I Seminário "Escritas, Imagens |
| SINOPSE Imagens, sons e silêncios, expressões incorpóreas no jogo de poder e controle em que memória, esquecimento e ausência de significação têm sido máquinas de guerra que, sem síntese, roubam dos sujeitos e das coisas mundanos os sentidos de existência. Signos de escritas sem identidades e sem diferenças: provocação do diferir como criação em devir, em desassossego, em desconstrução. Este Seminário inaugura-se no Congresso de Leitura do Brasil entre desejos de ser espaço para os encontros com criações audiovisuais em suas multifacetadas potencialidades de percepção, afetos e expressão. Pretende constituir-se como um tempo em fragmentos, superfície e camadas, para a aglutinação e dispersão dos efeitos das rachaduras e fluxos que ao incidirem no meio da linha que captura Educação e Culturas, deixam vazar e transbordar alternativas à vida, anárquica, institucionalizada, puro acontecimento e liberdade. É um convite a sentir o avesso (ou desmoronamento?) dos discursos que se (a)firmam na utilidade dos conhecimentos e na capacidade de transformação que com eles transcende. A quem se destina? Aos que pensam o mundo como experimentação, deserto inabitado e pulsão errante de resistir. Aos que inventam a realidade nos entre espaços das escritas e das imagens e, ao meio, deixam-na correr e fugir do controle, da disciplina e das armadilhas da significação. TEXTO BASE A sala está vazia em um circular espaço cujo vento espiralado das lembranças jorra as marcas do habitado pela janela. Fechamos a janela, deixando uma pequena fresta, para o zumbir do vento. A sala está vazia em um redemoinho ventilador de teto, ligado, acesa a luz há não sabemos quanto tempo. A sala está vazia em uma densidade luminosa, coloridas luzes que escapam da multidão da cidade e apagam as cores ocres da pintura da parede. Um texto sobre a sala ou uma sala que irrompe do texto? Base? O vazio da sala reverbera com as marcas, invisíveis, dos objetos que ocuparam, alguma vez, aquele espaço. Cortinas, cadeiras, porta-retratos, mesas, cristaleiras e rádio. Sim, teria havido ou haverá um rádio, é possível escutá-lo ainda ou já. Os sons, as luzes, o movimento de deixar a sala invadida pelo vazio não são suficientemente fortes para esquecê-la como relicário de objetos. Clik! Clik? Clik... Estamos em uma dobra do círculo-sala e adormecemos ali onde haveria uma espreguiçadeira e almofadas bordadas a mão. Rendas delicadas que não suportam ser tocadas, porque se rompem com facilidade ou nos enroscam os dedos, armadilhas enredadas. Base da renda que desbasta, não bastando ao texto. Escreve-se o texto-base inscrevendo-se nesta renda? Invenção. A sala dobra-se sobre nós, manto-colcha-armadura. Sentimo-nos bem, nesta carapaça do vazio. Alguém tirou uma foto, ouvimos o som do rolo do filme e mais um click. Mas está escuro, o que querem fotografar sem flash? Adormecemos ali onde haveria uma espreguiçadeira, movente camelo no deserto. Faz calor, muito calor, e, agora, frio, venta, e sentimos a brisa de um suspiro. Frio-quente-frio-quente. Delirantes arrepios. Paramos. Texto-base. Base-texto. Que texto? Qual base? Paramos. Delirantes arrepios. Continuamos parados. Não saímos da sala ou ainda não chegamos até ela ou nunca conseguimos nela entrar ou ... E esta pintura plástica, borrão emoldurado, sem nitidez. E estas cartas que não cessam de chegar. E estas palavras que insistem em não ser pronunciadas. Nada mais te prende aqui, dinheiro, grades ou palavras. Arrepios. Delirantes paradas. E, nós, adormecemos ali onde haveria uma espreguiçadeira, resíduo inabitado. As armadilhas, armaduras, máquinas de guerra que são fugas e escapes que permitem a existência, longe das relações de poder e na ruptura, mesmo que a-significante, do controle social, encontrarão, neste Seminário, um plano de pensamento conjunto às imagens do cinema, da fotografia, das video-instalações, perpassadas por escritas da memória, do grafite, das narrativas e das tecnologias. Os trabalhos para comporem as sessões de comunicação podem extrapolar as formas escritas predominantes, e apostarem sua expressão em linguagens múltiplas, criativas e (des)construtoras. São muito bem vindos trabalhos que se arrisquem em criações poéticas, estéticas e inventivas, ao produzirem conexões entre imagens e palavras escritas. Na companhia de nossos convidados deste I Seminário, apreciaremos produções de curta-metragens do/por olhos d’água, grupo de criação do Laboratório de Estudos Audiovisuais-OLHO (FE/Unicamp), com os quais imaginaremos cenografias da memória. Conheceremos o projeto Metabiótica, de Alexandre Orion, que, segundo o artista multimídia “trata-se de uma armadilha visual por excelência. Entender o processo é desarmá-lo, é tornar-se cúmplice do autor. Por outro lado, a fotografia é a armadilha na qual a pintura deixa de ser pintura”. Com os pesquisadores do Projeto “Biotecnologias de Rua”, as imagens, sons e ritmos da cidade invadirão as intenções de divulgar ciência para a sociedade, entre-espaço de relações de poder e resistência. Na interação com o trabalho de David Martin-Jones, as imagens do cinema de arte e comercial pulsarão com conceitos de Gilles Deleuze em um plano de pensamento social e político para o qual as identidades e narrativas são lógicas que inscrevem sentidos violentos.
PROGRAMA 11 de julho (quarta feira) Abertura do Seminário “Cenografias do Presente – Interpretações sobre o Brasil" Curtas-metragens produzidos por olhos d’água, grupo de criação do Laboratório de Estudos Audiovisuais-OLHO (FE/Unicamp): Milton José de Almeida (Unicamp-SP), Acir Dias (Unioeste-PR), Alan Victor Pimenta (Unicamp-SP), Maria do Céu Diel (UFMG-BH), Adilson Nascimento (Unicamp-SP) “Quando bios e tecnologias pretendem-se espalhadas pelas ruas”
Conferência “Deleuze, cinema e identidade nacional” “Encontro com Alexandre Orion” (Artista Multimídia, formado em Artes Visuais) www.alexandreorion.com . Coordenação: Elenise Cristina Pires de Andrade 13 de julho (sexta feira) Síntese das Discussões e Avaliação |