Entrevista

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.... Querem os livros raros para seu acervo, mas, infelizmente morrem e a cada dia o mercado de livros raros diminuem, ficando mais raro não o livro mas os compradores...

UMA LIVRARIA DIGITAL DE LIVROS RAROS
Entrevista com Luis Sérgio da Silveira

Luís Sérgio, conte um pouco da sua vida: onde nasceu, escola, formação e coisas assim.
Luis Sergio da Silveira,44 anos, brasileiro, natural do Rio de Janeiro, Belford-Roxo/Nova Aurora-Baixada Fluminense, moro atualmente em Juiz de Fora,Minas Gerais aonde exerço as minhas atividades profissionais. Licenciado em Filosofia(PUC-MG) com Pós-Graduação em Filosofia Moderna e Contemporânea(UFJF). Militante de Movimentos Sociais(Negro) e atualmente estamos construindo uma Biblioteca de Assuntos Afro-Brasileiros com mais de 4 mil livros e outros itens afins em Juiz de Fora e uma Biblioteca Comunitária em Belford-Roxo-Nova Aurora.

Como foi a sua aproximação com os livros? O que pesou mais no seu caso: escola ou família?
Lecionei por quase dez anos como contratado pelo estado de Minas Gerais (História, Filosofia, Sociologia, Ensino Religioso ) e em 1992, os contratos começaram a ficar mais difíceis e a briga por parte de professores incomodava muito e foi ai que resolvi largar a vida de professor e começar a trabalhar com venda de livros. Antes disso, o meu pai Luiz da Silveira que tinha só a quarta série primaria, mantinha uma grande paixão pela leitura e desenvolveu nas décadas de 1970 em convenio com o antigo MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) promoveu a alfabetização de vários moradores, crianças, jovens e adultos. Criou uma escolinha, aonde sem cobrar quaisquer centavos contribuiu para que muitas crianças aprendessem as primeiras lições e os adultos assinarem seu nome para receberem suas pensões. Na década seguinte, 1980, em convênio com a Fundação Educar, continuou proporcionando esta mesma lição de cidadania e trabalho em prol da educação de crianças, jovens e adultos. Combinou para as crianças e adolescentes o esporte como meio de fugir da marginalidade e na garantia de serem bons cidadãos, respeitando sempre os mais velhos e aos adultos, lições de cidadania, na orientação no voto consciente e responsável. Na escolinha de Futebol, só jogavam quem estava na escola e tirassem boas notas. Isto serviu para que todos os filhos(9) e vizinhos viessem a ter com ele aulas de reforço escolar. Eu, meu irmão e irmãs demos aulas nesta pequena escola de fundo de quintal. Acredito que o que influenciou mais neste longo caminho entorno do livro, foi a minha família. A minha mãe era uma grande leitora, às vezes vazava as noites sobre a luz de lamparina a querosene lendo.

Certamente que você deve ler para fazer o seu trabalho, mas queríamos saber se você ainda lê por prazer e quais os autores que lhe atraem mais hoje em dia.
A vida de Livreiro e Professor exige uma dedicação muito grande a leitura e principalmente na elaboração de conhecimentos diversos. Não é só ler, é preciso saber o que ler para que a leitura não fique somente como um passatempo. A leitura além de ser prazerosa deve deixar a sensação do poder fazer, concretizar o conhecimento adquirido e poder contribuir para uma mudança da realidade global. Conheço muita gente que lê, mas só fica nisso, ou seja, ler tem quer ser prazeroso e comprometedor. Deve ser muito chato e cansativo ter prazer sozinho. O prazer tem que ser compartilhado com o outro e um ato de amor e entrega, por este motivo o meu engajamento no trabalho com o livro. Os autores clássicos da literatura brasileira portuguesa - Jorge Amado, Lima Barreto, Clarisse Lispector, Edimilsom de Almeida Pereira e os da história, sociologia e filosofia.

O que levou ao surgimento da LIVRARTE DIGITAL? Informe ainda quando surgiu, onde fica, como é que vocês trabalham.
Comecei a trabalhar com livro na rua numa banca. Depois fui colocar o material dentro da Universidade, percorrendo as faculdades e comecei a ter contato com o computador. Vi que o mercado digital poderia servir de espaço para enviar mensagens e oferecer listas de livros. O meu trabalho era feito informalmente, não tinha loja e ainda não tenho, era mais um mascate do livro. Precisava ganhar credito na Internet, fazendo com que as pessoas acreditassem e confiassem em meu trabalho. No início mandava listas e fui percebendo que as listas irritavam as pessoas e era feito sem nome fantasia (empresa), foi quando juntei o nome Livro e Arte, mas como seria comum demais, resolvi juntar e trabalhar esteticamente o nome Livrarte e o digital por causa da Internet e ficou Livrartedigital. Trabalho num espaço de corredor na Universidade Federal de Juiz de Fora/ICH e com uma página -
http://br.geocities.com/livrartedigital  aonde estou sempre tentando fazer propaganda e deixando-a mais atrativa aos olhos do cliente amante do livro.

Uma curiosidade: tem muita gente no Brasil que procura por livros esgotados e/ou raros? Em caso positivo, qual os perfil dessas pessoas?
Muitas dessas pessoas são professores, estudantes de pós graduação (mestrado ou doutorado), pesquisadores, mais a maioria são bibliófilos. Querem os livros raros para seu acervo, mas, infelizmente morrem e a cada dia o mercado de livros raros diminuem, ficando mais raro não o livro mas os compradores.

Quando vocês não possuem um livro procurado por alguém vocês vão atrás dele até encontrar ou o acervo de ofertas é limitado? Explique bem e forneça os seus endereços para contactos dos leitores de Linha Mestra.
Estamos sempre procurando um bom acervo para comprar e atender os pedidos, mas atualmente está muito difícil encontrar um bom acervo. Infelizmente no Brasil ainda se queimam, estragam e se perdem muitos livros e nestes raros. A demora para atender um pedido se explica muito por causa destes fatores, ou seja, oferta de produto. Estou em Juiz de Fora e atendo por correspondência na Rua Dr. Luiz Antonio Vieira Pena,975 Mundo Novo - Juiz de Fora - Mg - 36026-300, na UFJF/ICH e na Internet -
http://br.geocities.com/livrartedigital/

Finalizando, você que trabalha com um tipo específico de livro, qual a imagem que faz da leitura no Brasil hoje em dia?
Trabalho com todos tipos de livros, mas selecionando-os de acordo com o seu estado de conservação, importância histórica e de venda. Hoje o livro tem crescido em algumas áreas de conhecimento e os procurados têm muito a ver com as buscas por concursos, monografias. O Brasil precisa incentivar mais a leitura, pois os grandes leitores estão morrendo.

Fica espaço aberto para você falar o que quiser, principalmente aquilo que esperava que perguntássemos e não o fizemos.
Agradeço a oportunidade de poder contribuir com este espaço de memória do livro e espero que continuem repercutindo iniciativas que já duram desde o século XII no Ocidente, de que temos informações. Somos milhares de livreiros alguns conhecidos com seus sebos e livrarias em seus espaços seja na Internet ou não, mas temos uma grande parcela de anônimos que movimenta o conhecimento a respeito do livro neste país.

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