A
revolução tecnológica nos coloca um desafio
fundamental, ou seja, o de compreendermos que
estamos diante do surgimento de uma outra
cultura, que exige de nós uma adaptação nos
modos de ver, de ler, de pensar e de aprender.
Não se trata, portanto, de usar a tecnologia
como modo de expandirmos as antigas formas de
ensino-aprendizagem, ou termos a mídia na escola
como meio para amenizar o tédio do ensino, mas
trata-se de um modo radicalmente novo de
inserção da educação nos complexos processos de
comunicação da sociedade atual.
Reivindicar a presença da cultura audiovisual na
escola não é descartar a cultura letrada, mas
integrá-la, incentivando o diálogo profícuo
entre variados modos de construção do saber que
circulam entre nós. O livro, em vez de segregar
ou de se fechar em si mesmo, deve se integrar
neste novo processo de constituição do saber,
abrindo espaço para a realização das múltiplas
escrituras. Portanto, a transformação nos modos
como circula o saber é a questão fundamental na
atualidade, exigindo das gerações precedentes o
esforço para incorporar novos hábitos de
produção de conhecimento que escapam dos lugares
sagrados - o livro e a escola - que antes
continham e legitimavam o saber.
A escola precisa enfrentar e questionar a
profunda reorganização que vive o mundo das
linguagens e das escritas, reformulando a
obstinada identificação da leitura com o que se
refere somente ao livro. Hoje é imprescindível
levarmos em conta a pluralidade e
heterogeneidade de textos, relatos e escrituras
(orais, visuais, musicais, audiovisuais,
telemáticos) que circulam entre nós. Esta
atitude tem implicações políticas graves, à
medida que a exclusão social na
contemporaneidade passa, necessariamente, pelo
acesso das populações marginalizadas aos novos
modos de obter e gerar conhecimento. À medida
que as crianças mais abastadas entram em contato
com os aparatos tecnológicos no contexto da
família, a escola se constitui, em nossa
realidade social, especialmente para as crianças
pobres, o espaço privilegiado de acesso às novas
formas de conhecimento que a tecnologia
prefigura.
A
produção do conhecimento não dispensa a nossa
capacidade de dialogar com os aparatos
tecnológicos, incentivando as pessoas a
construírem, com eles, novas possibilidades de
usos, submetendo as máquinas ao nosso poder e
desejo de inventar outros jogos ainda não
revelados na prática. Trata-se, portanto, de
criarmos, por meio da educação, modos de
confronto com a experiência tecnológica,
colocando tanto educadores como educandos na
posição de se sentirem responsáveis por inventar
outras estratégias de interação na produção de
conhecimento. Isto significa dizer que a
educação mediada pela tecnologia é um jogo, pois
cada vez mais as máquinas se transformam em
aparatos para recuperarmos a dimensão lúdica na
produção do conhecimento, que é, de fato, também
trabalho. A relação jogo e trabalho no contexto
da tecnologia se transforma de modo radical.
A criança não teme a tecnologia porque para ela,
desde o princípio, os aparelhos são máquinas de
jogar, são brinquedos. No brincar a criança
inventa o jogo, cria sempre novos lances e
desafia a máquina experimentando com ousadia e
curiosidade os resultados que desencadeia. Já o
adulto não consegue a mesma descontração porque
a máquina, tomada como mediadora do trabalho
sério, perde todo o encantamento e a magia que a
criança é capaz de alcançar.
Cabe ao educador aprender esta postura com a
criança e construir junto com ela, sem deixar de
lado a sua experiência como adulto que vê o
mundo de uma determinada maneira, modos mais
criativos para enfrentarmos os desafios que a
tecnologia nos impõe. O confronto entre gerações
amplia o campo das experiências criadoras, pois
o saber da criança, em contato com o
conhecimento do adulto, configura um clima de
autêntica liberdade nos modos de ser, agir e
conhecer. Aprender a ver o mundo com outros
olhares, resgatando sua condição de diversidade,
é formar leitores de imagens que sabem dar um
sentido estético e ético ao modo como produzimos
conhecimento na contemporaneidade. Este é um dos
maiores desafios para a educação nos dias
atuais.