|
Artigo

voltar
menu revista 07 |
|
...
A apresentação das obras deve ser feita
paulatinamente aos alunos, e durante o processo o
professor pode fazer a comparação entre as
personagens principais da tira e da história em
narrativa,.... |
-
AS HISTÓRIAS
EM QUADRINHOS COMO INSTRUMENTOS DE ACESSO
-
AOS CLÁSSICOS
UNIVERSAIS DA LITERATURA
-
Silvana Ferreira
de Souza
(*)
As Histórias em Quadrinhos “...representam hoje,
no mundo inteiro, um meio de comunicação de massa de
grande penetração popular.” (VERGUEIRO, 2006, p. 7)
e todos nós “certamente aprendemos a ler a partir do
nosso contexto social” (MARTINS, p. 1988, p. 15).
Se em nossa sociedade atualmente existem as
Histórias em Quadrinhos, cabe a nós, educadores e
pesquisadores, fazermos uso deste meio de
comunicação que está presente em nosso cotidiano;
pois, segundo Anastasi, “nenhum signo cultural,
quando compreendido e adotado de um sentido,
permanece isolado: torna-se parte da unidade da
consciência verbalmente constituída”. (1965, p. 38)
É fazendo uso deste signo que nos propomos a
introduzir a leitura de alguns Clássicos da
Literatura e, a partir destes, desenvolver um
trabalho significativo de leitura com crianças do
Ensino Fundamental.
Para desenvolver esta proposta, focamos a
intertextualidade presente nas Histórias em
Quadrinhos da
“Turma da Mônica”, do brasileiro
Mauricio de Souza. Utilizamos, então, o termo
intertextualidade de acordo com Paulino, que afirma:
"As produções humanas, embora aparentemente
desconexas, encontram-se em constante inter-relação.
Na verdade, constrói-se uma grande rede, com o
trabalho de indivíduos e grupos onde os fios são
formados pelos bens culturais". (1995, p. 12)
Neste sentido, cada obra realizada pelo homem traz,
na sua essência, todo o bem cultural produzido pela
humanidade e do qual este indivíduo se apropriou
durante a vida, seja por meio da leitura, seja por
meio do cinema, seja por meio das Histórias em
Quadrinhos, etc.
O exemplo de leitura que podemos incentivar
utilizando as Histórias em Quadrinhos está nas
formas narrativas denominadas de “Narrativas
Maravilhosas” por
Nelly Novaes Coelho; sendo que
estas “decorrem no mundo da magia, da fantasia ou do
sonho, onde tudo escapa às limitações ou
contingências precárias da vida humana e onde tudo
se resolve por meios sobrenaturais” (1993, p. 154).
São classificadas como Narrativas Maravilhosas os
Contos de Fadas e os Contos Maravilhosos Árabes. O
primeiro tipo de conto é originário dos povos
celtas e visa a realização do interior do ser humano
com o auxílio da Fada, que encarna o mito
“realização dos sonhos ou ideais” pelo ser humano.
Já a forma Conto Maravilhoso foi difundida pelos
povos árabes e é um conjunto de narrativas
provenientes dos povos orientais, sendo que muitas
destas histórias estão reunidas no livro “As mil e
uma noites”. O objetivo destas obras é prover o ser
humano do lhe é necessário material e socialmente.
Para trabalhar os Contos de Fadas, o professor pode
não só utilizar-se deles, mas também oferecer às
crianças esta tirinha da Magali:

Em seguida, pode-se pedir que às crianças que leiam
a tira e tentem identificar a qual Conto de Fada
esta faz referência.
Sabendo a resposta, o professor pode fazer a
introdução de outros Contos de Fadas, que podem ser
lidos na Biblioteca da escola ou levados pelo
professor para a sala de aula. Os alunos poderão,
ainda, ler a mesma obra em duplas ou trios; ou ler
várias e diferentes obras de acordo com o acervo da
escola. Se as crianças não conhecerem a obra “João e
o Pé de Feijão”, aí está a chance de apresentá-la
aos seus alunos!
A apresentação das obras deve ser feita
paulatinamente aos alunos, e durante o processo o
professor pode fazer a comparação entre as
personagens principais da tira e da história em
narrativa, questionando-os sobre o que cada
personagem fez com os feijões que ganhou e
solicitando que os mesmos dêem sua opinião sobre
isso.
Durante a leitura dos
Contos de Fadas, o professor
pode chamar a atenção das crianças por meio de um
quadro ou tabela sobre quais características estas
obras possuem em comum, tais como: as personagens, o
cenário, o tempo, o elemento mágico da história,
etc; pedindo que as próprias crianças complementem
este quadro.
Outro trabalho possível neste âmbito refere-se à
autoria de contos; ou seja, identificando quais
foram escritos pelo francês Charles Perrault
(1628-1703) e pelos alemães Wilhelm (1786-1859) e
Jacob (1785-1863) Grimm, os conhecidos irmãos Grimm.
As crianças poderiam fazer dois quadros referentes
às histórias destes autores, chamando-se a atenção
para os costumes da época em que os
contos foram escritos.
Enfim, o trabalho com as Histórias em Quadrinhos e
os Clássicos da Literatura pode fazer-nos perceber a
cultura enquanto “processo intertextual, em que cada
produção humana dialoga necessariamente com as
outras.” (PAULINO, 1995, p. 13).
É a apropriação dessa cultura construída pela
humanidade e reconstruída de acordo com os
diferentes olhares da arte visual que queremos
propor aos educadores.
Esperamos que os mesmos façam uso dessas linguagens
para aproximar o considerado Literário com o que
está acessível a esta geração “tecnológica”.
Almejamos, pois, que os educadores possam construir
o seu próprio diálogo com as Histórias em Quadrinhos
e outros tipos de linguagens presentes atualmente em
nossa sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO,
Ricardo.
"Formação de leitores e razões para
literatura". In: Caminhos para a formação do leitor.
São Paulo: DCL, 2004.
ANASTASI,
Anne. "Diferenças devidas ao Sexo". In:
Psicologia Diferencial.
São Paulo: Edusp-Herder,
1965.
ECO,
Umberto.
Obra Aberta.
São Paulo: Perspectiva, 1968.
LAJOLO,
Marisa; Zilberman, Regina. Literatura
Infantil Brasileira.
3ª Edição. São Paulo: Ática, 1987.
MACHADO,
Ana Maria. Como e Por que Ler os Clássicos
Universais desde Cedo.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
MARTINS,
Maria Helena.
O que é Leitura?
8ª Edição. São Paulo: Brasiliense, 1988.
MAURICIO DE SOUSA PRODUÇÕES LTDA. Turma da Mônica,
[online].
Disponível: http://www.monica.com.br Acesso:
18/06/2007 – Tirinhas
PAULINO,
Graça, WALTY,
Ivete, CURY,
Maria Zilda. Intertextualidades: teoria e
prática.
Belo Horizonte: Lê, 1995.
SILVA,
Ezequiel Theodoro da. O ato de ler.
Fundamentos Psicológicos para uma Nova Pedagogia da
Leitura.
9 edição. São Paulo: Cortez, 2002.
_______________________ Unidades de Leitura.
Campinas: Autores Associados, 2003.
VERGUEIRO,
Waldomiro. "Uso das HQS no ensino". In: Como
usar as Histórias em Quadrinho na sala de aula.
São Paulo: Contexto, 2006.
ZILBERMAN,
Regina.
A Literatura Infantil na escola.
3ª Edição. São Paulo: Global, 1983.
_______________ Fim dos livros, fim dos leitores?
20ª Edição. São Paulo: CC, 2000.

*
Silvana Ferreira de Souza
é mestranda em Educação na Faculdade de Ciências e
Tecnologia da UNESP - Campi de Presidente
Prudente/SP; Professora do Ensino Fundamental na
“E.M. Prof. Jair Luis da Silva” em
Junqueirópolis/SP.
Leia
mais ensaios sobre leitura |