| SINOPSE Neste X Seminário teremos a oportunidade de discutir alguns dos problemas relacionados à valorização das bibliotecas e dos serviços prestados à população de modo geral. Soluções para esses problemas já foram recomendadas em diversos congressos e seminários, mas não receberam atenção necessária. Nossa intenção é promover um amplo debate para buscarmos formas de impactar os órgãos competentes em busca de um futuro mais esperançoso para as bibliotecas. Serão temas de discussão: a) falta de obrigatoriedade da existência da biblioteca escolar, b) a ineficiência das bibliotecas escolares na formação do leitor e usuário de outras bibliotecas, como públicas e universitárias, c) a falta de leitores nas bibliotecas, d) o despreparo dos usuários na utilização das bibliotecas públicas e universitárias, e) a desvalorização e a falta de incentivo das bibliotecas pelos governos em todas as esferas e as suas conseqüências, f) políticas públicas para as bibliotecas escolares e públicas, g) uma nova concepção de biblioteca e de bibliotecário devido às exigências das novas tecnologias.
TEXTO BASE Para podermos vislumbrar um melhor desempenho das bibliotecas, cada dia mais necessárias, porém nem sempre mais eficientes, precisamos tratar sistematicamente as armadilhas que atrapalham o seu funcionamento. Esses entraves podem ser divididos, de forma geral, em três grupos.
O primeiro grupo está relacionado com a questão da falta de usuários, da ineficiência e da não-exigência da biblioteca nas escolas de ensino infantil, fundamental e médio. Faltam leitores em todos os tipos de biblioteca e um dos fatores responsáveis por essa tragédia é o seu funcionamento precário. Reside justamente nesse ponto uma das armadilhas mais perversas para a área: o fato de descobrirmos que a escola não precisa de biblioteca. Apesar desta constatação ser lamentável, reconhecê-la como objetiva pode nos ajudar a tirar as bibliotecas escolares do estado de inércia que se apresenta há décadas.
A utilização da biblioteca escolar é um processo educativo e pedagógico, que deveria ser de grande necessidade na escola, pois é através dela que o aluno irá ampliar o seu universo de leitura, conhecer materiais diferentes do livro didático, complementar seus estudos, buscar informações, pesquisar e aprender a necessidade do uso de uma biblioteca. E é nesse espaço que o aluno experimentará e exercitará sua autonomia na leitura, e é aqui que a contradição fica latente, pois a escola trabalha com leitura e escrita e funciona sem biblioteca.
O mais interessante é observar que essa regra não é para todas as escolas, visto que para as universidades, que nada mais são do que escolas de terceiro grau, a regra é totalmente modificada. As universidades sérias não existem sem bibliotecas, sendo avaliadas também por este quesito, além de exigirem a presença do profissional bibliotecário para exercer a função de gestor. Por que a exigência se restringe às universidades? Então, como acontece o ensino e desenvolvimento da leitura e a formação do leitor nas demais escolas de educação infantil, fundamental e médio? No que elas diferem das escolas universitárias? Por que para esses tipos de escolas não é necessário nem a biblioteca e nem o bibliotecário? Por que essas escolas sofrem com o descaso, se é exatamente nelas que se inicia o trabalho com leitura e escrita e o momento apropriado para o uso da biblioteca? Por que a biblioteca escolar ainda não é necessária na escola? O que será preciso fazer para mudarmos essa concepção?
Sabemos que se por um lado a biblioteca escolar ainda não é necessária na escola, por outro lado, de vez em quando os alunos são “obrigados” a freqüentá-la por exigência dos professores nas execuções de suas tarefas escolares. É nesse momento que identificamos um outro tipo de entrave, que é o desconhecimento, a falta de intimidade e de autonomia do leitor no uso da biblioteca. Esses problemas também irão se manifestar quando o aluno se dirigir para a utilização da biblioteca pública e universitária. Nesse momento ele terá de aprender a utilizá-la quase que á força, quando essa aprendizagem poderia ser processual, pedagógica e sedutora. O que vemos nas bibliotecas públicas e universitárias é que os alunos chegam sem ter noção do que há dentro daquele espaço cheio de estantes, como e o que podem usufruir dela, assim como quais os serviços que ela presta, fazendo pouco proveito do seu uso. Essa realidade muitas vezes ao invés de educar afasta o usuário da biblioteca, pois sem saber usá-la, sem um tipo de orientação de como utilizá-la, ele sente que sua necessidade não foi atendida.
Outras pessoas nem chegam a conhecer os encantos de uma biblioteca por conta da idéia desmotivada, errada e disseminada na escola e pela escola, de que não é preciso utilizar a biblioteca para o auxílio da leitura e escrita, e que a sala de aula e o livro didático já bastam.
Em decorrência desse fato sofrem do mesmo minguado número de leitores as bibliotecas públicas, comunitárias e universitárias. Uma coisa é o usuário que procura a biblioteca para desenvolver suas tarefas escolares, outra coisa é o usuário que é leitor voraz ou iniciante, alguém interessado que vê a biblioteca como fonte de acesso à informação.
Um segundo grupo importante de “armadilhas” identificadas nas bibliotecas é a falta de reconhecimento, valorização e investimentos nas bibliotecas pelos governos em todas as esferas públicas. A biblioteca é um espaço democrático onde todos podem ter acesso à informação gratuitamente, e onde podem ampliar e exercer sua cidadania. Porém, poucas autoridades e governantes dão importância a esse fato. Ainda presenciamos atitudes que ilustram a antiga expressão “biblioteca não dá voto”, enquanto esperamos investimentos e valorização para a área. Vemos algumas boas intenções e incentivos nesse sentido, mas ainda muito insignificantes e insuficientes, levando em conta o tamanho do nosso país.
Hoje, ainda existem municípios que não possuem biblioteca pública ou comunitária, o que representa um entrave enorme para a leitura e para o fortalecimento das bibliotecas. O acesso aos materiais impressos em papel ou através das novas tecnologias é de extrema importância, visto que o preço de livros, revistas, jornais e demais materiais existentes na biblioteca não cabe no orçamento da grande maioria da população brasileira. Se entendermos que esses materiais devem circular entre o maior número de pessoas possível, sendo oferecidos a todos os cidadãos, a biblioteca pública é a instituição indicada e responsável por isto.
Se por um lado observamos a falta de incentivo dos governos na questão da leitura e bibliotecas, por outro lado vemos hoje iniciativas interessantes de empresas particulares implementando e assumindo programas e projetos de leitura e incentivos a bibliotecas em todo o país.
Na realidade, os problemas relacionados às bibliotecas escolares, públicas, universitárias e comunitárias não apresentam originalidade nenhuma há décadas e décadas. Na maioria das vezes, faltam recursos humanos, acervo atualizado, equipamentos, informatização, mobiliário, espaço físico, investimento e principalmente interesse em proporcionar aos cidadãos um serviço de qualidade e eficiente. Esse descaso representa uma das armadilhas fundamentais que atrasam o desenvolvimento das bibliotecas no país. Reconhecer a persistência ou a dificuldade das Bibliotecas Públicas cumprirem minimamente, com seus tão nobres objetivos, parece uma característica, um fardo, uma maldição, coisa do destino. Isso é uma armadilha e merece discussão.
Um terceiro grupo de entraves ao crescimento e desenvolvimento das bibliotecas tem a ver com a concepção e as formas de gestão das bibliotecas. Não podemos esquecer que a valorização e o avanço da biblioteca tem ampla relação com sua função social, cultural e educacional, com os serviços que ela presta e com o tipo de profissional que está a sua frente. Faz-se necessário repensar uma nova estrutura de biblioteca e bibliotecário, tendo em vista a quantidade de informação que temos disponíveis hoje em função das novas tecnologias. O mundo está pedindo uma nova concepção de biblioteca e de bibliotecário e não há possibilidade de ela sobreviver dentro da visão de “armazenadora” e “emprestadora” de livros. A biblioteca virtual é uma realidade e precisamos atentar a isso com bastante urgência. O que as bibliotecas precisam fazer para se tornarem, de fato, centros de informação?
Enfim, existem outros tipos de “armadilhas” que atrapalham a valorização das bibliotecas e dos benefícios que ela poderia estar oferecendo aos seus usuários. A intenção deste X Seminário sobre bibliotecas não é esgotá-las, mas sim desencadear discussões, buscando soluções para tentar, se não quebrar as armadilhas, pelo menos entortá-las, propondo um futuro mais esperançoso para as bibliotecas.
PROGRAMA
11 de julho (quarta feira)
Palestra: "Cidadania Cultural: a importância e a necessidade de bibliotecas escolares e públicas" - Ezequiel Theodoro da Silva (ALB)
Local: Auditório da Biblioteca Central

Palestra: "Tecnologias da informação e comunicação no processo educacional : novas estratégias para novos desafios" - Renate Landshoff (FESP-SP)
Local: Auditório da Biblioteca Central

12 de julho (quinta feira)
Mesa redonda: "Políticas públicas de leitura e bibliotecas públicas, escolares no país"- Eliane Pszczol (PROLER); Representante (PNBE- MEC); Ilce Cavalcanti (SNBP-FBN); Marilucia Bernardi (CRB-8). Coordenação Glaucia M. Mollo
Local: Auditório da Biblioteca Central


13 de julho (sexta feira)
Síntese das Discussões e Avaliação
Local: Centro de Convenções - Auditório II
SÍNTESE DO SEMINÁRIO

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