INTRODUÇÃO
Tais experiências desenvolviam-se, na maioria das
vezes, com adultos e utilizavam material impresso,
como livros ou cartilhas, produzidos pelos próprios
organizadores, como foi o caso do livro para adultos
utilizado pelo movimento “De Pé no Chão Também se
Aprende a Ler”, Campanha educacional implantada pela
Prefeitura do Natal em 23 de fevereiro de 1961, o
qual focalizava conteúdos pedagógicos articulados
com a vida e a realidade dos educandos, abordando
temáticas que se agrupavam em lições.
A Cartilha de Alfabetização de adultos foi criada
no âmbito de uma concepção libertadora de educação,
onde alfabetizar e conscientizar não se distinguiam,
estruturando-se a partir de grandes temas que
abordavam a realidade político-social local,
utilizando a linguagem/fala adulta, adequada ao
alfabetizando.
Pelo visto, as cartilhas são de uma mesma época,
em que o cenário histórico da América Latina
apresenta convergências e desdobramentos específicos
de cada região. A proposta metodológica das
cartilhas brasileiras reunia em síntese o sistema
Paulo Freire e a posição de Norma Porto Carreiro
Coelho e Josina Maria Lopes de Godoy, que, apesar de
apresentarem conflitos internos, “partiam da
conscientização do educando, do despertar de sua
consciência crítica, buscando um processo global de
politização” (GÓES, 1991, p. 133).
Os conteúdos das leituras eram trabalhados,
criando-se uma discussão com a linguagem
conscientizadora de Paulo Freire, estando implícita
(e explícita) em todo o processo de alfabetização
uma filosofia democrática da educação, que visava
despertar no homem a vivência participativa, o
espírito democrático, a compreensão de sua
responsabilidade na vida da nação. Assim, as lições
discutiam temas que orientavam para essa vivência,
para a formação de uma consciência política,
articulada com as reivindicações sociais.
Pelo visto, esse processo de alfabetização
ampliava-se para um processo de conscientização, que
além da escola, operava-se através da Praça de
Cultura (parque infantil, bibliotecas, jornal mural,
campo esportivo, fórum de debates), teatrinho do
Povo, Museu de Arte Popular Câmara Cascudo e
Congressos, que faziam parte de uma política
cultural globalizante, onde a cultura popular tinha
função desalienadora, constituindo-se instrumento de
libertação nacional. GÓES, Moacyr. De pé no chão também se aprende a ler: 1961-64: uma escola democrática. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1991. _____. "Cuba-Recife-Natal: ou o sonho de três cartilhas de alfabetização para mudar o mundo". Contexto & Educação. Revista de Educación em América y el Caribe. p. 45-64, jul/set. 1995.
RÓSA,
Ivoneide da C. Entrevista sobre a campanha De Pé
no Chão.
Natal,18 outubro 2002.
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