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o pátio escolar deve ser pensado e
organizado estrategicamente de forma que
possibilite diversidade de atividades e
contribua para a qualidade de vida das
crianças. |
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ESPAÇO DE INTERAÇÃO
Alex Sander Alcântara
FONTE: FAPESP
O pátio escolar, espaço essencial para o
desenvolvimento infantil, freqüentemente
corresponde às áreas subutilizadas dos terrenos
das escolas, em vez de se caracterizar como um
local organizado para a interação entre as
crianças. É o que conclui um estudo realizado em
Natal (RN) com o objetivo de compreender os
diferentes tipos de relações infantis
estabelecidas com o ambiente escolar.
Partindo de um universo de 200 crianças de 3 a 7
anos, o estudo fez uma análise minuciosa da
interação entre elas durante o recreio e da
utilização de várias áreas de um pátio escolar
da cidade. Os resultados foram publicados na
Revista
Paideia, da Faculdade de Filosofia
Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), da
Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisa, que correspondeu ao mestrado de
Odara de Sá Fernandes no Núcleo de Educação
Infantil (NEI) da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), na área de psicologia,
foi orientada por Gleice Azambuja Elali,
professora do Departamento de Arquitetura e
Urbanismo e diretora do Laboratório e Ateliê de
Projetos de Interiores da UFRN.
O estudo alerta para a necessidade de uma maior
atenção para organização e planejamento do pátio
escolar. “O pátio escolar se torna somente
aquela área que ‘sobrou’ da construção do prédio
e não se pensa como organizar esse espaço e qual
é seu verdadeiro objetivo. É preciso refletir
sobre os diversos aspectos do pátio, como
tamanho, tipo e quantidade de brinquedos,
presença da natureza, entre outros, que podem
contribuir de forma importante para o
desenvolvimento das crianças”, disse Odara à
Agência FAPESP.
De acordo com a pesquisa, o pátio escolar deve
ser pensado e organizado estrategicamente de
forma que possibilite diversidade de atividades
e contribua para a qualidade de vida das
crianças. Os resultados apontaram que
brincadeiras em grupo foram predominantes em
áreas com equipamentos de múltiplas utilidades e
que houve diferenças na utilização dos espaços
em relação ao gênero e idade das crianças.

Odara explica que o pátio escolar foi escolhido
porque, com o crescimento das cidades e da
violência urbana, o pátio se tornou o lugar
preferencial onde as crianças podem brincar,
socializar-se e interagir com a natureza.
“Pensar sobre essas áreas pode contribuir para
sua melhor organização de maneira a favorecer as
interações entre crianças, já que no período
escolar a socialização começa a se apresentar
como forte elemento para o desenvolvimento
humano”, disse
O estudo indicou os principais fatores que podem
interferir na atividade lúdica da criança: o
tamanho do pátio, a densidade física, a
quantidade e o tipo de brinquedo disponível, o
gênero e a idade das crianças e a presença da
natureza. De acordo com Odara, o estudo mostra
que não basta apenas ter o espaço para a criança
brincar, mas é importante, sobretudo, pensar a
forma como esse espaço é disposto.
“A fim de contribuir para o processo de
desenvolvimento infantil, a organização do pátio
deve se basear principalmente em oferecer
atividades diversificadas, equipamentos
múltiplos, áreas livres, locais para leitura e
conversas, espaços esportivos, alternativas para
brincadeiras individuais ou em grupos, além do
contato com a natureza”, defendeu o pesquisador.
Segundo o estudo, quando as crianças não são
ouvidas e não participam do planejamento do
pátio, corre-se o risco de restringir a
potencialidade de uso desses locais. A pesquisa
observou individualmente a movimentação de
alunos pelo pátio de uma escola ligada à UFRN
durante os horários de recreio pela manhã e à
tarde.
As análises traçaram o percurso que as crianças
faziam livremente no espaço disponível. De
acordo com Odara, as diversas trajetórias
realizadas por cada criança compõem mapeamentos
conjuntos, a partir dos quais é possível fazer
inferências sobre a relação criança-ambiente.
“Os resultados revelaram que brincadeiras em
grupo foram predominantes, ocorrendo,
preferencialmente, em algumas áreas equipamentos
de múltiplas utilidades, quadra de esportes e
grande área livre e sombreada. Ao avaliar o
percurso realizado pelas crianças notamos a
utilização de diversas áreas, mas com um fluxo
maior sendo direcionado aos pátios de areia e
aos equipamentos multifuncionais”, afirmou.
Em relação ao gênero, o estudo mostrou que os
meninos utilizam um maior número de áreas dos
pátios, explorando-as e desenvolvendo uma maior
variedade de atividades. Jogam futebol, usam
carrinhos, brinquedo múltiplo, casinha e brincam
de animais, enquanto as meninas permanecem mais
tempo brincando na casinha e na areia. Além
disso, elas permanecem em locais mais próximos
às professoras e recorrem mais a essas do que os
meninos.
De acordo com Odara, diversos autores vêm
buscando compreender as diferenças entre os
gêneros desde a infância. Os grupos de meninos
se separavam com mais freqüência do que os das
meninas, “o que talvez explique o fato de eles
desenvolverem muitas atividades, pois
constantemente trocam de grupos e de
brincadeiras”, declarou.
“Já as meninas permanecem em grupos mais
consolidados e dedicam-se mais tempo à mesma
atividade. Outros estudos corroboram esses
dados, justificando que as meninas buscam um
comportamento mais cooperativo dentro do grupo,
enquanto os meninos demonstram ser mais
individualistas, favorecendo a mudança de grupo
quando suas necessidades não são supridas”,
acrescentou.

Além do gênero, segundo Odara, o turno se
mostrou outro influenciador dos percursos
escolhidos pelas crianças. “A insolação direta
dos espaços pode ser um dos elementos que
influenciam as diferenças nos caminhos e áreas
em uso nos dois turnos. Pela manhã, por exemplo,
o setor de playground do pátio é mais utilizado
do que à tarde, quando as crianças se concentram
mais nos locais cobertos e na quadra de
futebol”, declarou.
Segundo o estudo, a idade também influenciou os
percursos e atividades. As crianças de 3 anos
apresentam uma atitude mais exploratória, usando
várias áreas do pátio, mantendo-se, contudo, ao
alcance visual do adulto presente. O estudo
apontou que, “com o aumento da idade, a
atividade exploratória diminui, enquanto a
independência com relação ao adulto aumenta”.
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