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Poema

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...fui-me,
sem nem querer saber seus porquês,
sem nem lhe agradecer pelo bem que me
fez...
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PROVA DE FRANCÊS
(quase parlenda)
Maria do Rosário Longo Mortatti *
De passagem por minha terra natal, certa vez,
soube que lá vivia como camponês,
de olhos azuis por trás do pince-nez,
com um sorriso sempre cortês,
um solitário professor francês,
que, ao me ver, perguntou em confuso
português:
— Quem é essa mulher bonita?
Ter-lhe-ia ofuscado a visão, talvez,
o mesmo sol que abrasou sua tez?
Ou estes tórridos trópicos derreteram-lhe a
sensatez?
Mas não sei se por timidez,
ou por narcísea embriaguez,
fui-me, sem nem querer saber seus porquês,
sem nem lhe agradecer pelo bem que me fez:
ainda que em tardia primeira vez,
sem temer nenhum revés,
pude responder, com sentido e altivez,
àquela antiga pergunta da prova de francês:
— Je suis une belle femme!
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Maria do Rosário Longo Mortatti
é professora Livre-docente junto à
UNESP-Marília; coordenadora do Grupo de
Pesquisa "História do Ensino de Língua e
Literatura no Brasil"; autora de: Leitura,
literatura e escola: sobre a formação do gosto
(Martins Fontes); Em sobressaltos: formação de
professora (Ed. Unicamp); Os sentidos da
alfabetização (São Paulo- 1876/1994) (Ed.
Unesp); Educação e letramento (Ed. Unesp).
Escrito mais recente:
MORTATTI, Maria do Rosário Longo.
"Letrar é preciso, alfabetizar não basta
... mais?" In: SCHOLZE, Lia;
ROSING, Tânia (Org.). Teorias e
práticas de letramento.
Brasília:INEP; Passo Fundo: Editora da
UFPF, 2007, p. 155-168.
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