos de apropriação e criação de conhecimento por professores em formação e investigar as relações entre o sujeito e os textos acadêmicos, numa tentativa de localizar os traços que indiquem a singularidade e os processos de autoria.

Assentando-nos, portanto, sobre as discussões que vem sendo construídas com diversos parceiros, em 2007, aproveitando-nos de um verso do poema de Ferreira Gullar cujo título foi utilizado como mote para a organização do temário geral do 16º COLE propomos a discussão a respeito da derrocada do saber que se constrói, justamente, em tempos nos quais a ilusão de poder saber tudo é tão premente.

Aos professores do ensino superior que são tão pródigos em se referir aos avanços tecnológicos que, ao menos supostamente, facilitariam o acesso de seus alunos ao acervo cultural da humanidade, aos gestores que pensam ser possível trocar um bom professor por um programa educacional mais complexo, aos políticos que julgam ser suficiente promover o acesso universal do aluno à educação superior, lançamos o convite de Gullar: “Contudo, olhas o teu filho, o bichinho que não sabe”.

 

PROGRAMA

11 de julho (quarta-feira)

Abertura: "Tendências na análise da produção acadêmica"- Valdir Heitor Barzotto (USP- ANPGL); Adna Lopes (UFAL); Sonia Almeida (UFMA)

Mesa Redonda: "Mobilização de saberes para a produção no ensino superior" - Émerson de Pietri (FE-USP); Manoel Luiz Gonçalves Correa (FFLCH-USP); Maria das Graças Soares Rodrigues (UFRN-Currais Novos)
Local: Auditório I - Centro de Convenções

 

12 de julho (quinta feira)

Palestra: "O bichinho que não sabe: ética e responsabilidade na formação das novas gerações"- Claudia Rosa Riolfi ( FE-USP)
Local: Auditório I - Centro de Convenções

Mesa Redonda: “Processos de formação: depoimentos sobre instâncias de responsabilização na Universidade”- Daniela Aparecida Eufrásio (ANPGL); Eliene Estácio dos Santos ( ET&C); Marinalva Vieira Barbosa (FALE ); Emari Andrade de Jesus (GEPPEP); Mical de Melo Marcelino Magalhães (Formação Continuada)
Local: Auditório I - Centro de Convenções

 

13 de julho (sexta feira)

Síntese das Discussões e Avaliação
Local: Centro de Convenções - Auditório III

SÍNTESE DO SEMINÁRIO