Tania Piacentini está à frente de um trabalho conseqüente de promoção da leitura no Estado de Santa Catarina. Uma experiência para se tirar o chapéu, que caminha e navega firmemente, tendo como objetivo o amor pelos livros e o gosto pela leitura. Vale a pena ler para conhecer e, se possível, fazer a adesão ou então, no mínimo, ser um "doador da barca".
Tania, conte um pouco da sua formação e trajetória profissional.
Eu sou, primeiramente, normalista! Terminei o curso
normal em Criciúma, em 1965 - sendo professora
substituta na minha cidade, Siderópolis, nos segundo e
terceiro normal, com 16 e 17 anos - e no ano seguinte
passei no vestibular de Letras - Português e Francês -
e fiz toda a faculdade lecionando para o primário e,
já a partir do 3º ano, também ensinando Português nos
cursos clássico e ginasial. Eu estudei em universidade
pública, a UFSC, em Florianópolis, e logo depois de
formada nela permaneci como professora do Colégio de
Aplicação. Em 1975 fiz concurso para o ensino superior
e passei a lecionar Metodologia e Prática de Ensino de
Português e Literatura no Curso de Letras, onde
trabalhei até me aposentar, tendo cursado Mestrado e
Doutorado em Educação na UNICAMP, na área de
Metodologia de Ensino, com dissertação e tese
relacionadas à Literatura. Lecionei em pré-vestibular,
fui professora-leitora de Português em universidade
francesa (Nice), uma das poucas experiências que não
tive foi a de alfabetizadora: a sala de aula foi
sempre meu lugar de atuação, meu espaço para novas
experiências, novas propostas, muitos acertos e
algumas poucas decepções.
Minha história de leitura começou naturalmente: não
me lembro como aprendi a ler, mas livros e revistas
sempre circularam em minha casa, onde todos liam. Me
lembro de uma única proibição: ler à mesa, durante a
refeições; não, de duas, ler até muito tarde, à noite!
E líamos tudo, gibis, revistas, romances, policiais,
ficção científica, todo Monteiro Lobato, claro,
poesia, clássicos universais: dentro dessa diversidade
pouco a pouco fui fazendo meu trajeto. E hoje o que
mais me atrai são as narrativas: romances, contos,
novelas. Acho muito difícil selecionar UM livro: seria
uma ingratidão com tantos outros também merecedores de
uma indicação! Mas para não fugir ao desafio, indico O
engenhoso fidalgo D.Quixote de La Mancha, em espanhol
ou na tradução recente de Sérgio Molina, apesar de a
Editora 34 estar nos devendo a publicação do Livro 2!
Ler D. Quixote em grupo, numa das atividades semanais
da Sociedade Amantes da Leitura, está sendo uma
experiência muito interessante!
Não tenho dados para traçar um quadro consistente.
Conheço o excelente trabalho do PROLER de Blumenau e
região do Alto Vale do Itajai, e a realidade da
capital, uma cidade de quase 400.000 habitantes que só
tem duas bibliotecas públicas, com a do centro - a
estadual - bastante frágil, com um acervo muito
desatualizado. Desconheço, também, estudos e pesquisas
sobre esta realidade, em todo o estado.
Não que eu saiba: desconheço a existência de uma
política oficial, de governo, estadual ou municipais,
para a área do livro e da leitura. Há, sim, um projeto
em andamento, de uma universidade do oeste
catarinense, com ajuda da Fapesc. Pode ser que haja
outras ações, mas não existe a reunião dessas
informações, ou se houver, não existe a divulgação!
Nasceu por causa dessa carência de bibliotecas em
Florianópolis! Como votante da FNLIJ -Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil - eu reuni muitos
livros que as editoras nos enviam para concorrer aos
prêmios anuais que a Fundação outorga e com a adesão
entusiasmada de um grupo de amigos, todos leitores
apaixonados, criamos em agosto de 2003, a Sociedade,
uma associação civil de direito privado, sem fins
lucrativos e de interesse público. Somos um grupo de
pessoas que reconhece a importância da leitura para o
desenvolvimento individual e comunitário. Fomos
reconhecidos como entidade de Utilidade Pública
Municipal, pela Lei Nº 11.403 (12/07/2005), e Estadual
pela Lei Nº 13.590 (29/11/2005), em função dos
objetivos que nos propusemos e dos trabalhos que já
realizamos nesses poucos anos de funcionamento. Também
estamos autorizados a captar recursos pela Lei Rouanet
(PRONAC 06 3793).
Desde o início, nosso maior objetivo foi a criação de uma biblioteca na Lagoa da Conceição: na verdade, fundamos a Sociedade para implementar essa idéia, responsabilizando-nos pela sua execução e pelo funcionamento da biblioteca, a Barca dos Livros, uma biblioteca itinerante, a bordo de uma barca, devido às características físico-geográficas e culturais da Lagoa: na segunda fase do projeto vamos adquirir uma barca para uso diário em nosso trabalho. Mas antes mesmo de inaugurarmos a sede-porto da Barca dos Livros, o que fizemos no dia 2 de fevereiro, algumas ações-eventos e outras atividades semanais já haviam marcado a presença da Sociedade em Florianópolis. Uma síntese das atividades desenvolvidas nos eventos Abril com Livros em 2005 e 2006 – palestras, debates, recitais de poesia, exposição de livros e os passeios na Barca dos Livros, também com contação de histórias – e nas Salas de Leitura, disponibilizando parte do nosso acervo, nas duas últimas Mostras de Cinema Infantil de Florianópolis, além de outras realizações permanentes, como as Leitura às Quintas, renderam-nos 10 páginas de relatório e o 2º lugar na 11ª edição do Concurso FNLIJ/Petrobrás: Os Melhores Programas de Incentivo à Leitura para Crianças e Jovens, em setembro passado, no Rio de Janeiro. Isto porque todos os nossos objetivos têm relação direta e estreita entre si e com o livro e a valorização da leitura. São eles: - desenvolver, isoladamente ou em conjunto com outras entidades, atividades culturais, sociais e educacionais formais ou informais visando à promoção do livro e da leitura;
- estruturar um núcleo de estudos, pesquisa e estímulo
à leitura;
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