Uma idéia me
persegue desde a infância: a do aparecimento de um
gênio da lâmpada mágica que me oferece o direito a
três pedidos. Talvez a culpa seja da série Jeannie é
um Gênio e de todos aqueles desenhos animados que
tanto animavam minhas solitárias tardes em frente à
TV na infância — uso óculos desde os 5 anos de idade
e não era sempre que as crianças da rua queriam a
companhia da menina “quatro-olhos”. O engraçado é
que, a cada época da minha vida, os três pedidos
acompanharam meu crescimento, tanto físico quanto
intelectual. Nunca deixei de listá-los mentalmente,
quase como um ato lúdico, uma terapia brincalhona,
principalmente naquelas horas em que a cabeça está
tão cheia que a gente busca algo para não pensar ou
quando se quer afastar algum sentimento ruim, uma
raiva qualquer, uma frustração. “Ah, é assim? Pois
se eu tivesse direito a três pedidos mágicos eu
resolveria isso...”Há os três pedidos que surgem de um estalo, como um susto, e outros bem mais elaborados. Conforme fui acumulando aniversários, os desejos acompanharam a tal “maturidade” — se é que desenvolver um tipo de comportamento desse possa ser visto como algo “maduro”. Quatro décadas de vida depois, o gênio da lâmpada mágica parece ter acompanhado a minha “evolução”, por mais risível que o conceito possa ser. Na adolescência, quando a aparência importa muito, quando uma simples espinha na testa impede que se aproveite a balada, os pedidos sempre iam na direção da estética. Meu gênio imaginário deve ter se cansado das tantas vezes que pedi para ser bonita... Sempre achei que o dom da beleza abriria portas e me desvendaria mundos até então proibidos. Outro pedido: ter um namorado, qualquer um que fosse, o importante era não estar sozinha. E mais um, o terceiro e derradeiro: conseguir realizar o sonho de ser jornalista. Nenhum gênio à vista — e toquei a vida adiante. Na faculdade, prestes a virar jornalista e muitos namorados depois — e já não tão preocupada com os padrões estéticos — os desejos eram mais relacionados ao futuro, profissional e pessoal. Conseguir um bom emprego, ser reconhecida pelos meus textos, amar e ser amada, ser uma boa pessoa... mais egocentrismo, impossível. Tudo girava em torno de mim, eu era o centro do meu próprio universo, com a arrogância típica da juventude. Atitude que, hoje, tardiamente, sei que afastou muitos amigos e oportunidades profissionais. Os anos passaram,
alguns bons empregos vieram e outros se foram, um
sólido e feliz casamento me espera em casa há mais
de uma década e a questão estética foi trocada pela
busca da qualidade de vida. Tomei importantes
decisões como não mais contaminar o meu corpo com
fumaças e afins e busco atitudes saudáveis para
poder viver em paz e em harmonia. Optei por acordar
cedo, orar a Deus, agradecer por cada dia que nasce,
sem depender de nenhuma mágica para viver melhor.Em um momento como esse, pensando no que pediria hoje ao gênio da lâmpada maravilhosa, vêm à mente questões que não envolvem mais o universo ao meu redor. São pedidos que ultrapassam a pequenez da existência. Pediria para as pessoas serem mais gentis. Para exercitarem a educação. Para tratarem o próximo como gostariam de ser tratadas, tanto no universo pessoal quanto no profissional. Com tantas teorias a respeito de gestão de pessoas, é inconcebível que ainda haja tanto sofrimento e desesperança no ambiente de trabalho. É triste também ver famílias separadas por paredes, onde cada um vive a seu modo, com a sua própria TV, sem se importar com o outro. É comovente a solidão a dois de alguns casais que nem se olham mais nos olhos. Causa estranhamento entrar em um café desses mais descolados na Rua Oscar Freire, em São Paulo, e observar as mesas: cada freqüentador com seu laptop, com o olhar vidrado na tela e ninguém para conversar ao vivo. Por isso, transformarei os três desejos em um e peço ao gênio um upgrade — para usar uma linguagem moderna — nas relações humanas. E só. |
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