-
Célia
Firmino
(*)
-
-
-
Há dez anos, trabalho como Assistente Técnico
Pedagógico em Português na Oficina Pedagógica -
Região de Andradina, com formação continuada de
professores de Língua Portuguesa, Professores
Coordenadores Pedagógicos e Diretores de Escola,
implementando políticas públicas de formação
continuada, tanto presencialmente quanto à
distância (por exemplo, Gestão Escolar, pela
Unicamp; TV na Escola e os desafios de Hoje,
pela UNESP -Bauru).
-
-
Com base nos indicadores externos de avaliação -
SARESP/SAEB/ENEM e demais políticas de
avaliação, os projetos elaborados por instâncias
públicas, por melhor que sejam as intenções e
qualidade, têm focado a leitura enfaticamente,
sem lograr porém avanços significativos em sala
de aula. Tivemos o "Ler e Viver" em parceria com
a Editora Moderna; o Tecendo Leituras de
iniciativa da SEE; o Hora da Leitura; o
Escrevendo o Futuro em parceira com o CENPC/Itaú
Social, o Ensino Médio em Rede. Além disso
tivemos até 2006, o Programa Teia do Saber: Ler
para Aprender.
-
-
Todos os projetos enfocando leitura e escrita
como competência de todas as áreas (o que já e
um avanço, pelo menos teoricamente), mas na
prática ainda é o professor de Português o
responsável direto pela leitura e escrita. Os
demais, embora a boa vontade, não sabem o que
fazer e como fazer para ensinar a ler História e
Geografia, por exemplo.
-
-
Embora os programas sejam excelentes em termos
de atualização, o êxito de tais projetos e
programas em sala de aula ainda não foi logrado
de forma satisfatória pelas constatações a
seguir:
-
-
o distanciamento desses projetos da realidade
das escolas públicas;
-
-
projetos focados em técnicas e métodos, sem a
preocupação com a formação de base teórica capaz
de subsidiar ao professor para a mudança de sua
própria prática e até para ele compreender o
porquê de tais propostas;
-
-
projetos distanciados das reais condições
intelectuais, teóricas e de recursos que
professor vivencia em seu cotidiano - cito aqui
a desatualização do professor e espaços
pedagógicos adequados para as discussões e
reflexões;
-
-
desconhecimento dos espaços reais de formação
que o sistema oferece em relação à demanda de
atualização necessária;
-
-
projetos sem articulação eficaz entre sala de
aula e teorias propostas; sem uma sistemática de
avaliação e acompanhamento de resultados
eficazes.
-
-
Todas
estas questões que inviabilizam o papel do
professor de protagonizar suas produções e
adequá-las a essa realidade para se converter em
mero executor de ações prontas e pensadas para
ele e não por ele - docente e responsável
fundamental pelas mudanças em sala de aula.
-
-
Há muito investimento em formação, porém os
resultados não são satisfatórios porque não se
pode transformar práticas sem que os conceitos e
a base teórica sejam repensados e
contextualizados. Não se trata apenas de mudança
de métodos e/ou didática, mas de concepções que
embasam a prática.
-
-
Há ainda há política do livro didático mal
resolvida por dificuldade de análise do
professor em relação à qualidade do que se
oferece aos alunos.
-
-
Tenho assistido a algumas aulas para melhor
fundamentar minha proposta de formação, trazendo
a sala de aula para os encontros de formação em
serviço, teorizando a prática, para que a
prática seja o reflexo de teorias que atendam ao
contexto da sociedade contemporânea e às
necessidades de aprendizagem articuladas às
condições de ensino.
-
-
As concepções de leitura e de escrita, na
prática, ainda se sustentam pela decodificação;
as concepções de gêneros textuais ainda não
foram compreendidas e, portanto, não se
compreende o que está subjacente às propostas
oferecidas aos professores. As concepções são
claramente anacrônicas, mas não se pode
simplesmente substituí-las, mas (re)
construí-las, (re)significá-las).
-
-
Como resultado, temos uma proporção
significativa de professores que querem estudar
e outra que resiste às mudanças, sobretudo os de
outras disciplinas que não a de Português, pelo
receio e desconfiança (bastante compreensível)
do novo, pela tradição de educação vinculada à
política o que gera a descontinuidade dos
melhores programas de formação.
-
-
Instaura-se aí a resistência porque não há
condições para a transposição didática na medida
em que não se compreende os contextos de origens
da teorias e das práticas e como articulá-las à
emergência da sociedade moderna.
-
-
Creio que meu relato de experiência - nesta
seção "retinas" - pode sugerir temas que,
de fato, alcancem o espaço da sala de aula. O
nosso investimento nos programas de formação
desse ano é a formação de grupos de estudos para
"re" discutir o ensino de Língua Portuguesa no
seus enfoques: oralidade, leitura e escrita,
gramática e os seus usos em sala de aula. E
somente a partir da construção de um consciência
teórica (a médio e longo prazo) viabilizarmos -
sem ilusões do imediatismo - condições para que
o professor seja o protagonista de sua produção
e prática reflexiva.
-
-
Criamos o GELP: Grupo de Estudos de Língua
Portuguesa. O Tema 2007 é: Aula de Português:
que espaço é esse? Por isso estou me associando
a ALB para nos fortalecermos enquanto grupo (em
média 200 professores envolvidos) para garantir
um mínimo de participação em discussões mais
amplas, atualizações necessárias e, sobretudo,
melhorar o ensino de leitura e escrita em sala
de aula.
-
-
Criamos também o Clube de Leitura para
professores, otimizando a Biblioteca do
Professor, um acervo enviado pelo MEC; inserimos
alunos de Graduação em Letras para participarem
dos encontros com professores da Rede Pública -
uma experiência enriquecedora; e num futuro
próximo vivenciar experiências de sala de aula
mais significativas.
-
-
Estamos em vias de execução de um Projeto de
Extensão "Rodas de Leitura; uma proposta de
leiturização social (inscrito no COLE)
articulando capacidades de leitura, concepções
de leitura organização didática das rodas de
leitura com extensão na comunidade, aplicando as
idéias de Foucambert sobre leiturização na luta
contra o analfabetismo funcional.
-
(*)
Célia Firmino. Especialista
em Língua Portuguesa (UFMS). Mestre em Estudos
Literários (UFMS). Especialista em Gestão
Escolar (UNICAMP). Professora da Rede Pública do
Estado de São Paulo. Assistente Técnico
Pedagógico de Português. Professora de Ensino
Superior.
-